sexta-feira, 13 de novembro de 2015

CARLOS SIMÃO, COLOCA O DEDO NAS FERIDAS

Carlos Simão, coordenador da formação do Voleibol, reconhece, não ser um homem fácil, mas ser um homem frontal, em todos os momentos e sobre todos assuntos. Foi com este homem, um pouco desiludido, com a posição de algumas pessoas, mas seguro da sua verdade, que realizamos uma entrevista, dura, em que todos os assuntos foram versados, sem hesitações.



Nota do editor: Chegamos a ponderar dividir a entrevista em duas partes, mas tememos que se perdesse o contexto, e definitivamente, apostamos na publicação na integra numa única peça. É  a maior entrevista do Amadoras e, a mais dura, toda ela baseada na defesa de “uma crítica construtiva”. Só os grandes, assumem sem reservas o que sentem.

Após, os primeiros meses da chegada ao Boavista, a pergunta que lhe coloco, é. Já se adaptou ao Clube ou as pessoas com quem trabalha já se adaptaram a si?

Eu assumi, começar a trabalhar no Boavista em finais de Junho, mas a meio desse mês, realizei algumas reuniões técnicas, por isso, estou no Boavista há quatro meses. Quanto à minha adaptação tenho que referir que encontrei, alguns contextos diferentes. Encontrei dirigentes, com ambição, com vontade de reerguer o Voleibol do Boavista, nas pessoas do Engº António Marques, do Artur Nunes, do Fernando Pereira, que entrou posteriormente, do Manuel Tavares e do Ivo Brito, que neste momento, já não faz parte do corpo diretivo. Vi em todos eles, uma grande ambição de trabalhar e reerguer a modalidade num clube que noutros tempos foi um GRANDE do voleibol nacional, e que nós queremos que volte a ser.

Quando o conheci, o seu trabalho era um misto de treinador/coordenador/dirigente/funcionário. Já terminou cessou as funções que não são de âmbito técnico?

Para que não fiquem dúvidas algumas, gostava que enaltecer a grande dedicação e trabalho que o Fernando Pereira e o Artur Nunes têm tido no departamento, e que poucos há como eles, no entanto, para a dinâmica e ritmo que se pretende implementar são precisos mais, mas que tenham as mesmas ideias e ideais que nós. 
Em relação à sua pergunta, eu não considero que fui dirigente ou funcionário, tentei ajudar a acelerar situações para que o clube começasse a época em condições, tal como o pavilhão pronto, os campos marcados, as inscrições das atletas efetuadas, enfim, um conjunto de coisas em que eu ajudei apesar de não serem funções minhas….foi preciso…..e em relação a este aspeto, não posso esquecer a grande ajuda do Sr. Pina e do Fernando Pereira, que dentro da sua disponibilidade me ajudaram muito em todo este processo.

Regista, muito em pormenor, esse facto, mas noto nas suas palavras, um sentimento mais negativo. Estou errado, na análise?

De certo modo, mas o que encontrei foi uma secção totalmente desorganizada, sem estar a querer desvalorizar os meus antecessores. A nível de trabalho, muito pouco trabalho visível nas diferentes equipas, pouca disciplina de treino e poucos hábitos de treino. 
Estamos a verificar até uma assiduidade muito maior aos treinos do que no passado, e isto eu sei porque as atletas me transmitem, e para nós é bom saber isso, é sinal que as miúdas estão motivadas e entusiasmadas com esta nova dinâmica. Houve, necessidade de reorganizar muita coisa, ou a maior parte delas. Isso, foi uma realidade muito complicada e que ainda está, mas que a pouco e pouco se tem desvanecido…..têm sido etapas aliciantes de superar.


Esperava outra realidade?

Esperava, realmente outra situação, esperava que as coisas estivessem um bocadinho melhor, porque os treinadores que cá estavam, tinham capacidade para estarem no Boavista, agora também reconheço que as condições de trabalho eram outras. Nós, neste momento, temos condições de trabalho, muito superiores às que existiam em anos anteriores e assim, reconheço as dificuldades que os treinadores que cá estavam sentiam e encaravam para trabalhar.

Mas, muitas dessas melhorias, devem-se ao ritmo e objetivos que impôs na preparação desta época. Sendo, o principal responsável dessa melhoria de condições, por que razão se sente desiludido? Volto a questionar. Já se adaptou?

