sexta-feira, 20 de junho de 2014

HENRIQUES SANTOS, NA DESPEDIDA DO BOAVISTA



Na vida de um desportista, os ciclos estão em constante movimento e por maior que seja a identificação com um emblema, virá o tempo de mudar a página.
Nesta fase de mudança encontra-se o técnico de andebol, Henrique Santos, que após oito anos de xadrez se preparar para mudar. Conversamos com um homem algo triste, mas consciente do seu trabalho em prol do Boavista e aceitando a hora de mudança.

Havia quem tivesse algum receio da vossa participação no escalão principal nacional. Mas a equipa terminou numa excelente posição. Surpreendeu-o essa prestação dos Juvenis?
Confesso que, sempre considerei ser possível a manutenção, mas até eu fiquei surpreendido com a classificação final. Depois de acabarmos a primeira volta em penúltimos ou antepenúltimos, acabamos em quarto lugar nessa fase, na qual o terceiro dava acesso à fase seguinte. Todos quisemos chegar mais alto, mas o objectivo principal foi conseguido com brilhantismo e muito mérito. Estamos de parabéns e considero uma época positiva.

Mas o início foi difícil. Quais os motivos?
Foi complicado porque tivemos grandes alterações no plantel. Cinco jogadores saíram do Boavista e um subiu aos juniores, numa equipa de sete, perder seis é sempre muito complicado. Formamos uma nova equipa com alguns incitados. No início foi mesmo complicado ao perder todos os primeiros jogos, temi que isso os afectasse, mas a resposta foi muito positiva da parte de todos.

A disputar um campeonato com os mais poderosos adversários, com outra condições e ambições, o Boavista realizou um extraordinário campeonato. não o surpreendeu na verdade?
Não. Não me surpreendeu!
A sua equipa era assim tão forte?
Tínhamos valor para estar e ficar na primeira divisão. Sabíamos que ia ser difícil, que teríamos que fazer um trabalho completamente diferente a nível de contacto e choque. Tínhamos muitos jogadores dos iniciados, que - para quem está um pouco por fora do andebol, não entenderá – sai de utilizar um bola dois para uma bola três, que para eles é um autêntico canhão, porque é a bola de seniores. Tiveram muitas dificuldades de utilizar esse tipo de bolas e a resina, mas fizeram a sua adaptação que não sendo fácil foi conseguida aos poucos e poucos. As vitórias começaram a aparecer com o crescimento deles e obviamente as vitórias trazem a motivação e o grupo cresceu muito.  Repare os primeiros cinco jogos, foram cinco derrotas. Depois da primeira vitória as coisas encarreiraram e na segunda volta só perdemos com os candidatos, que foi o Porto e os Carvalhos.
  
Curiosamente o ano passado fizeram um campeonato idêntico aos vencerem todos os jogos...
É um grupo muito forte e muito unido, não sendo um grupo com a qualidade que todos queríamos e para isso é preciso dar tempo ao tempo, mas é um grupo muito coeso que formam uma excelente equipa. Continuando a crescer para o ano estarão nos juvenis de pedra e cal.

Ainda não tenho a confirmação, mas consta-se que o Henrique vai sair do Boavista. Confirma?
É verdade, sim senhor. Fizemos agora a Taça encerramento que vencemos – registe-se – e no final da época sairei do clube onde estou há oito anos.
A Taça encerramento era importante?
Foi disputada por quatro equipas, mas muito fortes e vê-se pelos resultados muito equilibrados que era uma prova importante e que vencemos com inteiro mérito.

