César Vasconcelos, é o técnico da equipa júnior de andebol. Um homem
calmo e consciente das dificuldades que a participação no escalão principal,
lhe tem apresentado, mas simultaneamente, consciente das hipóteses de
manutenção.
Sabia de antemão das dificuldades que iriam encontrar nesta fase da
época, como analisa a participação da equipa? A situação está mais difícil do
que esperava?
Estão mais difíceis, claro que estão. Esperávamos ter nesta altura
mais três/quatro vitórias e não ter tantos resultados desnivelados, como temos
tido. Por este prisma, está a ser uma surpresa, embora pela negativa, a nossa
participação na prova.
O Boavista apresenta na sua equipa três ou quatro jogadores juvenis,
enquanto os outros apresentam jogadores que jogam nas equipas seniores. Isso,
não desequilibra mais a prova?
Sim. Nós temos habitualmente a jogar três jogadores do escalão de
juvenis, curiosamente, um do primeiro ano, outro de segundo e ainda outro de
terceiro ano de juvenis. Fomos agora, buscar mais um jogador desse escalão, o
guarda-redes, o Antero, também de segundo ano. Sabemos que é complicado quando
jogamos com equipas, com atletas que jogam nos seniores e que conseguem
adquirir um traquejo competitivo muito forte. Nós também os temos, mas num
nível mais baixo, que outros clubes como, Porto, ABC e outros clubes. Enquanto
os nossos seniores estão a disputar a terceira divisão, alguns dos atletas
juniores dos clubes adversários, estão a disputar a segunda e primeira divisão
nacional. É uma diferença muito grande de ritmos de competição. A meu ver, o
nível e ritmo do campeonato da primeira divisão de juniores consegue ser
superior ao nível do campeonato de seniores da terceira divisão, o que faz com
que haja uma maior diferença de ritmos competitivos entre nós e alguns dos
nossos adversários. No entanto, o nosso objectivo é mantermo-nos e
posteriormente, com os conhecimentos que vamos adquirindo, penso que estaremos
muito competitivos nos próximos anos e até (já) no próximo.
Esse objectivo, passa pela manutenção?
Tudo isto, irá por água-abaixo, se não conseguirmos assegurar a
manutenção, porque se o conseguirmos iremos receber os actuais atletas de
juvenis que virão consolidar este projecto, tornando o andebol do Boavista
sustentável e altamente competitivo.
Tem que continuar a trabalhar, para esse objectivo?
Sim, nós trabalhamos bem, só que os resultados não têm sido positivos.
Fazemos análise de vídeo, fazemos musculação, realizamos quatro treinos
semanais. Nós treinar, treinámos e espero que o resultado desse trabalho
apareça com o tempo, mesmo a curto tempo. Dou o exemplo, de um dos últimos
jogos, em que ao intervalo, estávamos a perder por seis com o Águas Santas e
tínhamos perdido sete situações de contra-ataque. Temos debatido esse ponto e
sabemos que a nossa situação passa pela eficácia, ou falta dela, no
aproveitamento dessas jogadas de contra-ataque. Temos que melhorar nesse
aspecto.
O plantel era o pretendido no início, ou ficaram algumas aquisições
desejadas por fazer?
Nós estamos a falar de juniores e não é habitual realizarem-se
contratações. Mesmo assim, tivemos sete entradas novas no clube. Tenho que
concordar, que também contactamos outros atletas que não conseguimos fazer com
que eles ingressassem na nossa equipa. Depois de começar a época, assumimos que
é este o nosso plantel para a disputar o campeonato.
Se me permite, na análise que fiz aos jogos que restam disputar,
haverá três/quatro jogos de perder, mas será nos outros que terão que assegurar
a manutenção. Concorda com esta minha visão?
Ninguém joga para perder, mas temos que assumir que há alguns jogos
que será muito difícil conseguir a vitória e há outros jogos que são contra
equipas que nós chamamos do nosso campeonato. E no chamado “nosso campeonato”
já perdemos alguns jogos que devíamos ter vencido. Falhamos em casa com a
Sanjoanense e falhamos agora, fora com o Alavarium e, de certa forma, com o
Espinho em casa, sendo ainda duvidoso com o Gaia se eles serão superiores ou
não. Tenho a ideia que devíamos ter vencido os dois jogos com o Gaia. Devíamos
ter vencido. Claro que todos quisemos vencer os jogos, mas não fomos
competentes para o conseguir.
