domingo, 16 de abril de 2017

MARIANA SÁ, COORDENADORA DE GINÁSTICA ACROBÁTICA

O OBJECTIVO PRINCIPAL, É CLASSIFICAR TODOS OS ATLETAS PARA O CAMPEONATO NACIONAL 

Mariana Sá, é actualmente a coordenadora/treinadora da ginástica acrobática do Boavista, no seu regresso ao clube que representou durante anos como atleta.


Vamos fazer a sua apresentação?

Chamo-me Mariana Sá, tenho trinta e quatro, sou professora de educação física e treinadora de ginástica acrobática. Fui atleta do Boavista durante cerca de quinze anos.
Vamos falar mais em pormenor dessa fase. Como entrou no Boavista?

Cheguei cá com três/quatro anos, nas classes de iniciação e depois, por volta dos meus cinco anos de idade, passei para a acrobática.

E porquê acrobática e não outra modalidade?

Não me recordo bem, mas penso que os meus pais ainda me fizeram experimentar na artística, mas como era muito pequena, ainda não deveria ter a força ou o músculo para continuar na modalidade e essa foi  a razão para passar para as classes mais de iniciação.

Parecido com o actual playgym?

Podemos considerar assim. Isso, aconteceu nas instalações localizadas aqui por cima.

Depois disso?

Depois. Passei para a acrobática.

Ainda como atleta, tem alguns resultados mais significativos que se recorde?

Julgo que a nível distrital e até nacional, conseguimos alguns bons resultados. Nessa altura, a modalidade não estava tão desenvolvida como está actualmente e os resultados não poderiam ser muito mais significativos. Estávamos no início.

Pelo que julgo, aconteceu uma interrupção entre a atleta e o aparecimento da treinadora. A que se ficou a dever tal facto?

Eu deixei a acrobática e o Boavista, quando ficamos sem o pavilhão Acácio Lelo. A ginástica do Boavista, nessa fase, ficou um pouco partida e complicada, coincidindo com a minha entrada na Faculdade. Tudo junto, originou que eu terminasse a minha carreira de atleta.

No seu regresso, já como treinadora, não veio de imediato para o Boavista. Em que clubes trabalhou?
Entrei para o Sport Clube do Porto, porque havia lá muita gente conhecida que tinham saído do Boavista, por causa do desaparecimento do pavilhão, ingressado naquele clube. Isto aconteceu há cerca de seis anos.


Como se dá o regresso ao Boavista?

Foi um pouco acidentalmente. O treinador que estava no clube saiu e a Carina que me conhecia, quis saber a minha opinião a cerca de um possível regresso. A Carina, conhecia-me bem das provas porque para além de treinadora eu sou Juiz, e assim, existia grande contacto entre nós. O processo, desenvolveu-se e a Directora Sara Monteiro, convidou-me oficialmente e eu aceitou com enorme prazer.


Sei que lhe reconhecem (já) a responsabilidade de um grande desenvolvimento da acrobática do Boavista. Como encontrou a acrobática do Boavista, no seu regresso?

Quando cheguei em meados de Novembro e a equipa já estava formada, ou seja, tudo que havia para decidir no referente a esta época estava praticamente decidido. Os grupos, estavam formados e por isso, aí, não pude mexer muito. Acho que os grupos estavam bem constituídos e considero que têm muito potencial, precisam de trabalhar um pouco mais e de gostar mais do que fazem.

Quantas atletas tem no momento?

Temos cerca de trinta atletas.

Mas já foi implantando algumas alterações para o futuro?

Quero implementar algumas coisas para alterar mentalidades. A diferença que eu notei em comparação com o Sport, é que vejo que os miúdos consideram que já atingiram o máximo e não conseguem mais. Por isso, temos que fazer um treino mais metódico, com menos brincadeira, com mais objectivos.

Vai ser a sua aposta?