Voltando à sua anunciada saída. Quer falar um pouco das razões?
Após o último jogo da taça, comuniquei aos jogadores que iria embora e só após essa conversa é que tornei pública a noticia da minha saída, porque eles teriam que ser os primeiros a saber.
Tem outro projecto?
Desculpe, mas são coisas que eu não quero abordar aqui, para me defender a mim e ao Boavista. Como disse na carta que tornei publica, só tenho que agradecer a este clube pelos oito anos que aqui passei. Neste momento, não tenho projecto algum, embora os convites tenham começado a aparecer mas ainda não me debrucei sobre nenhum. Uma certeza, porém, parado não vou ficar e em breve terão notícias minhas. Neste momento, desejo todas as felicidades ao Boavista. Ao meu sucessor desejo todas as felicidades porque vai herdar uma equipa com valor, embora com um plantel maís curto, porque alguns elementos vão subir a juniores e dos iniciados ninguém sobe.

Esses pormenores passam muitas vezes ao lado dos espectadores. Mas são um problema para os treinadores?
São as realidades que a formação apresenta e que todos os treinadores têm que superar. Mas da equipa de iniciados podem ir buscar antecipadamente alguns porque têm jogadores com valor para isso.


O que se sente na hora da despedida?
Um bocado de nostalgia, mas como se diz as pessoas passam e o clube fica e continua. Só posso dizer bem deste clube, fui bem recebido, bem tratado e mesmo dentro das enormes dificuldades que tivemos principalmente em termos logísticos. Tivemos que treinar em “meio pavilhão” andamos constantemente com a casa às costas, foram anos difíceis que todos tivemos e que poucas pessoas imaginam, mas acabaram por unir os grupos porque todos sabíamos as condições, todos os aceitávamos e todos as ultrapassamos. Os grupos fazem assim.

Ninguém defende que as dificuldades ajudam, mas eu vi este grupo ser formado nos infantis até aqui e verifiquei que os jogadores tratam o Henrique por tu embora sem nunca o desrespeitar. São quase irmãos do treinador. Como se pode gerir um grupo assim?
Há aqui uma coisa que as pessoas têm que ver e correndo o risco de ser criticado, pelo que vou afirmar, mas afirmo sem receios. A formação do Boavista evoluiu muito e todos os anos saem daqui jogadores para clubes com maiores ambições. Não estou  a dizer que saem verdadeiros aristocratas de andebol, mas têm saído bons atletas que têm singrado em vários clubes, Porto, Águas Santas etc… tivemos um atleta que este ano foi campeão nacional pelo Águas santas que na época anterior foi vice-campeão nacional aqui, que é Pedro Silva. O ano só à equipa de juvenis vieram buscar cá cinco jogadores. Isto prova que há no Boavista um excelente trabalho de base desde os infantis. Eu ando há um ano ou dois a dizer que a formação do Boavista é das melhores formações do norte. Tem uma pessoa como o Vitor Nascimento, a trabalhar “cá em baixo”, que é fenomenal que deixa os jogadores a jogar de olhos fechados…
Se o Vítor confirmar a saída é uma grande perda?
Enorme! Essa é a maior perda do Boavista, se o Vítor sair. Primeiro é um símbolo do clube pelos anos que cá está e depois, nestes escalões de formação o Vítor é qualquer coisa!
Regressando á sua ideia…
O Boavista é um clube muito mais apetecível que quando cá cheguei. Tem outra estaleca, tem outros escalões muito bons, tem os juvenis na primeira divisão, tem os iniciados que discutem sempre as fases finais e para além da excelente prova dos juniores que nesta fase venceram toda a gente e têm os seniores que subiram de divisão. É um clube apetecível. Isto é uma coisa fantástica, agora as pessoas não podem exigir que se ganhe sempre.
  
Diferente de outros tempos?
Quando cá cheguei disseram-me que eu tinha uma equipa e eu… tinha cinco jogadores! Fui buscar jogadores ao futsal do Freixieiro que eram meus conhecidos, que não sabiam jogar futsal e trouxe para o andebol, fui buscar jogadores ao voleibol e fiz a tal equipa, que foi a uma fase final de segunda divisão de iniciados. As coisas de há oito anos para cá evoluíram muito. Nesse tempo jogar com o Boavista nem contava era vitória certa. Agora toda a gente respeita e teme, jogar com o Boavista é um jogo grande do campeonato. dos infantis aos juniores, nos últimos dois anos o Boavista tem feito carreiras fenomenais. Só um exemplo. Quem viu aqui o jogo de seniores entre o Boavista e o Monte, que era um jogo decisivo, só um dos sete titulares veio de fora do Boavista. Todos os outros seis eram da formação do Boavista!  Tirando o Miguel que veio do ABC, toda a  restante equipa, foi feita aqui.