Nesse percurso de treinador de formação, sente independentemente do
resultado final da prova. Que formou alguns jogadores, a quem reconhece
evolução em alguns atletas?
Estamos a falar da fase final da formação de atletas. Estou cá há um
ano e meio e já verifico evolução em alguns atletas. Alguns que eram da equipa
da equipa juvenis do ano passado e jogavam na equipa de juniores, outros que
eram do primeiro ano de juniores da época passada. É claro que se nota evolução
técnica em vários atletas, sendo que é mais difícil notar essa evolução nestas
idades do que quando eles são mais novos. Mas nota-se evolução, por exemplo na
baliza, notei evolução no guarda-redes do ano passado que este ano já é sénior,
o Bernardo. Houve evolução em vários atletas que eles próprios reconhecerão.
Mesmo com os juvenis, nota-se uma grande evolução ao traze-los "cá a
cima", evoluem na forma de estar no jogo (aspecto mais táctico), assim
como nas soluções técnicas.
Duas realidades, a nível de
resultados entre os dois escalões…
Realmente, temos aqui uma dicotomia. Os juvenis só com vitórias em
todos os jogos e os juniores com a maioria de jogos com derrotas. Mas a
aprendizagem que se faz é completamente diferente, mesmo com derrotas, a
aprendizagem que se faz nos juniores é bastante superior ao que se consegue nos
juvenis, mesmo vencendo. A nível de mentalidade competitiva, os juvenis que sobem
a juniores conseguem evoluir mais e com mais consistência.
Na próxima época, independentemente da divisão em que estiver, a época
será mais fácil, pelo conhecimento e evolução. Concorda?
Dificilmente vamos sentir as dificuldades que temos conhecido. Primeiro,
porque já temos um ano de adaptação. Segundo, porque alguns atletas que vieram
este ano de clubes de menor nível competitivo e exigência, já estarão
igualmente mais adaptados à nova realidade. Estes reconheceram que temos um
nível competitivo e exigência, que não se equiparava ao que estavam habituados.
Estamos a falar de ex-atletas do CPN do Lusitanos, etc… atletas que jogavam
para perder por pouco mesmo numa segunda divisão. Aqui e apesar de eu ser muito
exigente com eles e mesmo tendo perdido vários jogos, tenho a certeza que a
exigência de treino é muito superior ao que estavam habituados.
Uma pergunta traiçoeira, para si. Considera positivo o seu trabalho,
nesta época independente de conseguir ou não a manutenção? Seria mais positivo
para si, estar na segunda divisão vencendo sempre, ou nesta divisão mesmo com
muitas derrotas?
Essa pergunta, faz todo o sentido porque me apanha numa situação que
nunca tive na vida, que é a situação de tentar ganhar e chegar a esta altura da
época e nem sequer conseguimos 50% de vitórias nos jogos disputados. Isto é um
facto que me obriga a colocar muita coisa em causa, como é evidente. Será que o
problema sou eu? O que é que está mal aqui? Se era melhor, estar nos juvenis ou
nos juniores? Eu gosto de estar a disputar a primeira divisão nacional de
juniores, sou provavelmente o treinador mais jovem desta competição. O nível
competitivo desta prova, é muito elevado e permite-me evoluir como técnico. É
sempre uma aprendizagem e uma formação, que nós treinadores também vamos
fazendo. A própria gestão em jogo é completamente diferente, a preparação dos
próprios jogos, também é muito diferente e faz parte da minha aprendizagem. Eu
não sou um treinador veterano e tenho de aproveitar estas experiências para
evoluir.
Um treinador de formação, em formação?
Sim, é mesmo isso e penso que é positivo! Todos nós gostamos de ganhar
e eu também gostava de estar a ganhar todos os jogos. Também a mim me ia fazer
falta este ritmo competitivo, portanto, colocando na balança o sucesso de
resultados numa 2ª divisão, ou o insucesso de resultados numa 1ª divisão, o
resultado deve ser semelhante.
Tudo passa por marcar mais golos que o adversário?
Fundamentalmente é isso que decide o resultado final.
Entrevista realizada por Manuel Pina
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