Vai ser uma grande luta. Não só com os atletas, mas também com os pais. Há muitas faltas aos treinos, porque os próprios pais, não vêem isto, como tão importante e séria, como acho devem passar a ver.


Qual a constituição da sua equipa técnica e que tempo de treino têm semanalmente?

Trabalho com mais duas colegas, com a Carina Garcia e o Jorge Teixeira. Curiosamente, o Jorge foi meu atleta no Sport e por isso, acho que estamos bem identificados. Os três fazemos uma boa equipa. 
Treinamos quatro dias por semana, cerca de duas horas e meia por dia e já consegui que o Artur (Coordenador da artística) no cedesse o ginásio um, a partir das dezanove horas e vamos intensificar os nossos treinos.

Objectivos?

O principal objectivo, é que os atletas consigam classificar-se para o campeonato nacional. Sabemos que nesses campeonatos, será difícil conquistar algum pódio, porque ainda é cedo. Sabemos que o ano passado o Boavista, só levou um grupo ao nacional. Neste momento, nós temos seis grupos que podem ser apurados e o nosso desafio é esse mesmo.

Como se consegue ser professora profissional, treinar duas horas e meia aqui?

E mais a família em casa, acrescento eu. É preciso uma ginástica muito grande mas tudo se consegue, quando gostamos de tudo.

Para além de treinadora, ao contactar diariamente com esta juventude, sente-se também uma formadora de “gente do amanhã”?

Esse é dos objectivos, talvez mesmo o principal e mais importante. Ao fim e ao cabo, nós damos as ferramentas e eles trabalham. É muito positivo, vermos depois os resultados conseguidos, por todos.

domingo, 9 de abril de 2017

CARLA FARIA, UM CASO RARO QUE PODERIA TER DESTUÍDO UMA CARREIRA E NÃO SÓ

SALVA PELO ATLETISMO

Carla Faria, uma das melhores atletas do Boavista Futebol Clube na modalidade de atletismo. Atravessou uma fase difícil que lhe poderia vir a ter consequências para toda a sua vida.

Mais que conhecermos as razões, esta entrevista pode servir para um “grito de alerta” para as “facilidades”, como por vezes, encaramos alguns factos a nível de saúde e prova, que muitas das vezes a prática do desporto, nos revela situações, que sem essa prática poderiam passar ao lado.

Carla Faria, no seu jeito simples de ser e com a coragem de saber estar, entrou em pormenores (sem medo) da sua vida intima, para nos explicar este caso, intrigante, que lhe poderia ter destruído o seu futuro (vítima de um fármaco que em França provocou a morte a dezenas de jovens mulheres).

Mais que explicar a travessia de um deserto de resultados, Carla, atravessou um temporal com consequências nefastas para o seu futuro.

Salva pelo atletismo, que lhe ajudou a fechar a “Caixa de pandora”.

Vamos a factos!


Carla, tenho conhecimento que esta época te está a correr ao lado. Quais as razões deste afastamento de resultados?

Eu, comecei a época mesmo mal, chegando a pontos de quase não conseguir correr, com um cansaço enorme e constante.

Desculpa interromper. Mas qual a razão? Abrandamento nos treinos?

Não. Eu continuei a treinar como sempre o fiz, mas sentindo muitas dificuldades, daí começar a pensar que as razões eram de cariz de saúde. Mais tarde, confirmei este palpite, após ter feito as provas de pista coberta, tendo terminado com tempos miseráveis, os meus tempos foram simplesmente miseráveis.

Assim, decidi ir ao médico, que me mandou fazer várias análises e descobrimos o que realmente me causava todos os estes problemas.

Qual era a razão?

Ter iniciado um tratamento para o acne, passando por um medicamento anticonceptivo, que alterou todo o meu ciclo hormonal e vascular.

Não vamos entrar, na tua vida privada, por isso, vamos “dar um salto” sobre o assunto…

Não, (interrompeu-nos) senhor Pina, podemos continuar no tema que acho até importante para esclarecer em futuros casos. Esteja à vontade.