Quem nos lê fará inevitavelmente a pergunta. Sendo assim porque sai?
Vou embora porque o departamento decidiu que assim terá que ser.
Não foi opção pessoal?
Não! se calhar tentado introduzir novas ideias, novas pessoas – que é bom – e todos temos que mudar um pouco os ares. Mas confesso, que não foi da forma que eu gostava que fosse. Mas atenção. Não tenho nada a ver com ninguém eu estou completamente agradecido ao Boavista, eu aprendi muito aqui neste clube onde me dou e darei bem com todos.

Entrou de um clube e saiu (também) Boavisteiro?
Quem consegue estar neste clube sem se sentir Boavisteiro? Muita luta, muito esforço, muitas dificuldades que provocam uma união e um respeito por este emblema. Não saio Boavisteiro, serei sempre uma parte  Boavisteiro.


Entrevista
de


Manuel Pina

JORGE DIAS, TÉCNICO DE FORMAÇÃO DE VOLEIBOL EM ANÁLISE AO PROJECTO AXADREZADO

Jorge Dias, é um jovem apaixonado pelo Voleibol que faz parte do grupo técnico que se propõe reestruturar ( a nível competitivo) o voleibol de formação do Boavista. Designer, de profissão mas voleibolista por paixão. Vamos conhecer melhor as suas ideias e visão do universo da formação axadrezada.



Na minha opinião, esta época foi dividida em duas fases. Após os campeonatos, vocês alteraram todos os métodos de trabalho. Qual a razão?
Fizemos isso, essencialmente para começar a trabalhar para a próxima época e começar a reestruturar o próprio departamento de voleibol do Boavista, no que respeita à formação, que consideramos precisar de uma grande remodelação e acima de tudo de um grande incentivo, para as miúdas poderem trabalhar com um bocadinho mais de vontade.

Passado este período, já verifica algumas mudanças?
O balanço é bom. Já se começam a ver algumas coisas positivas, principalmente na entrega das miúdas. Alguns escalões, estavam totalmente desmotivados com o trabalho que estavam a fazer, devidos aos resultados que (não) conseguiam. Isso era evidente. Com a falta de resultados é normal as miúdas perderem o entusiasmo no trabalho que estão a realizar e  era o que estava a acontecer.

Agora já estão diferentes?
Com a reestruturação que lhes foi proposta, o trabalho passou a ser diferente e elas começaram a entender que as coisas resultam.

Mas vocês promoveram as jogadoras para escalões superiores aos quais só pertenceriam na próxima época. Isso não as desmotiva ao não vencerem os jogos que disputam, já que jogam contra atletas mais adultas?
O desânimo e a desmotivação só podem ter a ver com uma coisa. Elas não se sentirem realizadas. Quando estão a dar o melhor o resultado não é o mais importante. Foi o que lhes fizemos sentir. O importante nesta fase, é elas trabalharem bem para no próximo ano e nos anos vindouros,  estarem a melhor nível, ao nível das equipas mais fortes que estão constantemente a apurar-se para os nacionais. O importante é que elas trabalhem a ritmo mais elevado, mas que trabalhem bem. Essencialmente bem, esqueçamos os resultados de momento, porque para nós nesta fase, não é importante. Ganhar uma AVP não é importante., preferimos perfeitamente, a abdicar de uma AVP e conquistar um acesso ao nacional.
  
