Conhecido no mundo do hóquei patinado por Joca, (o seu verdadeiro nome, é Óscar Alves) o técnico axadrezado é realmente um homem do hóquei. Acompanha-mo-lo numa viagem pelo mundo tão bem conhece, porque mais que entrevista, esta peça é uma verdadeira viagem.
Venham daí.
Quem é então, o Joca, como hoquista?
Comecei muito cedo, para aí com oito anos nas escolinhas do Infante Sagres. Continuei no Infante em Infantis e Iniciados. No segundo ano de Iniciados entro nos trabalhos das selecções e no ano seguinte, vou ara o FC Porto. Jogo no Porto até ao meu último ano de júnior e a seguir passei para o Gulpilhares. Nessa época a equipa do Gulpilhares que tinha subida da terceira para a segunda divisão, mas que tinha vontade de construir um plantel muito forte, para atacar a subida à primeira divisão.
O DESPORTISTA
O que acabou por acontecer. Fazia parte da equipa?
Sim, fazia parte da equipa que atingiu esse objectivo.
Joguei um ano em Fânzeres e depois parei uns tempos. Passado uns tempos, apareceu-me um projecto muito engraçado com o Pasteleira, com um grupo de amigos, já com mais idade e que pensou jogar na terceira divisão.
Esta era uma equipa formada com jogadores que já não jogavam há muito mas que era fortíssima e com ela subimos à segunda divisão. Fizemos uma grande prova na segunda divisão e nesse ano o campeonato estava dividido em duas zonas e no final, os primeiros lutavam para subir à primeira e os outros cruzavam com o sul para ver quem descia. Ficamos em segundo lugar! Não tínhamos condições para dar um passo desse entrar na primeira divisão e paramos. Passei para o Fluvial e um ano depois parei por opção.
O BOAVISTA FC
Mas por pouco tempo…
Sim porque nesse ano… apareceu-me o Boavista! Com um projecto muito engraçado.
Quem e como começou esse projecto?
Quem me procurou e me disseram estar a liderar esse projecto, era um ex-atleta meu que er o Egídio. Deram-me a conhecer a base desse projecto e disseram-me que procuravam um treinador que tivesse estado, no passado, ligado a projectos do género. No início, sou-lhe sincero, pensei que isto não teria pernas para andar, porque eles não tinham a noção das necessidades e dificuldades, para levar em frente um projecto desta dimensão e deste género. Respondi-lhes com a apresentação da lista que eu achava indispensável para aquele projecto e esperei pela resposta, mas sem grande esperança, repito.
Mas parece que se enganou! Porquê? O que aconteceu?
Passado cerca de um mês, ligaram-me dizendo que tudo estava conseguido e perguntando se estava, então disponível. Achei estranho, muito estranho, honestamente. O grupo foi falar com o Presidente, que disse estar interessado e as coisas foram-se fazendo, devagarinho, com alguma cadência, fomos conseguindo jogadores, de vários sítios e alguns deles nem sequer conhecia. Começamos os trabalhos e aos poucos esses jogadores que jogavam pouco nos clubes a que pertenciam, têm vindo acrescer aos poucos, mas precisam de trabalho.
A sua missão neste projecto era ser somente treinador, mas eu sei que a situação se alterou e voltou o Joca jogador. Que aconteceu para esse regresso do Joca?
Eles convenceram, isto inicialmente começou como uma brincadeira. Nos treinos havia um ou outro que faltava, outras vezes era preciso mais um jogador para fazer a parte que faltava e eu não ia permitir que o treino ficasse manco por falta de um. Comecei a fazer um ou outro treino com eles e já no ano passado eles me tinham pedido para jogar com eles. Sempre fui renitente e disse sempre que não, justificando-me com a idade, que eles são muito mais jovens que eu, depois porque como não estava a treinar, não me apresentava numa forma capaz para jogar ao lado deles, etc… eles foram teimando e chegando a Janeiro eu comecei a ponderar, se fazia sentido eu jogar com eles. Depois de muito pensar e de falar muito abertamente com eles… acabei por aceitar. o convite que me fizeram.
Foram os jogadores que o convocaram e não o treinador que foi “buscar” um novo jogador?
Exactamente, foram eles que me foram buscar e convenceram e estou a gostar da experiência.
Na companhia do Director Morais Gomes |
O HÓQUEI ACTUAL
O Director do departamento, disse-me há pouco, que para o ano pondera entrar só no campeonato regional em detrimento do Nacional. Quer explicar as razões?