Vamos então saber quais os resultados que as análises apresentaram?

A hemoglobina estava baixa. O colostral estava muito alto e tive que parar com a pílula, que se provou ser a base de todos os desarranjos hormonais e agora sinto-me a voltar ao meu normal.

Em termos de resultados, eles foram assim tão diferentes?

Absolutamente. Em tempos de pista eram horríveis, aliás não podiam ser de outra maneira, pois eu em três meses engordei… oito quilos!

Mas mesmo continuado os treinos?


Sempre treinei, mas o peso aumentava constantemente e mais que o peso eu sentia-me a ficar inchada e a ver o meu corpo a mudar…para pior, mesmo no aspecto de aparência física. Foram tempos horríveis. 

Já que insistes, vamos, então, invadir um pouco a tua privacidade. Como se processou tudo isso?

Tudo começou, ao aparecer-me na face direita, várias “borbulhas” que quase pareciam feridas. Eram horríveis e eu resolvi tratá-las, juntando a isso, o facto de ter um nível de ciclo menstrual, demasiado irregular, o que transtornava a vida desportiva, e durante o mesmo, ter dores horríveis. 
Tudo junto, me levou a consultar o médico, que me aconselhou a iniciar o uso da pílula para “organizar” a minha vida hormonal. As feridas na cara passaram, mas o resto surgiu...

Foi o abrir da Caixa de Pandora”?

Acho que sim. Foi um tempo terrível que passei. Engordei não conseguia correr, inchava e naturalmente a minha moral, como atleta e pessoa. Foi caindo.

Quando paraste com esse tratamento?

Em Janeiro. Depois de ter feito exames clínicos. recuperei e já fiz os nacionais de corta-mato, com os tempos a melhorar, que me fez começar a sentir bem.


Vamos fechar, mas não esquecer, esta fase. A última pergunta (para servir de alerta as jovens interessadas) qual o nome do fármaco que te “envenenou”?


Mas, se vamos encerrar este assunto, quero enaltecer toda a ajuda que o Baltasar Sousa me deu. Como meu treinador, acompanhou todo o processo, entreviu, aconselhou e quando viu aqueles resultados…ajudou a procurar a solução. Não esquecerei.

NR – Para evitar problemas, com marcas, decidimos, não publicar o nome do fármaco, embora a Carla nos tenha identificado o nome.  Pesquisamos na Net e descobrimos, que o fármaco em questão, teve as suas vendas proibidas em França (2013), depois de ter sido provado, que foi o responsável pela a morte (no mínimo) de 27 jovens mulheres, entre os 18 e os 24 anos.
Que resultados obtiveste no regresso?

Nos nacionais oficiais fui décima segunda e nos universitários juniores, fui sexta.

Nessa fase, como te falavam as pessoas?

Todas as pessoas achavam que isto se deveria estar relacionado, com a minha mudança de estilo de vida. A mudança de casa de meus pais para o Porto, a entrada na Faculdade e consequente mudança de hábitos. Os meus amigos, diziam até, que eu tinha entrado na “má vida” de estudante e logo sofria de um stress que me tinha alterado consideravelmente a vida. Nada disso era verdade, mas cheguei a equacionar estar a ser vítima do tal stress.

Vamos entrar na parte desportiva. Como foi o teu regresso?

Como disse foi nos Nacionais de corta-mato, onde corri pelo Boavista e no desporto Universitário. Foi um dia cheio de emoções e dificuldades. Tinha chovido torrencialmente durante a noite e a chuva continuou na manhã da prova. 
A pista estava cheia de “piscinas”, com água a atingir os joelhos, o vento era muito forte e muito frio. Eu equipada com o top, sofri bastante, mas era eu contra o tempo e contra mim.
Vi muita gente a desistir e confesso, que cheguei a pensar o mesmo, mas a luta era contra mim e continuei até final, conseguindo um décimo segundo lugar, na geral.