O início (que eu acompanhei) nem foi fácil nem pacífico, mas agora parece que as jovens já se integraram. Concorda comigo?
Sim é verdade! Agora estão muito diferentes e nota-se essa clara diferença no trabalho e nos resultados. Não temos tido grandes vitórias mas temos tido… grandes jogos, porque não gosto de falar em vitórias morais. Mas que as miúdas, mesmo perdendo um jogo se sentem realizadas porque estão a dar o máximo e estão a combater pelo sets e pelos resultados. Isso nota-se.

Mas neste processo, algumas desistiram. Perdeu alguma atleta que tenha sentido pena?
Perdi muitas! Perdi muitas, mas neste processo é a lei natural. É como na natureza, os mais fraquinhos, que se sentem sem armas e sem forças para lutarem com os mais fortes, acabam por sentir que não têm grande espaço. E só há duas hipóteses, ou mudam e lutam ainda mais, para enfortecer os seus pontos mais fracos para estar ou lado dos fortes ou acabam por ficar para trás.

Na próxima época, já veremos os resultados?
Não lhe vou dizer isso, porque não é uma verdade. Era isso que eu queria, como é obvio o que qualquer treinador perspectiva é que se consigam alterar os resultados de uma época para a outra. Mas para mim, para o ano continuamos a apostar naquilo que foi analisado e aprovado, que é que o Boavista precisa de uma reestruturação muito forte, não é só aos meus olhos que isso se vê. Eu gostava de fazer parte do grupo que vai colocar o Boavista onde merece estar.

Para além de técnico de voleibol, qual é a sua profissão?
Eu, sou designer e trabalho em Gaia.
Como nasceu este amor pelo voleibol?
Joguei vinte e sete anos.

Como se consegue conciliar esses dois amores?
Ao fim de vinte e sete anos tenho que praticar – mesmo a jogar – uma vez por semana e ninguém me pode tirar isso, porque se não… mexe comigo!

Sente motivado a ensinar estas miúdas?
É obvio e se não me sentisse motivado, já tinha saído.

Entrevista de

Manuel Pina

domingo, 8 de junho de 2014

DRª JOANA FREITAS, A PSICÓLOGA DAS AMADORAS


Joana Freitas,  é psicóloga e tendo começado a trabalhar com a Academia de futsal do Boavista tem um projecto ,que visa dar um apoio global a todas as modalidades amadoras do Boavista. Com esta entrevista, tentaremos compreender melhor esse objectivo e conhecer a doutora.



Quem é a Joana Freitas?
Sou psicóloga, formada em psicologia pós graduada em recursos humanos, trabalho em consulta em Santa Maria da Feira e, neste momento, estou a fazer voluntariado no grupo de autistas no Porto.

Isso particularmente e no Boavista?
Tenho dado apoio a alguns atletas da academia e consultas no departamento de futsal.

Como nasceu a ideia dessa colaboração com o Boavista?
Essa colaboração iniciou-se quando eu entrei como seccionista para a academia acompanhando o meu marido (Paulo Freitas) entretanto, tinha uma clinica que fechou e não tinha, no imediato, local para continuar o trabalho com alguns jovens e, trouxe-os comigo e alguns ficaram aqui comigo.

Vamos tentar esclarecer alguns pormenores. Em que consiste o seu trabalho?
Depende da problemática dos meus pacientes. Se são hiperactivos, se têm algum tipo de perturbação de personalidade se têm alterações de comportamento, se são problemas escolares ou familiares, etc… Depende. Eu tenho especialidade em hiperactividade e dificuldades de aprendizagem.

Quem faz uma primeira triagem sobre os jovens, são os dirigentes, os familiares ou é a Doutora que os vai observando?
Neste momento, tenho dois jovens a quem acompanho na academia. Um já o conhecia e trouxe-o para cá, porque era meu paciente fora do Bessa. O outro, foi a mão que falou com o meu marido, este miúdo é hiperactivo.

Um fenómeno muito comum entre os jovens?
Sim, é verdade e aqui a academia tem vários.

