segunda-feira, 16 de março de 2009

ENTREVISTA DO ENG. ANTÓNIO MARQUES AO BLOG PANTERAS 23

Transcrevemos na integra a entrevista do Vice-Presidente Eng. António Marques, dada ao Blog Panteras_23
Qual o nome?
António Marques.
Qual a ligação que tem ao Boavista?
Eu estou no Boavista como director desde 1991, tomei posse em Fevereiro de 91, portanto, fez 18 anos agora, sempre ligado às amadoras. Até o último mandato de João Loureiro, fui sempre director-adjunto do vice-presidente, que era o Eng. Paulo Garcês, a partir da direcção de Joaquim Teixeira e do Álvaro Braga, passei a vice-presidente das amadoras.
No último ano do João Loureiro, com a suspensão do mandato do Paulo Garcês, assumi . na altura interinamente, a vice-presidência. Portanto, em todos estes 18 anos a minha ligação foi inteiramente às actividades amadoras.
E porquê às amadoras?
Eu, independentemente das amadoras, sou um apaixonado do futebol também, sempre fui. Agora eu só pratiquei desporto amador, pratiquei atletismo no CDUP, nunca pratiquei no Boavista, porque na altura não havia. Portanto, gostava muito de atletismo, pratiquei atletismo durante bastantes anos no CDUP e, simultaneamente, fui também dirigente do atletismo no CDUP.
Em 1990, saí, por razoes de impossibilidade face à minha profissão, e entretanto, logo a seguir, fui convidado pelo Eng. Paulo Garcês para adjunto dele na vice-presidência das amadoras. Como era um conjunto de actividades que eu já estava muito bem identificado, e como não me envolvia muito, não exigia de mim muito tempo, porque eu no CDUP era sozinho, acabei por aceitar, até porque sempre foi o clube da minha paixão, desde que me conheço. Eu sou o sócio 1100, sou sócio há 30 anos, mais ou menos, de maneira que, sendo um apaixonado pelo futebol, sou também um apaixonado das restantes modalidades.
E mesmo muito antes de ser director do Boavista, há acompanhava o voleibol feminino, acompanhava o andebol, acompanhava a ginástica, o futsal não, porque o futsal começa já na minha era.
E como vê neste momento a situação das amadoras no Boavista?
Vejo com muita preocupação, e muita preocupação porquê?
Porque as amadoras hoje são 100% amadoras, porque nós mantemos todas as modalidades que tínhamos quando o clube estava equilibrado financeiramente, só que na altura, porque tínhamos condições para isso, tínhamos atletas subsidiados, técnicos subsidiados e tínhamos bons praticantes por esse facto. E lutávamos em muitas modalidades para o título.
Fomos campeões de voleibol vários anos, ganhamos Taças de Portugal de voleibol, participamos em Ligas dos Campeões, somos a única equipa portuguesa de voleibol feminino que atingiu os quartos-de-final da Liga dos Campeões de voleibol.
Em andebol, na principal divisão, atingimos um terceiro lugar, na altura, tivemos cá excelentes atletas que ainda hoje são referência, como o Eduardo Filipe, que hoje é atleta do FC Porto, tivemos o Prof. José Magalhães, que hoje é director-geral de andebol do Porto, o António Cunha.
No futsal, ganhamos a Super taça Nacional ao Benfica, na final, há cerca de 4 ou 5 anos, em Barcelos, fomos finalistas da Taça de Portugal vencidos em Santarém, foi o nosso melhor resultado em futsal, e tivemos vários anos na primeira divisão.
Em ginástica, fomos sempre considerados o melhor clube português da ginástica, hoje ainda temos o melhor atleta português, que é o nosso Manuel Campos. E tudo isto conseguimos também porque tínhamos condições financeiras para podermos suportar subsídios a atletas que na altura era inevitável e ainda hoje é corrente em várias equipas.
Hoje não temos, o Boavista vive uma situação em termos financeiros muito difícil, em que o pouco dinheiro que o Boavista consegue é para assegurar a manutenção das próprias instalações e os funcionários, portanto, praticamente o clube não tem condições para nos pagar seja o que for e ainda vai pagando alguma coisa, algumas coisas ainda são subsidiadas, parte com dinheiros próprios, parte com dinheiro do clube.