Quando pensas estar na tua forma?

Estou a sentir-me melhor, a recuperar a minha forma e penso lá para Junho ter tudo resolvido. Tenho que deitar fora estes quatro quilos a mais.

Como corres pelo Universitário?

Eles Jã me conheciam e convidaram-me para representar o Instituto Politécnico do Porto.

Que objectivos para esta época?

Primeiro recuperar totalmente, depois atingir um dos seis primeiros lugares nos campeonatos de pista.

Tu corres em pista com atletas que pertencem a clubes que têm pistas e podem especializar-se nesse sector. Não te sentes um pouco marginalizada, se tivesses as mesmas condições, comparada com elas?

Por um lado, penso que podia conseguir melhores resultados, por outro lado, isso não me incomoda, porque confio totalmente no Baltasar que me acompanha e treina.

Quem vai ficar para trás, no futuro, a Engenheira ou a atleta?

Eu estudo para ser engenheira, mas treino todos os dias para ser campeã de atletismo. Nenhuma irá ficar para trás.

Qual a próxima prova? 

A nove de Abril, participarei nos Nacionais Universitários.

Foi uma travessia no deserto?

Sim. Não fiz os nacionais nem os regionais de pista coberta…não valia a pena, com tempos miseráveis.

Temos a Carla Faria de regresso?

Estou a regressar…

Depois de ter passado pelo inferno…dizemos nós!
Entrevista de 
Manuel Pina

quinta-feira, 6 de abril de 2017

JORGE RODRIGUES, UM CAMPEÃO A FORMAR FUTUROS CAMPEÕES

Jorge Rodrigues, um dos melhores (provavelmente o melhor) andebolista português de sempre,  é o actual treinador da equipa Juvenil de andebol do Boavista F.C. que disputa a 1ª Divisão Nacional.
Uma viagem na vida de Jorge Rodrigues, uma viagem pelo mundo do andebol.
Um campeão, que acredita nos jovens do Boavista.