O seu trabalho está a ser feito em exclusividade para o futsal?
Neste momento, tenho trabalhado com o futsal, mas o objectivo é trabalhar com todas as modalidades, continuo a aguardar contactos de outros departamentos.

Como explica que ainda não tenha sido contactada por alguém de outras modalidades?
Penso que haverá um problema de dar divulgação do nosso projecto entre as amadoras. Já me colocaram por diversas vezes a questão se trabalho só para o futsal. Já disse e repito, que não. Sempre me disponibilizei para as amadoras, porque acho que é um trabalho extensivo ao interesse de todos os jovens.

Como é que qualquer interessado “chega” aos serviços da doutora?
Através da secção de ginástica, onde já foi entregue a cópia de um protocolo de compromissos entre mim e o Boavista, na pessoa da directora Sara Monteiro. Encontrarão lá todos os meus contactos, ou através de qualquer membro do futsal. De uma forma ou outra, será fácil chegar ao meu contacto.

Vamos falar de algo que toda a gente questiona. Que encargo terá cada paciente e quem paga o seu trabalho?
São os pais que estão a pagar as consultas, só que a um preço muito mais baixo que o habitual no exterior.


Podemos conhecer esses valores?
No Porto, geralmente as consultas variam entre os trinta e cinco e os cinquenta euros, enquanto aqui no Boavista, custam vinte.

Onde se realizam as consultas? Espaço, dias e horários?
Actualmente no departamento de futsal, embora desejo alterar para outro espaço dentro dos espaços das amadoras, porque – mesmo agradecendo a atenção e disponibilidade de todos – considero não ter as condições ideias para esse trabalho, mas enquanto não encontrar outro espaço continuaremos no departamento de futsal. Tenho vindo ao sábado à tarde e até, ao domingo de manhã e nesse horário, fui informada que as instalações da ginástica estão encerradas, que era, inicialmente, o espaço que estava idealizado para receber os pacientes. Quero registar que tenho as chaves do futsal e agradeço toda a disponibilidade, mas acho que deveremos alterar condições e espaço até para não se transmitir, a ideia errada, que só recebo miúdos do futsal.

A divulgação, passa em seu entender por um novo espaço?
Sim, porque já me apercebi, que as modalidades são autónomas (quase independentes) umas das outras e, para trabalhar com todas, terei que ter um espaço independente… digamos assim! (sorriu).

O povo liga (erradamente) psicologia a psiquiatria e temos ao invés de ser considerados pacientes serem tratados como loucos. Não teme que por essa inibição as pessoas não procurem o seu trabalho?
Primeiro, não tem nada a ver uma especialidade com a outra, embora entenda a sua questão. Já acontece menos, mas ainda acontece a situação de as pessoas terem vergonha de ir ao psicólogo, por essas razões. Mas já acontece menos! Mas ainda noto que os pais temem levar os filhos ao psicólogo, com medo que os filhos fiquem com rótulo.


Que mensagem quer divulgar?
O psicólogo não é um bicho. Apenas ajuda os miúdos (e adultos, mas eu estou mais vocacionada para os jovens, crianças e adolescentes) a ultrapassarem dificuldades pontuais e mesmo de área desportiva.

É uma doutora desportiva?
Quando completei a minha licenciatura, tive que fazer a tese de curso e escolhi a área de desporto que é a área que mais gosto. A psicologia do desporto tem muito quer a nível motivação de aceitação e compreensão de resultados etc… tudo envolve aspectos psicológicos.

Num mundo cada vez mais difícil e competitivo. Concorda?
Totalmente, muitas vezes os adultos passam ao lado (ou julgam que passam) de certos problemas mas para os miúdos as coisas são bem mais difíceis. Mesmo a nível de competição, os miúdos não estão preparados nem para perder, nem para ganhar. Esta é a sensação que noto quando assisto a jogos entre eles.