Não! Não me adaptei, nem me vou acomodar, porque o meu ritmo é este e é meu próprio. É um ritmo, que institui nos clubes por onde passei e onde tive muitos sucessos desportivos. No Vila Real (onde fui 2 vezes vice campeão nacional – Juvenis e Juniores Femininos), onde me iniciei, no Castêlo da Maia quando lá estive na formação masculina entre 1994 e 1997 e onde conquistei um título nacional de Iniciados Masculinos (1995/96), na AA Espinho, entre 1997 e 2005, 8 anos magníficos e onde fui campeão e vice-campeão nacional de Juniores Masculinos, e depois já na equipa de seniores masculinos, contribuí na subida à 1ª divisão nacional. Passei também pelo Esmoriz GC, onde estive presente na fase final de Juniores Masculinos, tive uma intervenção direta na formação do Tiago Violas como distribuidor, e que é hoje um dos distribuidores principais da seleção nacional masculina, e  depois estes últimos 7 anos, no GDC Gueifães, onde fui vice campeão nacional de Juvenis Femininos, 4º classificado na fase final de Juniores Masculinos e nos dois últimos anos fui treinador principal da equipa de Seniores Femininos na 1ª divisão nacional, e que obteve o 5º lugar em 2013/2014 e o 4º lugar em 2014/2015. 
Tenho uma dinâmica muito própria, não sou uma pessoa simpática e reconheço que não sou uma pessoa fácil. Não sou fácil para os atletas, não sou fácil para os dirigentes, não sou fácil para os pais, eu reconheço tudo isso, mas nunca na minha vida tratei mal ninguém e os resultados em 29 anos de carreira como treinador estão aí, à vista de todos….Uma carreira que me orgulho imenso, como é também para mim um orgulho orientar e trabalhar num clube como o Boavista FC e trabalhar ao lado de um dos melhores e mais carismáticos treinadores do voleibol português, que é o Prof. José Machado. E numa reunião geral que tivemos de departamento, onde estiveram todos os treinadores, diretores e seccionistas, referi um ponto importante, que há um conjunto de situações, que me levam a dizer, que neste momento não sei se a minha contratação foi uma boa ou má aposta…...


Uma má aposta? Troque isso, por “linguagem inteligível”.

Má contratação, porque passados estes meses, ainda não consegui começar a trabalhar como Coordenador Técnico, dedicar-me ao trabalho dentro do departamento, discutir com os colegas treinadores aspetos relacionados com o treino, uma vez que tenho que ajudar noutras vertentes, como disse anteriormente, as pessoas que temos no departamento são VOLUNTÁRIOS inexcedíveis, mas não conseguem fazer tudo…..são pouco e teremos que arranjar mais gente. Porque se isso acontecer, posso afirmar, que não faltará muito tempo para o Boavista dar o salto para a ribalta, porque aqui dentro há uma coisa….VONTADE E DETERMINAÇÃO, e isso existe em poucos clubes. Agora temos que dar tempo para as pessoas se irem ajustando, agora ajustarem-se à minha dinâmica e ao meu “speed” desculpe a expressão, não é fácil…..mas é possível, e é isso que eu quero e o que eu ambiciono.

Então posso deduzir que está desiludido com esta situação?

Acima de tudo, sinto-me cansado. E sinto-me cansado porque há este trabalho de retaguarda que eu também tenho que ajudar a fazer e quando chego à hora do meu treino, tenho vontade de ir embora….há dias que me falta energia para o treino.
Eu tenho a noção que estou afastado da família, tempo demais. Passei aqui todo o mês de Julho, parte do mês de Agosto, com a grande ajuda do Manuel Pina e do Fernando Pereira como já disse. O Artur ajudava de outra forma e de acordo com a sua disponibilidade. Roubei muitas horas à família - isto, poucas pessoas, sabem - e, ainda lhes roubo muito tempo.
Os treinos começam no Irene às 18h30 e eu chego lá pelas 17h30, para preparar toda a logística necessária para o treino. O único dia que não estou no pavilhão é à sexta-feira, porque tenho compromissos profissionais naquela que é a minha atividade principal….professor de educação física. Tudo isto, acaba por provocar um desgaste e a juntar a tudo, tenho os meus jogos ao fim-de-semana.

Esses jogos, são a razão do trabalho semanal. Como treinador, não está a conseguir tirar ”prazer” de dirigir os jogos?

Prazer tiro sempre….eu gosto disto e gosto de ver a evolução das miúdas de jogo para jogo. Tenho é que me preocupar também com a logística inerente ao jogo em casa, montar e desmontar a rede, preparar o campo, enfim questões que nós sabemos que temos que fazer, e aqui os pais têm ajudado imenso porque também estão lá e ajudam a montar e desmontar….não são todos….direi que…são sempre os mesmo, e a eles lhes agradeço MUITO…eles sabem quem são. 
O Boavista é um clube, em que me sinto bem, não posso dizer o contrário, as atletas TODAS me respeitam, 98% dos pais respeita e apoio o meu trabalho como treinador e como coordenador..…sinto-me bem, mas é um Clube que ainda não funciona ao meu ritmo. Isto não é uma crítica destrutiva, é uma crítica construtiva. Mas devido á minha personalidade, tudo tenho feito para pôr isto a andar mais depressa, e estou em crer que conseguirei…espero ter energia e força para isso.

Eu já o vi, “perder” horas a explicar a sua posição a certos pais. Esse cansaço, advém das miúdas, das críticas dos pais ou da falta de apoio de dirigentes?