O hóquei está numa fase muito complicada, estamos numa fase de carência total da modalidade e dou-lhe o exemplo, mais caricato, do momento. O Física de Torres Vedras, que está no quarto lugar da primeira divisão, não vai jogar aos Açores. Uma deslocação aos Açores custam seis mil euros, quem a paga é o Instituto Desporto de Portugal. O IDP, por sua vez, vem dizer que tem problemas de pessoal para processamento desses pagamentos, consequentemente, os pagamentos arrastam-se por cerca de ano, enquanto uma equipa pode ter três/quatro vezes à Madeira e Açores, sem receber qualquer verba do IDP. Resultado, as equipas deixam de ir a esses jogos e a imagem do hóquei começa a cair.
No caso do Boavista?
No nosso caso, ponderamos sobre o assunto e verificamos que o chamado Campeonato nacional da terceira divisão, mais não é, que um grupo de seis equipas e obriga (pelo nome) a grandes despesas. Este campeonato, chamado regional tem muito mais equipas e é mais competitivo e os custos são muito menores. No momento que atravessamos e nesta fase do projecto, consideramos alterar a participação nas provas que disputamos. No futuro, quando quisermos subir de divisões… alteraremos de novo.
A nível técnico,eu verifico muitas diferenças de jogo dos tempos de Livramento. Etc… como jogador e treinador, como analisa este facto?
A última alteração às regras de jogo era fundamental para o hóquei. Estamos a enveredar por um caminho que o jogo já era um misto de hóquei em patins e hóquei no gelo, com choques constantes e sem espaços para se jogar. Se puxarmos um pouco o filme atrás, tivemos um tempo sem linha de antijogo em que o antijogo era permanente (tempo de Livramento) depois, entramos na fase em que se colocou a linha de antijogo, para a linha da área, o que proporciona um espaço de jogo considerável. Para mim, é ainda, até hoje, a mais favorável ao hóquei. Depois, passou-se para a linha dos vinte e dois metros, em que quase não havia espaço para jogar, pois o contacto físico aumentou drasticamente. Após todas estas experiências optou-se pela exclusão da linha de antijogo, conseguindo-se um estratagema para impedir que o antijogo fosse latente.
Passou-se a ter como referencia a linha de meio campo…
Exactamente e só se pode jogar atrás dessa linha durante cinco segundos e só se pode passar para trás dessa linha cinco vezes em cada posse de bola atacante. À sexta vez, é falta! Por outro lado, copiou-se substancialmente parte das regras do futsal, o que acho bem, devemos sempre aproveitar o que é positivo, fazendo um misto de leis de futsal e basquetebol, onde o contacto é quase inexistente. Copiamos os tempos de ataque e a penalização das faltas dividindo-as em colectivas ou do atleta. Um misto de tudo, o que para mim melhorou consideravelmente o jogo do hóquei em patins.
Explique as diferenças entre as faltas?
As faltas feitas directamente sobre um adversário, são sempre faltas da equipa e somam-se até atingir o número de dez. Atingido esse número, a equipa sofre um livre directo. A partir daí, começa nova contagem mas agora de cinco em cinco. Esta diferença entre o futsal, pois o hóquei é um jogo de muito maior contacto. As outras, como pé na bola, fazer a bola subir etc… são faltas individuais, a bola passa para o adversário, mas não contam para a equipa. Com estas alterações dos últimos três/quatro anos o hóquei melhorou substancialmente, disso não tenho qualquer dúvida. Anteriormente um jogador tecnicamente mais evoluído era quase impedido de dar espectacularidade ao jogo porque estava sistematicamente barrado, pela falta de espaço.
Mas hóquei perdeu muito com isso?
Muito, mesmo. Eu dou-lhe um exemplo eu quando fui para o Gulpilhares, para aí em noventa e um ou noventa e dois, nós tínhamos – sempre – o pavilhão de Gulpilhares completo. Um exemplo, fomos disputar a subida a Barcelinhos e acompanharam-nos quatro mil espectadores. Gulpilhares ficou sem ninguém… deserta. No pavilhão das Antas cheguei a ver em muito jogos, público uma hora antes de cada jogo e estamos a falar de um pavilhão que tinha sete mil lugares… agora temos jogos de uma centena de pessoas nas bancadas.