Mas nós, com a demolição do pavilhão, para não acabar com as modalidades, tivemos que recorrer ao aluguer de pavilhões, portanto, nós o ano passado, 13 modalidades amadoras treinavam em 19 locais de treino diferentes, dos quais, destes 19, apenas 4 são nas nossas instalações, que são os ginásios do Boavista, o ginásio do DDA, a sala do Boavista do xadrez e o ginásio do boxe. Tudo o resto é pavilhões onde nós temos de pagar o aluguer para utilizar, portanto isto tudo é um esforço enorme financeiro, em que nós temos vindo a conseguir ultrapassar de duas formas.
Uma é através da rentabilização dos ginásios, em que todos os praticantes de ginástica, quer sejam os de competição quer sejam os de recreação, pagam e isso permite-nos pagar os professores e permite-nos sobrar algum dinheiro que nos ajuda a pagar estes espaços. Depois temos feito algumas actividades, organizamos o circo das amadoras em dois anos consecutivos, em que compramos uma sessão de circo integralmente, e depois fomos vender os bilhetes, e conseguimos vender mais do que pagamos e o que sobra é também para nos ajudar nisso. E temos feito outras coisas, temos sorteios, o caso do voleibol, temos o cartão Amigos do Voleibol, que foi agora lançado, o futsal já lançou no fim do ano passado, temos algumas pessoas também que nos vão ajudando, temos alguns pequenos sponsors, porque os tempos que correm são muito difíceis, e agora vamos lançar muito brevemente, em principio até ao final da próxima semana, a caderneta de cromos das actividades amadoras.
Vamos ter cerca de 700 cromos, dos cerca de 1000 atletas que temos. Não vão ser i ter todos, porque há muitos que vêm para recreação ou manutenção, mas vai ter cerca de 600 a 700 cromos, com todas as amadoras, respectivos atletas, dirigentes e seccionistas. Esperamos que nos venha a dar também alguma receita, que nos vai fazer muita falta para nos ajudar a pagar também estas coisas todas, porque nós temos de pagar inscrições, deslocações, aluguer de pavilhões, policiamento, tudo isso temos que ser quase auto-suficientes, porque o clube não tem grande condições para conseguir ajudar-nos a continuar a manter isto.
Portanto, nós estamos a fazer todo esse esforço, que devia ser apreciado pelas entidades oficiais porque o Boavista substitui-se ao Estado, o Boavista e os clubes, porque se os clubes não fizerem isto, não são as autarquias que põem as pessoas a praticar desporto.
O Boavista, ao contrário do que tem sido normal, não é apoiado praticamente nada por entidades oficiais, tudo isto é feito a expensas próprias, e temos um departamento importantíssimo, é praticamente dos poucos clubes nacionais que o têm, que é o desporto adaptado, portanto desporto para pessoas com deficiência. Temos natação, temos futsal, temos ginástica, temos boccia, temos um campeão paraolímpico, como sabe, temos outros campeões nacionais, ainda recentemente em futsal vencemos o Porto por 4-1, que é outro clube com esta modalidade. Portanto, nós temos também esta modalidade, somos o primeiro clube português que o tivemos, e não somos nada apoiados.Agora, a minha preocupação é grande, porque não sei se vamos continuar a ser capazes de angariar receitas absolutamente vitais para continuar este projecto que é as amadoras do Boavista, porque desde que eu cá estou tem sido condição de honra mantermos todas as modalidades, para permitirmos que os jovens, as crianças e os menos jovens possam ter acesso ao seu desporto de eleição.
Falou de algumas iniciativas, nomeadamente a caderneta de cromos. Penso que seria de interesse esclarecer um pouco como irá funcionar…
A caderneta de cromos é uma caderneta normal, com muito boa qualidade, daquelas que por vezes se viam, com cromos autocolantes, cerca de 600 a 700 cromos, entre atletas, técnicos e dirigentes, divididos por departamentos. Cada caderneta terá o custo de 3€ e cada bolsinha com cromos de 0,5€. Nós nunca teremos prejuízo com isto, nós fizemos um protocolo com a entidade produtora, em que todo o custo foi assumido pela entidade produtora e, quando iniciarmos a distribuição, o primeiro valor conseguido, até atingirmos o custo da produção, é integralmente para a entidade produtora e, a partir daí, os lucros são divididos entre a entidade produtora e o Boavista.
Esta iniciativa tem dois objectivos, o primeiro é angariarmos dinheiros, que muita falta nos faz, e o outro é dar a conhecer a imagem do Boavista, portanto, dar orgulho a estes jovens, que se vão ver pela primeira vez nuns cromos como eles vêm os futebolistas. Esta é também uma forma de divulgar o Boavista, principalmente as amadoras, que é uma área muito grande e ninguém conhece ou tem noção da dimensão que têm as actividades amadoras do Boavista.
