segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

JOÃO MARQUES NUMA PARAGEM DE SERVIÇO

João Marques, é um boavisteiro de sete costados que se dedicou de corpo e alma ao clube e em especial ao Futsal.
Foi atleta do Clube em todos escalões de formação. Depois de breve ausência regressou ao Boavista para desempenhar os cargos de treinador adjunto das equipas de Juniores e Seniores.
Estudando na Faculdade de Desporto, vai ser obrigado a deslocar-se ao Brasil para efectuar um estágio do curso Erasmo.
Na véspera da partida para o Brasil fizemos uma retrospectiva da época.
João vais interromper a tua participação no Boavista por uns meses. Confirmas?
Sim confirmo, parto no Sábado para o Brasil. Estou a frequentar a Faculdade de desporto aqui do Porto e através de um protocolo que temos com algumas Instituições, tenho a possibilidade de ir estudar cinco meses para o Brasil.
Para que cidade?
Vou para Flororipa, em Santa Catarina.
Estava previsto?
Sim já era previsto esta situação há cerca de nove meses mas a confirmação saiu há cerca de dois meses e agora está na hora da partida.
Tu eras dois em um. Treinavas os seniores e juniores e agora a falta vais sentir-se igualmente nos dois escalões. Vamos começar pelos Juniores. Como vês a situação da equipa?
Para já temos que começar com as alterações impostas pela FPF que mudaram radicalmente a prova, já para este ano. Como sabe agora serão apurados dois clubes da associação do Porto em vez de um, como até aqui.
Altera o campeonato?
Altera substancialmente a estrutura do campeonato. Anteriormente haveria duas equipas a lutar por um lugar. Com a abertura de duas vagas, fez com as possibilidades de apuramento fossem abertas a mais duas equipas. Neste caso o Caxinas e o Rio Ave, quando anteriormente a luta era entre o Freixieiro e o Boavista.
Mais luta?
Sim. E o que veio complicar ainda mais a nossa situação foi a derrota que tivemos com o Caxinas, que permitiu a reentrada desta equipa na luta pela subida.
Como está a decorrer a época, na tua opinião?
Na minha opinião, está a ser uma época muito positiva, para além de no início terem acontecido alguns problemas que não desejávamos que acontecessem. No início da época, tivemos pouco tempo de pavilhão, derivado aos problemas que são conhecidos por todos. Mas depois desta fase a equipa conseguiu a atingir um nível muito bom. Obtivemos uns excelentes resultados, tirando esta derrota inesperada, atingimos um nível excelente de futsal. Temos uma equipa constituída por excelentes jogadores a quem auguro um grande futuro pessoal e que igualmente podem dar ao clube um excelente futuro e ao futsal nacional.
Qual é o ponto da situação classificativa?
O Freixieiro está em primeiro com a vantagem sobre nós, de três pontos e nós temos a vantagem, de um ponto sobre o Caxinas. O Rio Ave, está na minha opinião fora da corrida. Por isso, a cinco jornadas do final está uma luta a três para dois lugares.
As coisas estão apertadas…
A margem de erro é zero.
O que dizes da experiencia de trabalhar com Pedro Ferreira?
É impossível não gostar de trabalhar com o Pedro Ferreira. O Pedro no futsal dispensa quaisquer apresentações, é antigo internacional e estudioso da modalidade. Não tenho qualquer problema em dizer que aprendi mais nestes dois anos a trabalhar com o Pedro que em treze anos a jogar. Foi uma vantagem poder ter trabalhado com ele como para os jogadores é uma grande vantagem terem o Pedro Ferreira como seu treinador. Como pessoa e como técnico é uma grande vantagem. Nunca nenhum treinador, me conseguiu ensinar o que apreendi com ele. Foi um enorme prazer e uma grande sorte ter trabalhado com o Pedro Ferreira.
Eu senti que vocês no ano passado no Juvenis sentiram alguma dificuldade impor a visão do Pedro na equipa. Concordas?
Sim. Nós nos juvenis sentimos a dificuldade, porque quisemos impor um ritmo como sendo uma equipa de seniores. O Pedro, defende que só sabe trabalhar com um rendimento e rigor como se as equipas que treina fossem seniores, sem paragens… sempre a duzentos. Nos juvenis encontramos uma equipa que não estava preparada para treinar e jogar a esse ritmo. Esta época, nos Juniores, tendo conhecimento que ainda não é uma equipa sénior, sabemos que temos uma equipa de grande qualidade de treino a que aliam a sua grande qualidade técnica. O fruto da é a qualidade do jogo que apresentam é resultado do seu empenho nos treinos e na qualidade com que o fazem.
Passemos aos seniores. Achas que ainda é possível atingir a manutenção?
Com as alterações que o plantel sofreu, a equipa é claramente mais competitiva e mais forte, mais adulta, mais equilibrada e experiente. Temos a perfeita noção que estamos numa situação frágil, que nos vai obrigar a trabalhar e sofrer muito, para conseguir os objectivos, mas como disse com esta equipa mais forte acredito que vamos conseguir a manutenção. Temos muitos jogadores com qualidade e valor para o Boavista alcançar esse objectivo.
Mas vai ser muito difícil?
O nosso campeonato começa com o AMSAC e para além de o termos de vencer, teremos que vencer todos os jogos que disputarmos, mas o jogo com o AMSAC é fundamental.
Como vai passar o João Marques longe do “seu” Boavista e principalmente longe do futsal do Boavista?
