quinta-feira, 4 de julho de 2013

PROFESSOR JOSÉ MACHADO, REGRESSA AO VOLEIBOL DO BOAVISTA

Quem conhece a história do voleibol axadrezado conhece o professor José Machado que venceu tudo o que havia para vencer no passado glorioso do Boavista FC na modalidade.
Com o início de um novo ciclo na modalidade, dentro do Bessa, José Machado regressa ao comando da nau axadrezada.
O Campeão que venceu mais de 95% dos títulos do Boavista

Marcamos uma entrevista para uma esplanada na foz, mas a nortada (ontem) enviou para o interior de um estabelecimento digno de ser visitado. Não foi só uma entrevista, porque a ela se seguiu uma preparação de toda uma época, já que fomos acompanhados do Vice-presidente, Eng. António Marques.

Vamos então conhecer José Machado.

Comecemos por ai, quem é o cidadão José Machado?
Sou professor de educação física na escola Carolina Michaeles. Tenho formação nas áreas de futebol e de voleibol, mas principalmente no voleibol. Estou na modalidade desde setenta e oito e tenho os cursos de primeiro, segundo e terceiro grau.

Antes de técnico, foi jogador de voleibol?
Fui atleta, mas um atleta de nível fraco, treinei e joguei no CDUP e Fluvial, portanto nunca me considerei um atleta de tope.
Modéstia?
Não, rigor de técnico.

O professor tem uma passado riquíssimo, já verifiquei que quer evitar falar dele –mas vai regressar à casa em que tudo venceu e vou “obriga-lo” a recordar esses tempos. Ora conte lá, um pouco dessas conquistas.
Grosso modo, sublinho… conquistamos! Nada se conquista individualmente. Conquistamos uma série de Campeonatos Nacionais da primeira divisão, Taças de Portugal, Supertaças. A nível internacional estivemos em várias competições onde chegamos aos  quartos-de-final da Taça Confederação Europeia de Voleibol – comparado actualmente a uma Liga dos Campeões – e na Taça da Confederação, também chegamos, por duas vezes, aos quartos de final. Penso que temos um assado rico, não lhe vou enumerar quantos títulos porque não os sei de cor… cinco ou seis Taças de Portugal, supertaças, umas poucas e fomos também os campeões do segundo lugar. (risos).
Porque diz isso?
Porque temos dez ou onze segundos lugares, numa situação em que haviam equipas que tinham um poderio superior ao nossos, tendo seis/sete estrangeiras. Nós discutíamos sempre até à última mas haviam depois pequenas coisas que… bem que nos colocava no segundo lugar. Diz-se que o segundo é o primeiro dos últimos mas também fomos dez ou onze vezes segundo.
Conversando com o Vice_presidente

O professor continua à defesa, mas eu sou atacante. Sei que foi Seleccionador Nacional, Verdade?
Sim fui seleccionador Nacional de Juniores, onde acabamos em terceiro numa poule de seis.
Excelente resultado do voleibol a nível internacional…
Sim, creio que sim. Fui também Seleccionador de seniores, durante umas quatro épocas, mas não me peça datas que eu não quero errar.
Vamos lá para universos da pantera.

O Regresso
Diga-nos o que é que consegue tirar do sossego de um sofá, uma homem que já venceu – por diversas vezes – tudo. O Engenheiro António Marques, o amor ao clube, ou o bichinho do Volei?
É tudo junto. Primeiro, a pessoa que me faz o convite que foi o eng. Marques a quem eu seria incapaz de dizer não! O clube que em si que me diz muito e depois, claro, o bichinho da competição. Ainda penso que tenho capacidade para fazer coisas engraçadas e por isso, estou aqui para tentar ajudar.

Traz consigo algum adjunto para formara a equipa técnica?
Trago um homem que é mais que um adjunto, trago o  Nuno Costa, que já trabalhou comigo no Boavista e volta comigo e vou contar com a colaboração de uma treinadora que é a Sara Gomes.

O trabalho do professor vai ser restrito à equipa sénior, ou também se estenderá um pouco à formação?
Primeiro de tudo, nós precisamos de nos organizar, para ir de encontro aquilo que são os objectivos do Boavista, que são nas diversas modalidades, estar no primeiro nível competitivo. Vamos fazer um apanhado do que há, eu conheço pouco ou nada da actual situação, passaram já sete ou oito anos que eu saí do Clube e por isso estou um pouco desfasado do momento actual e da realidade. Depois de ter conhecimentos, vamos em conjunto com os outros treinadores definir uma estrutura que consiga abarcar a parte formativa da formação e a parte competitiva.

Mas tem alguma ideia preconcebida sobre o assunto?
É nossa ideia, pegar já em alguns valores emergentes e poder ter um período de tempo para durante a semana poderem trabalhar em conjunto, mas ainda é muito cedo para falar sobre isso.
Pensando a resposta diplomática

O Boavista
Como está o plantel, formado ou em construção?
Estamos ainda a construi-lo, digamos que nesses aspecto o conhecimento que eu tenho é muito pouco. Do anterior plantel, houve atletas nucleares que saíram, como seja a central a Catarina Liz e a distribuidora, a Mafalda. Vamos ver se conseguimos colmatar essas baixas e mais alguma que ainda venha a acontecer. Essa é a  nossa grande interrogação, embora ainda seja cedo, é o primeiro problema a resolver.