A nível de outras actividades de angariação de fundos e de divulgação das modalidades, o que é que já foi feito, tem sido feito e irá ser feito?
Nós, durante largos meses, tivemos um boletim, que distribuímos gratuitamente pelos associados e, nesse boletim, tentamos angariar algumas publicidades que cobrissem pelo menos os custos desse documento.
Mais ou menos conseguimos, isto é, não conseguimos ter lucro, mas conseguíamos cobrir as despesas com a edição desse boletim, e isso era uma forma de divulgarmos as amadoras pelos associados que frequentam aqui mais o clube, porque eu sentia que havia muito desconhecimento daquilo que nos somos e temos, ao contrário do que acontecia quando tínhamos o pavilhão, em que as pessoas viam tudo o que tínhamos aqui no pavilhão.
Agora continuamos a ter tudo como no passado, mas estamos mais dispersos. Por exemplo, o sarau da ginástica, há dois anos foi no pavilhão do FCDEF, no ano passado, foi no pavilhão da Senhora da Hora, e este ano sabemos que vai ser em Junho, mas ainda não sabemos onde.
Depois cada departamento procura exaustivamente arranjar parceiros estratégicos, empresas que se queiram associar a nós e temos conseguido, agora muito pouco e valores relativamente pequenos, porque os tempos estão difíceis, mas temos conseguido alguma coisa.
Agora com o lançamento deste novo espaço informativo na internet, estamos a procurar divulgá-lo massivamente para que também aqui possamos angariar alguns sponsors que se queiram associar a nós.
Em que consiste esse novo espaço e de forma surgiu?
Ele surgiu na sequência do nosso boletim informativo. Nos tivemos esse boletim, que teve 7 ou 8 edições, e parou, para dar lugar ao jornal do clube, que apenas teve uma edição.
Entretanto, depois desta paragem, foi toda esta fase extremamente conturbada do clube e nós não retomamos imediatamente. Há cerca de um mês eu tentei retomá-lo tal como era anteriormente, só que face às circunstâncias conjunturais, senti que iria ser muito mais difícil arranjar receitas para cobrir os custos do que antigamente, e ao falar com o Pina, que é o meu homem dinâmico, o homem forte já do outro boletim e deste também, pensamos em usar a internet.
Há vários blogues de grande qualidade que eu vejo de vários grupos de boavisteiros, e isso é salutar, mas porque não termos um de todas as amadoras? Já temos específicos e vão continuar, este que apareceu não substitui nenhum, este é mais informativo e os outros devem ser mais de desenvolvimento.
Pretendo que este seja um espaço em que qualquer pessoa posse ver qual é a agenda desportiva de todas as modalidades, com textos curtos e pequenas entrevistas, mas sem um grande desenvolvimento da informação. Este projecto foi pensado por nos, teve um grande apoio do meu filho, que fez o layout do blogue, o Pina desde a primeira hora que abraçou o projecto.
A divulgação do blogue como esta a ser feita?
Começou por ser feita no sábado, no site do clube, através de um folheto que já distribuímos nos cafés e vamos distribuir também no jogo de futebol, e através de todos os e-mails, portanto está a ser dessa forma que procuramos divulgar o novo blogue.
E a nível de feedback?
Ainda é cedo para isso, o site começou anteontem, só hoje à tarde é que os folhetos ficaram prontos. Mas já recebi algum feedback, muito pouco. Nos também temos um contador de visitas no site que nos permitir saber se as pessoas o procuram ou não. Porque o nosso objectivo é que as pessoas conheçam o Boavista na sua plenitude, e vejam a real dimensão do nosso clube, que muita gente ainda não conhece.
E portanto este blogue pretende alterar essa situação?
O blogue pretende alterar a forma como é visto o Boavista, o Boavista não é só um clube de futebol, aliás o nosso slogan é “Boavista Futebol Clube, muito mais que futebol”.
É preciso que as pessoas entendam isso, que os boavisteiros entendam isso porque a maior parte pensa que isto é um clube de futebol que tem meia dúzia de pessoas que praticam outras modalidades, o que não é verdade. Nós, no ano passado, movimentamos quase 1000 atletas e este ano vimos esse número crescer. Portanto, quando tínhamos o pavilhão chegamos a ter 1600 praticantes em todas as modalidades, agora são muito menos.