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O PROJECTO DO BOAVISTA
Voltando ao Boavista. O que espera deste projecto?
É como qualquer projecto na fase inicial. Creio que se nós pouco podemos apontar de negativo à Direcção do Boavista, mas acredito que do lado dos adeptos e sócios, pouco ou nada nos poderiam exigir. Estamos nesta luta, para acabar com a ideia inicial – dos adeptos – que éramos um grupo de amigos que conforme apareceu, um dia pegávamos nos sticks e íamos para casa. Nada disso! Nada de mais errado! Não temos qualquer custo, para o clube. Os gastos estão garantidos por sponsors, ou de alguém, externo ao clube. A única coisa que recebemos do Boavista e foi o ano passado, foi um jogo de equipamentos, com os quais continuamos a jogar este ano.
No futuro tem que ser alterada essa situação?
A forma como o hóquei era visto, por muitos, como o parente pobre do Boavista está a mudar e foi, para isso, preponderante a entrada do Senhor Morais para a secção. As coisas estão pensadas e aguardamos apenas a altura para as lançarmos definitivamente. Era fácil conseguirmos dois/ três e facilmente subíamos à segunda divisão e automaticamente triplicávamos os custos… alto lá! Neste momento isso não é possível, temos a consciência disso. Triplicávamos os custo e como não lhe poderíamos fazer frente… fechávamos a porta.
Mas está pensado um dia a subida a uma divisão superior?
Claro que está e estamos a trabalhar nela. De todos os jogadores que temos vamos tentar evoluir e ficar com uma base para o futuro. Esta equipa será a base da equipa que irá lutar pelas subidas, mas a seu tempo.
Agora ara o treinador. Os resultados do primeiro ano desapareceram de vez? Aqueles 7-1 e outros que tais?
A equipa era toda nova, o campeonato também é forte, o sinal disso é que há muitas equipas de terceira que derrotam equipas de segunda e equipas de primeira sentem muitas dificuldades contra equipas de terceira. A evolução nota-se embora seja relativa. Os números de sete a um, nove a dois, estão ultrapassados agora já, mesmo quando perdemos, é por quatro a três, seis a cinco… eu sinto muito e custa-me a compreender as arbitragens contra o Boavista.
São más?
Por razões totalmente transcendentes ao hóquei, eu sinto (tenho a certeza) que somos constantemente prejudicados. O Boavista é uma equipa nova no hóquei, os jogadores são novos, logo os árbitros não tem razão nem nada contra nós particularmente e custa-me compreender então, o porquê de nos prejudicarem sistematicamente.
É o ódio do futebol, transportado para o ringue?
Só pode ser. O Boavista é um alvo a abater e mesmo no hóquei isso é flagrante. Mas não será por aí que nos irão atirar à terra.
O FUTURO
O Joca, vai continuar para o ano?
Estou disponível para continuar assim os dirigentes o entendam. Para mim, isto foi mais engraçado ainda, porque o meu pai, era um Boavisteiro doente, o meu padrinho, também e o meu tio era um sócio acérrimo e sócio de mérito e por todas estas razões eu acompanhei sempre a ida do Boavista. O meu pai, jogou hóquei em campo e andebol de onze no Boavista e por isso também tenho ligações ao clube.
Tenho achado curioso, como é que um clube com esta dimensão, mesmo nestas situações que atravessamos, deixa um pouco de lado as modalidades amadoras. Não falo só pelo hóquei, mas pelo que vou conversando com as pessoas de outras modalidades, que constantemente se queixam de falta de condições para o desenvolvimento das modalidade a que pertencem.
Conhece então a situação que o clube atravessa?
Tenho algum conhecimento, mas o não se poder ajudar e apoiar economicamente, não invalida, que os dirigentes se encontrem e dialoguem com as pessoas e se inteirem das realidades e dificuldades.
A DESCOBERTA DO CLUBE
Orgulhoso por vestir esta camisola?
Claramente orgulhoso e tenho que confessar, que não tinha conhecimento da grandeza do Boavista Futebol Clube. A crise vai passar e este clube irá ocupar o seu lugar, que pensei só ser grande no futebol, mas verifico que estava enganado, há neste clube uma extraordinária potencialidade a nível de Amadoras. Pela minha parte estou disponível para fazermos o nosso regresso aos lugares cimeiros do desporto nacional, ao qual o Boavista pertence.
Entrevista de
Manuel Pina
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