Vai ser complicado… muito complicado! E vai ser complicado porque, isto já faz parte de mim. O futsal e o Boavista fazem arte de mim, mas mesmo no Brasil vou procurar estar sempre informado sobre o clube e sobre tudo que se passa por cá.
No Brasil, vai ser só estudos?
Vou trabalhar lá com uma equipa Brasileira. Já tenho os contactos e tenho que agradecer ao Ivan que me deu muitos contactos no Brasil e que está a tentar fazer com que seja possível realizar lá um estágio. Vai ser complicado separa-me da minha família e da família Boavisteira, mas sinto-me preparado e acho que será favorável na minha evolução pessoal e desportiva.
No regresso, qual o objectivo a seguir?
Quando regressar ainda não terei o curso completado, faltando um semestre para o completar. Com a crise que atravessamos tenho a consciência que será difícil conseguir um trabalho, mas tudo farei para o conseguir. A nível desportivo vou tentar evoluir no futsal e esperar pelas oportunidades que surgirem.
Um dia veremos o João como treinador principal de uma equipa?
Espero bem que sim. Os meus objectivos passam por isso. Claro que ainda estou numa fase de aprendizagem, espero no futuro adquirir os conhecimentos para alcançar um patamar que permita esse objectivo, que é uma meta de qualquer treinador.
Quem te conheceu como eu há meia dúzia de anos, verifica que a tua carreira tem sido fulgurante. Não tem sido assim, um pouco precoce?
Tenho que admitir que foi rápido. Na altura, quando entrei para o Boavista, foi para ajudar o treinador dos iniciados que era o Vasco Fragata e sem falsas modéstias, sinto que neste momento já atingi um patamar bastante elevado que é ser adjunto de uma equipa de primeira divisão Nacional e daquela que considera a melhor equipa Nacional de Juniores.
Vi-te como jogador de iniciados, depois juvenis, juniores… regressas para colaborares e de repente, deixas de ser um colaborador e todos te vêem como um treinador de corpo inteiro. O que sentes?
Orgulho naturalmente, mas a consciência que tenho trabalhado para atingir esse estatuto. Tem sido rápido, mas tem sido conquistado por mim. Por isso, tenho orgulho nisso! Fico feliz por saber por intermédio de jogadores e agora pela voz do senhor Pina, que gostam do meu trabalho. É bastante ouvir esses comentários como é gratificante sentir o entusiasmo dos jogadores nos treinos que eu dirigi.
Mas a tua decisão desportiva, foi quando abandonaste a prática como atleta, para tão jovem apostares no cargo de treinador. Como se processou essa decisão?
Quando estive no plantel júnior do Foz, a minha aposta era fazer parte do plantel sénior na época seguinte, porque o Foz estava na segunda nacional. Com a mudança de treinador isso não foi possível e como não iria fazer parte do plantel. Aí tomei a decisão de apostar na carreira de treinador abandonando a carreira como jogador. Preferi isso que ir jogar para uma equipa do distrital só para me entreter. Sempre joguei e habituei-me a jogar para vencer.
O treinador do Voleibol do Boavista, defende que até aos juniores todos têm o direito de jogar, depois deste escalão, todos devemos analisar se devemos ou não continuar. Concordas com esta visão?
Completamente de acordo.
O Brasil é sinónimo de desporto. Como vais responder aos Brasileiros quando te questionarem sobre o Boavista?
Vai ser complicado. Para além de toda a gente saber a minha opinião sobre esta realidade, também tenho que dizer que sinto que o Boavista, e não só o futebol, está a ser alvo de várias injustiças. Sinto que a sociedade já tem aquele julgamento, que se é Boavisteiro é corrupto!
É habitual perguntarem, então o teu clube ainda não acabou? Eu não terei problema algum de chegar ao Brasil e dizer que o Boavista ainda não está morto, que o Boavista ainda pode renascer das cinzas. E afirmar que há milhares de pessoas a trabalhar para que o Boavista possa renascer.
O João Marques, crítico vai dar lugar ao João do laço… no Brasil?
A minha opinião não vai mudar, mas é óbvio que lá não assumirei a minha opinião critica e tentarei transmitir um ideal de esperança e força em defesa do meu clube.
Mas o João ainda não partiu. E pergunto, tens esperanças neste Boavista?
A nível de clube, acho que cada vez está mais difícil, porque cada mês que passa as dividas vão aumentando e não está a ser feito nada para que essa situação seja alterada. Está a ficar cada vez mais complicado, mas optimista como sou, e vendo uma quantidade de pessoas que apostados em trabalhar para o Boavista, espero que tudo um dia melhore… mas vai ser muito difícil.
No teu regresso, estás à espera que os teus juniores estejam no aeroporto para te entregarem a tua faixa de campeão nacional?
Era bom sinal. Era sinal que tínhamos alcançado os nossos objectivos. Embora defendamos que estamos na formação mais para formar homens para o futuro e jogadores para entrar numa equipa competitiva de seniores e mesmo numa futura selecção, mesmo assim, é óbvio que ser campeões seria fantástico. Era sempre muito bom ter lá no aeroporto a tal faixa à minha espera.
Alguma mensagem para os teus jogadores?
O que tinha a dizer já lhes disse. Tenho que agradecer tanto aos juniores como aos seniores o prazer que tive em trabalhar com eles, ver que jogadores que tanto deram ao futsal nacional, considerados dos melhores que jogaram em Portugal, reconhecerem o meu trabalho isso é para mim espectacular. Desejo que todos consigam atingir os seus objectivos, que isso é que é fundamental.
Entrevista de Manuel Pina