UM DESPORTISTA DE VÁRIAS MODALIDADES
Mister, tive o prazer de o ver jogar várias vezes, mas vamos apresentar o Jorge Rodrigues aos mais jovens, recuando aos primórdios. Porquê o andebol, na sua opção?
O Andebol, foi a minha última modalidade e não a primeira. Comecei por jogar hóquei em patins federado no Sporting de Lourenço Marques (actualmente Maputo) no tempo de Fernando Adrião. Primeiro com o pai na patinagem, depois com o filho no hóquei. Depois dessa fase, passei a representar o Ferroviário de Lourenço Marques.
É Moçambicano?
Não, mas vivi lá durante cinco anos. Sou natural da Apúlia.
Continuemos…
Para além do hóquei, comecei a praticar corta-mato no desporto escolar. Eu gostava muito de atletismo. A minha família regressou ao Continente e passei a viver em Almada, onde existiam muitas dificuldades para continuar a jogar hóquei, por não existirem clubes para essa modalidade. Mesmo assim, estive para acompanhar o meu irmão que jogava hóquei no Belenenses, mas ele sofreu um acidente e teve que amputar um braço e… acabou o hóquei na minha vida.
E apareceu o andebol?
Em Almada, mas dentro do desporto escolar, que era nessa altura a base de recrutamento e formação do andebol.
Em que ano estamos a localizarmos-no?
Comecei no andebol em 1971.
Mas antes disso, comecei a fazer atletismo no Benfica, no meio-fundo. Só que para treinar eu tinha que atravessar todos os dias o Tejo. Era carro, era barco, era autocarro e depois a pé. O Benfica treinava no CDUL. Era complicado e os meus colegas começaram a tentar convencer-me a abandonar o atletismo e ir para o andebol do Almada, para onde iam todos da nossa escola. E lá fui eu para o andebol e para o Almada onde estive quatro anos, numa época de juvenil, uma de júnior e duas de sénior.
E começou a sua carreira de grande jogador. Em que clubes?
Do Almada passei para o Belenenses, onde fui bicampeão nacional, numa época em que o clube esteve quase a não ser inscrito, por causa de uma crise de dirigentes, que quase não inscreviam o clube, depois deste ter sido campeão. Por fim lá o inscreveram e voltamos a ser campeões nacionais.
Mas depois mudou. Para onde?
Para o Sporting, onde também fui campeão nacional
E em seguida vem para o norte. Como deixou o Sporting, que era um baluarte no andebol?
Estava a passar férias na Apúlia e houve um “ataque” surpresa de uma comitiva portista, com o vice-presidente Teles Roxo, que era director de andebol -  que foi posteriormente, meu padrinho de casamento – o António Cunha, o José Magalhães e o Manuel Jorge.
O António Cunha desde quando  eu jogava no Almada que tentava trazer-me para o norte. Aceitei as condições, mas  como tinha compromisso com o Sporting tudo passava pelo clube de Lisboa. Mas libertaram-me, graças ao Sr. Fiel Farinha que era um grande dirigente e, então vim para o Porto, onde estive três anos. Viria a continuar a carreira na Suíça, onde fui profissional durante cinco anos. por fim, regressei a Portugal para ingressar no ABC, onde estive seis anos e lá terminei a carreira de jogador.
Recorda-se de quantas internacionalizações teve?
Penso que 93. Podia ter ultrapassado as 100 como alguns colegas da minha geração, mas o facto de ter ido para a Suíça impediu, muitas vezes, de ser convocado, pelas despesas que isso provocava à federação. Durante a minha carreira de 16 anos, fui sempre convocado para a Selecção Nacional.
Quantos títulos conquistou?
Fui sete vezes campeão nacional, venci cinco Taças de Portugal e três Supertaças, isto como jogador. Como treinador, conquistei uma Taça de Portugal e uma Supertaça, ao serviço do Porto. Eu fui o treinador do Porto, no primeiro ano em que o Pinto da Costa passou a Presidente do Clube e venci a Taça e Supertaça.
O ACTUAL ANDEBOL
Vamos deixar a apresentação de um desportista e passar ao andebol globalmente falando. O atual andebol é muito diferente ou nem por isso do andebol do seu tempo?
Em algumas vertentes está melhor. Os atletas, actualmente, começam mais cedo e têm um tipo de treino mais adequado à competição. Mas em termos de potencial e de talento, as coisas divergem. Os jogadores são mais trabalhados, têm mais tempo de treino e por isso, tem possibilidades de evoluir muito mais.
Mas fico sempre com a ideia que o andebol, é (agora) de mais choque e menos técnico. Concorda ou nem por isso?
Nós tínhamos uma visão de jogo diferente. Antigamente era o desporto escolar a nossa formação, agora essa formação é feita pelos clubes. O desporto escolar não tem a importância que tinha naquela altura, porque havia um campeonato escolar forte e só depois dos juvenis é que os clubes iam convidar os jogadores.
