Jorge Rodrigues, um dos melhores
(provavelmente o melhor) andebolista português de sempre, é o actual treinador da equipa Juvenil de andebol
do Boavista F.C. que disputa a 1ª Divisão Nacional.
Uma viagem na vida de Jorge
Rodrigues, uma viagem pelo mundo do andebol.
Um campeão, que acredita nos
jovens do Boavista.
UM DESPORTISTA DE VÁRIAS
MODALIDADES
Mister, tive o prazer de o ver
jogar várias vezes, mas vamos apresentar o Jorge Rodrigues aos mais jovens,
recuando aos primórdios. Porquê o andebol, na sua opção?
O Andebol, foi a minha última
modalidade e não a primeira. Comecei por jogar hóquei em patins federado no
Sporting de Lourenço Marques (actualmente Maputo) no tempo de Fernando Adrião.
Primeiro com o pai na patinagem, depois com o filho no hóquei. Depois dessa
fase, passei a representar o Ferroviário de Lourenço Marques.
É Moçambicano?
Não, mas vivi lá durante cinco
anos. Sou natural da Apúlia.
Continuemos…
Para além do hóquei, comecei a
praticar corta-mato no desporto escolar. Eu gostava muito de atletismo. A minha
família regressou ao Continente e passei a viver em Almada, onde existiam
muitas dificuldades para continuar a jogar hóquei, por não existirem clubes
para essa modalidade. Mesmo assim, estive para acompanhar o meu irmão que
jogava hóquei no Belenenses, mas ele sofreu um acidente e teve que amputar um
braço e… acabou o hóquei na minha vida.
E apareceu o andebol?
Em Almada, mas dentro do
desporto escolar, que era nessa altura a base de recrutamento e formação do
andebol.
Em que ano estamos a
localizarmos-no?
Comecei no andebol em 1971.
Mas antes disso, comecei a
fazer atletismo no Benfica, no meio-fundo. Só que para treinar eu tinha que
atravessar todos os dias o Tejo. Era carro, era barco, era autocarro e depois a
pé. O Benfica treinava no CDUL. Era complicado e os meus colegas começaram a
tentar convencer-me a abandonar o atletismo e ir para o andebol do Almada, para
onde iam todos da nossa escola. E lá fui eu para o andebol e para o Almada onde
estive quatro anos, numa época de juvenil, uma de júnior e duas de sénior.
E começou a sua carreira de
grande jogador. Em que clubes?
Do Almada passei para o
Belenenses, onde fui bicampeão nacional, numa época em que o clube esteve quase
a não ser inscrito, por causa de uma crise de dirigentes, que quase não
inscreviam o clube, depois deste ter sido campeão. Por fim lá o inscreveram e
voltamos a ser campeões nacionais.
Mas depois mudou. Para onde?
Para o Sporting, onde também
fui campeão nacional
E em seguida vem para o norte.
Como deixou o Sporting, que era um baluarte no andebol?
Estava a passar férias na
Apúlia e houve um “ataque” surpresa de uma comitiva portista, com o
vice-presidente Teles Roxo, que era director de andebol - que foi posteriormente, meu padrinho de
casamento – o António Cunha, o José Magalhães e o Manuel Jorge.
O António Cunha desde quando eu jogava no Almada que tentava trazer-me para
o norte. Aceitei as condições, mas como
tinha compromisso com o Sporting tudo passava pelo clube de Lisboa. Mas
libertaram-me,
graças ao Sr. Fiel Farinha que era um grande dirigente e, então vim para
o
Porto, onde estive três anos. Viria a continuar a carreira na Suíça,
onde fui
profissional durante cinco anos. por fim, regressei a Portugal para
ingressar no ABC, onde estive seis anos e lá terminei a carreira de
jogador.
Recorda-se de quantas
internacionalizações teve?
Penso que 93. Podia ter
ultrapassado as 100 como alguns colegas da minha geração, mas o facto de ter
ido para a Suíça impediu, muitas vezes, de ser convocado, pelas despesas que
isso provocava à federação. Durante a minha carreira de 16 anos, fui sempre
convocado para a Selecção Nacional.
Quantos títulos conquistou?
Fui sete vezes campeão
nacional, venci cinco Taças de Portugal e três Supertaças, isto como
jogador.
Como treinador, conquistei uma Taça de Portugal e uma Supertaça, ao
serviço do
Porto. Eu fui o treinador do Porto, no primeiro ano em que o Pinto da
Costa passou a Presidente do Clube e venci a Taça e Supertaça.
O ACTUAL ANDEBOL
Vamos deixar a apresentação de um
desportista e passar ao andebol globalmente falando. O atual andebol é muito
diferente ou nem por isso do andebol do seu tempo?
Em algumas vertentes está
melhor. Os atletas, actualmente, começam mais cedo e têm um tipo de treino mais
adequado à competição. Mas em termos de potencial e de talento, as coisas
divergem. Os jogadores são mais trabalhados, têm mais tempo de treino e por
isso, tem possibilidades de evoluir muito mais.
Mas fico sempre com a ideia que
o andebol, é (agora) de mais choque e menos técnico. Concorda ou nem por isso?