Já que me fala nesse aspecto, há algo que eu sempre notei. Quando num jogo de adultos uma equipa é claramente superior à outra e atinge um resultado dilatado, quase que pára… enquanto os miúdos, na mesma situação, tentam mais golos para mostrar a sua clara superioridade, roçando a humilhação adversária. A que se deve tal facto?
Isso é real. Os miúdos não têm essas noções, as ideias bases da competição. Uma das coisas que tenho trabalhado aqui na academia com o ajuda do meu marido e que continuamos a analisar em casa é a questão das regras. Os miúdos não têm regras. Eles pensam que podem falar para os treinadores/directores de qualquer maneira. Não podem! Os miúdos têm que ter regras de base. Nós estamos a tentar alterar esses comportamentos aqui na academia.

Antigamente, notavam-se diferenças de vestir e de comportamentos entre várias zonas. Agora viver na cidade ou na aldeia é igual. Nota-se que os miúdos e adolescentes, não usam guarda-chuva, que sentam nos locais das bagageiras em vez de se sentarem nos bancos. Mas todos, mesmo todos fazem o mesmo. Como se explica um comportamento tão copiado?
Funciona por imitação! No comportamento humano, o comportamento gera, comportamento. É a máxima da psicologia… comportamento gera comportamento. Vai por modelos. Repare se os pais fazem determinada coisa os miúdos vão, por instinto, imitar os pais. Se têm um professor ou um treinador que considerem modelo, vão ter a tendência para o imitar. E quem não cumprir as “normais instituídas” pela maioria (boas ou más) é posto de lado.

Na minha vida profissional contacto muito com o ambiente escolar, que neste momento – passe o exagero – se aproxima do que nos transmitido em filmes do ambiente prisional. Grupos, imposições de comportamentos, exclusões etc… concorda com esta visão ou sou pessimista?
Nada tem a ver com os professores. São os miúdos que formam os grupos e outros - lamentavelmente – são marginalizados, ou porque não se integram nos grupos, ou porque não têm roupa da marca X, ou porque não usas as sapatilhas Y. eu tenho em santa Maria da Feira um miúdo que é vitima de Bulling infantil, cada vez menos os miúdos são e estão educados para viver na sociedade e para a sociedade.

As escolas têm psicólogos?
Sim mas a verdade é que muitos psicólogos foram retirados das escolas para se diminuírem despesas!

E os que estão ficam dentro de um gabinete, quando o mundo se passa no recreio…
Trabalhar - e eu já trabalhei – num agrupamento é muito difícil, embora eu entenda a sua opinião.

Vamos voltar ao Boavista. Quando começou este projecto?
Desde Setembro do ano passado.

Qual a parte que entende por positiva, para já?
A parte positiva. Eu gosto muito de desporto, gosto muito de trabalhar com estes miúdos, faço a parte burocrática da academia em casa, tento ajudar em tudo o que for possível porque me meti voluntariamente neste projecto, não tenho facilidade de estar nos treinos aso sábados de manhã, porque dou formação, mas sempre que posso venho. Acho que os miúdos têm crescido muito e acho que a academia cresceu muito, em quantidade e qualidade.

Voltamos ao mesmo. Falamos de futsal, por ausência e culpa dos outros?
É verdade mas eu aí preciso de ajuda, porque repito, estou aqui para trabalhar com todos e não só com o futsal e desde já estou ao dispor de todas as modalidades amadoras.

As coisas negativas?
As comunicações entre todos os departamentos e escalões, acho que há falta de comunicações interna e de divulgação do nosso projecto. Para além do local para as consultas que considera muito importante, para dar-mos mais condições aos pacientes e acompanhantes e para transmitirmos a ideia real que não trabalho só para o futsal. Isto é muito importante. Outra coisa que falha e que já propus realizar é uma formação de treinadores e dirigentes, no âmbito de comunicação e gestão de conflitos e de motivação desportiva.

Doutora, dentro de alguns meses faremos um novo balanço desse projecto

Entrevista de




Manuel Pina Ferreira