Uma situação muito diferente do passado, tem a noção disso?
Absolutamente. Eu no passado tinha todo o conhecimento, porque a equipa do Boavista apareceu de uma forma sustentada, da formação da escola Carolina Michaeles e depois foi só desenvolve-la. Portanto, não tendo, neste momento essa base sustentada, temos que a criar e iremos cria-la aos poucos.

Não é trabalho para um ano…
Não. Isto é um trabalho para implementar durante um período superior e construir um conjunto de regras que nos possa. Ao fim de alguns anos, voltar a sonhar com os primeiros lugares.
Mas a realidade actual… (interrompeu-nos)
São completamente adversas e diferentes, eu sei disso!

Quais os objectivos desportivos?
Primeiro organizar uma equipa, torna-la competitiva, torna-la solidária e depois, os nossos objectivos serão jogo a jogo. Se pudermos ir tão longe, que nos permita sonhar nós vamos. Se não der para sonhar, há que criar os alicerces para no futuro o conseguirmos, juntando gente jovem ao grupo e acreditando que se não neste ano há-de ser no outro e acabar lá em cima.

O clube irá regressar no futebol ao escalão máximo. Pode ser em 2015 quase o regresso do grande Boavista isso pode coincidir com o renascimento (permita-me o termo) do voleibol.
Espero que sim, para alegria de todos.

Quantos treinos quer realizar por semana?
Eu precisava de treinar todos os dias, mas sei que é utópico, vamos ver se com três ou quatro sessões semanais conseguimos cumprir os nossos objectivos.
Trocando ideias com o Vice
Se puder escolher qual o pavilhão em que prefere jogar?
O Fontes pereira de Melo, é o pavilhão dos Boavisteiros! Depois que deixamos de ter pavilhão este é o nosso pavilhão, portanto, quero jogar nele, queremos estar junto aos adeptos e junto ao coração do Clube. Em termos de espaço para jogo é claramente superior ao Pêro. Nesse aspecto, conto com o trabalho do director Artur Nunes e com o engenheiro Marques.

Já conhece o novo director?
Sim, falamos regularmente os dois e estamos a trabalhar em sintonia.

O Voleibol
Como vê o voleibol feminino nacional?
Sou um pouco suspeito para falar disso, eu continuo a pensar, que ou se trabalha mal a formação ou a formação é muito mal aproveitada. Quando vejo na primeira divisão feminina jogadoras com quarenta e seis e quarenta e sete anos a jogar… alguma coisa não vai bem. Sinto que a formação no nosso país não tem sido rentabilizada, eu deixei o voleibol de primeiro nível à cerca  de oito anos, continuo a ver quase as mesmas jogadoras nas selecções nacionais, algumas delas que ajudei a formar como atletas e sinto que, a nível de atletas de valor, não aparecem com a quantidade que seria de desejar. Nesse aspecto, o nosso voleibol não tem evoluído.Os campeonatos nacionais estão mais pobres, menos competitivos, limitam-se a uma duas equipas, ainda há cinco seis anos era uma campeonato com quatro equipas a lutar com objectivos agora limita-se a duas equipas.
Soluções?
Fazer alguma coisa para inverter este estado de coisas, e para isso, é apostar na formação.
Não passa muito pela coragem dos treinadores para lançar essas jovens?
Obviamente, temos que apostar na formação e lançar jovens, mas para isso, temos que formar bem.

Os quadros competitivos, esta época serão alterados?
Não. A segunda divisão será disputada da mesma forma da época passada. Em três fases.

Não considera que seria mais competitivo se as houvesse apenas uma serie a norte e outra a sul, em vez de duas em cada zona que obriga a uma repetição de jogos?
O ideal seria criar uma zona norte com oito equipas e outra igual a sul, mas talvez se prejudicasse tudo pela falta de competitividade no decorrer do campeonato. Desta forma, a prova tem três fases e acaba mais equilibrada, mas o ideal seria uma série.

Que treinador vão descobrir as jogadoras do Boavista que eu conheço pela solidariedade e garra que poem no jogo. O Pardalejo era extrovertido, exigente  e amigo. E o José Machado?
Também sou extrovertido, também sou ambicioso, também sou impulsivo e amigo, portanto, não vai mudar muito do que elas tinham e estavam habituadas. No entanto, eu como conheço mal a realidade, tenho que primeiro entrar nela para depois puder opinar. Mas espero que a gente tenha guerreiras e solidárias. O voleibol é uma modalidade que exige muito do grupo, as individualidades só por si, não resolve nada. Espero que estejam dispostas a trabalhar, para atingirmos o que desejamos que é o primeiro lugar.

Entrevista 


de Manuel Pina



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