Nós tínhamos uma visão de jogo
diferente. Antigamente era o desporto escolar a nossa formação, agora essa
formação é feita pelos clubes. O desporto escolar não tem a importância que
tinha naquela altura, porque havia um campeonato escolar forte e só depois dos
juvenis é que os clubes iam convidar os jogadores.
O senhor é o treinador mais
conceituado a trabalhar na formação. A que se deve tal facto?
Primeiro por falta de
apresentação de projectos credíveis. Eu fui um dos primeiros treinadores
profissionais em Portugal, foi um risco que assumi em determinada altura e há
uns anos a esta parte optei por treinar formação. Estive ligado a um grande projecto
a nível de formação que não teve continuidade por falta de estabilidade
financeira.
O BOAVISTA
E como se dá o ingresso no
Boavista?
Eu estava num projeto do ABC de
Braga e o Hugo Mota convenceu-me a vir para o Boavista.
A equipa de juvenis, consegue
uma primeira fase calma e neste momento atravessa um período complicado. A que
se ficou a dever esta situação?
Quando começamos tínhamos cerca
de vinte e tal miúdos no conjunto das duas equipas de juvenis. Optamos por
colocar os mais jovens na equipa “B”, para poderem ter mais jogos e não irem
aos “A” com pouca competição e jogarem menos tempo.
Começamos mal, porque não nos
conhecíamos, diferenças de treinos etc… mas encarreiramos e estávamos a ficar com
uma equipa muito competitiva capaz de lutar pelos lugares de apuramento, que
eram os três primeiros. Entretanto, as lesões aparecem e o plantel não era
muito largo em termos de mais-valias, mas conseguimos colmatar essas lacunas
com jogadores menos utilizados.
As lesões foram muitas?
Perdemos a base da equipa.
Quando falha um ainda se vai compondo, mas sem a base ofensiva/defensiva as
coisas complicaram-se, porque os outros ainda não estavam prontos para assumir
as faltas.
Houve um mês critico, que foi
Dezembro. Muitos miúdos saíram, por castigo dos pais por maus resultados
escolares outros por outra razão, ou porque não se sentiram capazes e
abandonaram o andebol. Parecia que a época se ia iniciar de novo, provocando um
grande quebra competitiva.
Neste momento como se encontra a
equipa e o que espera até ao final da prova?
Temos tido jogos equilibrados
com resultados tangenciais que podíamos ter conquistado pontos. Depois quando
nos deslocamos a determinados pavilhões, as arbitragens deixam muito a desejar.
Queixas da arbitragem?
É mesmo gritante a incapacidade
de vários árbitros. Os jogadores são novos e estão numa idade de afirmação, de
reação e de calma. Como não a conseguiram totalmente, reagem às injustiças e
depois desistem. As duplas de árbitros fazem vários jogos por dia e depois,
aquilo é só “picar o ponto”.
Como treinador teme a descida de
divisão?
Não. Falta-nos vencer um jogo (nr o Boavista venceu este sábado) mas
temos que o ganhar e já o podíamos ter ganho. Em Espinho estivemos a jogar bem
durante muito tempo e em casa com o Infesta, merecíamos pelo menos, o empate.
Alguma coisa o incomoda no
momento?
Temos tido muito pouca gente a
acompanhar a equipa, com um pavilhão que fica aqui ao lado do Bessa. Vamos
jogar fora e temos muita massa adepta, a puxar a incentivar a empurrar a equipa
da casa, e nós em nossa casa estamos quase
sozinhos.
Como treinador de formação, como me explica que
uma equipa se tenha deslocar cerca de duzentos quilómetros para disputar um
jogo com início pelas doze horas?
É uma maneira de a federação
poder gerir os árbitros. Obviamente que uma equipa à qual isto acontece, entra
meia vencida no jogo.
Isto não é antítese da verdade
desportiva?
É claramente, mas as leis permitem.
Para continuar no Boavista, irá
impor algumas normas?
Nem por isso. Tudo parte da
vontade dos atletas.
No momento, temos vinte tal
juvenis, vinte e tal iniciados e vinte e tal infantis. Estes são a base do
trabalho para o futuro. No escalão de Iniciados temos bons miúdos, tanto que
grande parte deles estão a jogar no juvenis nas duas equipas, devido à carência
da equipa de juvenis, pelas lesões que aconteceram. Temos uma boa massa para
poder trabalhar.
Sente-se atraído pelos jovens
dessa equipa?
Eles próprios têm que sentir
que querem jogar e querem evoluir. Isso passa pelo próprio atleta mas também do
acompanhamento dos pais. Na responsabilidade que têm que assumir porque as
distrações são muitas, principalmente no escalão de juvenis que é uma idade de
afirmação pessoal e logo, muito complicada e critica. Têm muitas atividade que
os podem distrair daquilo que os treinadores pretendem.
Têm que se começar cedo para se
ver os que gostam, os que querem e apostam. Com esses posso continuar a trabalhar.
NOTA: Na
próxima semana será publicada uma entrevista (complemento) com Jorge
Rodrigues, na qual nos debruçaremos, sobre outros assuntos de carácter
global do Andebol
Entrevista de
Manuel Pina
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