E os outros sites, não oficiais ou não directamente ligados aos departamentos?Sou frequentador assíduo e registo com muito agrado que cada vez há mais sites como o vosso, e isso é muito bom, porque indica que cada vez mais as pessoas têm consciência da nossa realidade e daquilo que são as amadoras do Boavista.
Relativamente ao pavilhão, a perda do pavilhão foi um duro golpe para as amadoras?
Foi o assassinato, o pavilhão gimnodesportivo do Boavista foi se calhar o maior erro da história do clube, na minha perspectiva. Não só por ser vice-presidente das amadoras, mas porque acho que sendo nós um clube ecléctico, e que se orgulha disso, demolir um pavilhão por causa de dois ou três jogos para o Euro2004, para fazer um estádio em que nós sabemos que a nossa população em termos de associados é reduzida, acho que foi o maior erro da nossa história. E não foi só a demolição do pavilhão, foi do pavilhão Acácio Lello, foi do pavilhão da ginástica, foram sete ginásios, foi do pavilhão do boxe e foram todos os departamentos das actividades amadoras, incluindo o gabinete da vice-presidência. Tudo isto estava naquele bloco que foi simultaneamente demolido.
E esta demolição foi o golpe quase fatal para as amadoras do Boavista e só com o esforço e a paixão de muitas pessoas que aqui andam e que trabalham directamente comigo é que foi possível continuar a manter as modalidades em funcionamento, apesar dos níveis de rendimento desportivo serem fortemente abalados.
Mas neste momento existe alguma modalidade em risco de ser encerrada?
Neste momento não, mas isso não implica que, se chegar à conclusão que alguma modalidade é completamente impraticável, não a encerre. Falamos do passado, do presente, e quanto ao futuro?O futuro é muito difícil, mas eu sou uma pessoa de fé.
Quando eu perder a fé, quando eu sentir que não há fuga possível, sou o primeiro a capitular. Porque eu sinto-me o líder de um conjunto de pessoas que anda aqui porque eu acredito e eles vêm que eu acredito e vão lutando contra as adversidades com muito esforço, um esforço que nós nem imaginamos.
As pessoas nem imaginam, não é só os seccionistas ou os directores, os treinadores que no passado eram remunerados e que agora andam com as bolas, com os atletas, e depois há os pais, os familiares e os amigos dos atletas, toda esta gente faz isto porque acredita que o Boavista tem futuro. O Boavista tem um passado riquíssimo e tem um presente com enormes dificuldades. O futuro é uma incógnita, mas nós todos acreditamos que o Boavista vai dar a volta a isto, até porque um dos principais motivos desta agonia que o Boavista vive é uma injustiça de que foi vitima.
E eu vi com muito agrado um movimento recente de um conjunto de associados que procuram divulgar para a opinião publica esta enorme injustiça de que fomos vitimas. E principalmente quando se compara com outras decisões para com outros clubes.
Portanto, eu acredito que a justiça vai, mais cedo ou mais tarde, ser-nos feita e ao ser-nos feita, vamos ter que ser ressarcidos de todo o mal que nos fizeram. E aqueles escroques, que são esses Ricardos Costas e outros, que contribuíram para que isso acontecesse, por muito que vivam, e eu espero que vivam muito pouco, nunca hão-de viver tantos anos quantos o Boavista já tem.
E eles não deram apenas cabo do Boavista em termos desportivos, eles estão a contribuir para grandes dificuldades de muitas famílias, porque o Boavista é uma empresa, que emprega muita gente que vive situações difíceis por uma decisão injusta, porque se o futebol profissional do Boavista estivesse no lugar a que desportivamente tem direito, naturalmente não estava na agonia em que está. Estava em dificuldades financeiras, mas tinha receitas para conseguir ter uma equipa minimamente competitiva para conseguir a manutenção na primeira liga, e teria se calhar alguma receita para ir resolvendo alguns problemas do passado. O facto de ter sido relegado para a segunda liga, porque nós não descemos, conseguimos o 9ºlugar, que dá acesso à primeira liga, se o Boavista estivesse no seu lugar, toda a nossa vida, do clube e da SAD, que estão totalmente interligados, ao contrário do passado, que havia uma grande blindagem da SAD, se o Boavista estivesse na primeira divisão, como devia, eu estou convencido que estávamos com dificuldades, mas provavelmente com menos dificuldades do que alguns que hoje militam na primeira divisão.

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