O senhor é o treinador mais conceituado a trabalhar na formação. A que se deve tal facto?
Primeiro por falta de apresentação de projectos credíveis. Eu fui um dos primeiros treinadores profissionais em Portugal, foi um risco que assumi em determinada altura e há uns anos a esta parte optei por treinar formação. Estive ligado a um grande projecto a nível de formação que não teve continuidade por falta de estabilidade financeira.
O BOAVISTA
E como se dá o ingresso no Boavista?
Eu estava num projeto do ABC de Braga e o Hugo Mota convenceu-me a vir para o Boavista.
A equipa de juvenis, consegue uma primeira fase calma e neste momento atravessa um período complicado. A que se ficou a dever esta situação?
Quando começamos tínhamos cerca de vinte e tal miúdos no conjunto das duas equipas de juvenis. Optamos por colocar os mais jovens na equipa “B”, para poderem ter mais jogos e não irem aos “A” com pouca competição e jogarem menos tempo.
Começamos mal, porque não nos conhecíamos, diferenças de treinos etc… mas encarreiramos e estávamos a ficar com uma equipa muito competitiva capaz de lutar pelos lugares de apuramento, que eram os três primeiros. Entretanto, as lesões aparecem e o plantel não era muito largo em termos de mais-valias, mas conseguimos colmatar essas lacunas com jogadores menos utilizados.
As lesões foram muitas?
Perdemos a base da equipa. Quando falha um ainda se vai compondo, mas sem a base ofensiva/defensiva as coisas complicaram-se, porque os outros ainda não estavam prontos para assumir as faltas.
Houve um mês critico, que foi Dezembro. Muitos miúdos saíram, por castigo dos pais por maus resultados escolares outros por outra razão, ou porque não se sentiram capazes e abandonaram o andebol. Parecia que a época se ia iniciar de novo, provocando um grande quebra competitiva.
Neste momento como se encontra a equipa e o que espera até ao final da prova?
Temos tido jogos equilibrados com resultados tangenciais que podíamos ter conquistado pontos. Depois quando nos deslocamos a determinados pavilhões, as arbitragens deixam muito a desejar.
Queixas da arbitragem?
É mesmo gritante a incapacidade de vários árbitros. Os jogadores são novos e estão numa idade de afirmação, de reação e de calma. Como não a conseguiram totalmente, reagem às injustiças e depois desistem. As duplas de árbitros fazem vários jogos por dia e depois, aquilo é só “picar o ponto”.
Como treinador teme a descida de divisão?
Não. Falta-nos vencer um jogo (nr o Boavista venceu este sábado) mas temos que o ganhar e já o podíamos ter ganho. Em Espinho estivemos a jogar bem durante muito tempo e em casa com o Infesta, merecíamos pelo menos, o empate.
Alguma coisa o incomoda no momento?
Temos tido muito pouca gente a acompanhar a equipa, com um pavilhão que fica aqui ao lado do Bessa. Vamos jogar fora e temos muita massa adepta, a puxar a incentivar a empurrar a equipa da casa, e nós em nossa  casa estamos quase sozinhos.
Como  treinador de formação, como me explica que uma equipa se tenha deslocar cerca de duzentos quilómetros para disputar um jogo com início pelas doze horas?
É uma maneira de a federação poder gerir os árbitros. Obviamente que uma equipa à qual isto acontece, entra meia vencida no jogo.
Isto não é antítese da verdade desportiva?
É claramente, mas as leis permitem.
Para continuar no Boavista, irá impor algumas normas?
Nem por isso. Tudo parte da vontade dos atletas.
No momento, temos vinte tal juvenis, vinte e tal iniciados e vinte e tal infantis. Estes são a base do trabalho para o futuro. No escalão de Iniciados temos bons miúdos, tanto que grande parte deles estão a jogar no juvenis nas duas equipas, devido à carência da equipa de juvenis, pelas lesões que aconteceram. Temos uma boa massa para poder trabalhar.
Sente-se atraído pelos jovens dessa equipa?
Eles próprios têm que sentir que querem jogar e querem evoluir. Isso passa pelo próprio atleta mas também do acompanhamento dos pais. Na responsabilidade que têm que assumir porque as distrações são muitas, principalmente no escalão de juvenis que é uma idade de afirmação pessoal e logo, muito complicada e critica. Têm muitas atividade que os podem distrair daquilo que os treinadores pretendem.
Têm que se começar cedo para se ver os que gostam, os que querem e apostam. Com esses posso continuar a trabalhar.
NOTA: Na próxima semana será publicada uma entrevista (complemento) com Jorge Rodrigues, na qual nos debruçaremos, sobre outros assuntos de carácter global do Andebol
Entrevista de 
Manuel Pina