Diretamente, sobre os dirigentes, que são dois, o Fernando e o Artur têm-me dado 500% de apoio incondicional, sobre isso não há dúvidas. Mas a dinâmica que implantei é muito forte e por vezes eles até “abanam” (sorrisos…). Mas tentam….mas são apenas dois. Tivemos agora uma entrada feliz da D.Graça que está a dar apoio particularmente à equipa júnior e que nos vai dar uma grande ajuda também ao departamento. Considero que vai ser uma seccionista para o futuro. 
Temos em perspetiva também, a entrada de um pai de uma atleta infantil, que  vai aliviar algum trabalho. Temos, também, o Manuel Tavares, que é muito importante, já que resolve toda a logística da equipa sénior, conseguindo libertar o Artur e o Fernando, para outros trabalhos. Temos também 2 pais da equipa de juvenis que vão dando apoio principalmente nos jogos o que também é já muito positivo. 
Precisavamos de uma pessoa para ajudar de mais perto nas cadetes para libertar o Artur para outra funções puramente diretivas e abrangentes, uma vez que ele cumulativamente às funções de diretor é também o seccionista das cadetes, aliás como também o Fernando é em relação às infantis. Com mais uma ou outra pessoa, eles os dois poderiam ser aliviados para outro tipo de trabalho mais interno. Depois ainda falta o minivolei, uma vez que o Fernando é o diretor responsável do minivolei….ainda mais este….diretor adjunto do departamento, do minivolei e seccionista das infantis…..é difícil, mas acredito que vamos dar a volta a isto. E é por esta sobrecarga que eles têm que eu por vezes acho que eu é que estou a andar depressa de mais e em algumas alturas a um ritmo diabólico. Veja os torneios, realizamos 2 finais de semana inteiros de voleibol, com todos os escalões exceto o minivolei, tivemos cerca de 40 equipas cá presentes, e graças ao trabalho de treinadores, dirigentes e de alguns pais, eu diria mesmo, “sempre os mesmos”, fizemos que o torneio fosse um sucesso. 
O Boavista voltou a ser falado…reapareceu como alguns treinadores de outros clubes me disseram….é excelente ouvir isto.
Relativamente ao resto, tenho muita pena que os pais não entendam – estou a falar de percentagem de 1 ou 2%, que são uma percentagem mínima – que não entendam, repito, as opções que tomamos nós treinadores nos jogos, que não entendam as opções que fazemos nos treinos e critiquem de uma forma deselegante.
Digo, deselegante porque o fazem de uma forma indireta e, eu preferia - como já aconteceu com outros pais – que viessem ter connosco e nos confrontassem com factos para podermos argumentar sobre alguma coisa. E eu quando falo em falarem connosco, não é sobre opções ou questões técnicas, porque aí nem pensar….as decisões são nossas e mais nada. Mas há alguns, que não fazem, simplesmente criticam e eu pessoalmente começo a questionar se realmente vale a pena, estar aqui tanto tempo e roubar tanto tempo à família, para trabalhar com as “filhas dos outros”.

Mas isso, não é exclusivo no Boavista. Já sentiu essa injustiça noutros clubes?


Não, claro que não, penso que é uma questão de falta de cultura desportiva. Situações como estas fazem pensar e refletir. Não nos dois últimos, porque nesses estive com a equipa sénior do Gueifães e o tipo de problemas a resolver são de outro tipo, mas na formação há isto.

Mas está na formação de novo. Porquê, se os pais não mudam?

Adoro a formação….adoro ver as atletas crescer…evoluir e a superar etapas…é fantástico para um treinador. Aquilo que me prende? Tenho uma grande lealdade para com as minhas equipas. 
Adoro as miúdas Cadetes, adoro as miúdas Infantis, e apesar de não ser o treinador delas, adoro as Juniores e Juvenis. Tenho uma empatia muito grande por essas miúdas, sinto-me respeitado e sinto que acreditam naquilo que estamos a fazer, mas não me posso esquecer do minivolei que apesar de não estar muito próximo delas uma vez que só tenho hipótese de as ver às 3ª feiras, não deixo de ir falando com os treinadores sobre o trabalho que vai sendo desenvolvido. Isto porque deixo o sábado de manhã para acompanhar, pelo menos uma vez por semana, o meu filho ao treino de futebol, coisa que não posso fazer durante a semana. E é este sentimento por elas que me acaba por prender. 
O desgaste é imenso, não ponho o trabalho de lado, mas começo a chegar à conclusão que posso vir a não ter força para conseguir levar o barco até ao final da época com esta dinâmica e “speed” como disse antes.

Pensa sinceramente, nesses termos de puder sair no final da época?

Quando falo em puder não ter força para levar o barco até final da época com a dinâmica que tenho, não é porque quero abandonar, mas sim por questões cansaço e alguma saturação.
Ser coordenador, de um clube, quase a começar do zero e treinador de duas equipas de formação, não é nada fácil, mas é um desafio aliciante, e neste momento é isso que me faz aguentar.
Em relação ao sair no final da época, depende de duas coisas. A 1ª será o departamento a fazer uma avaliação do trabalho que fiz e que implementei e daí sair uma decisão final. A 2ª será a minha motivação…..estou no voleibol pelos projetos desportivos que me apresentam. Estava no Gueifães e foi-me apresentado um projeto aliciante pelo Boavista e mudei….e digo que me custou muito mudar, foram 7 anos excelentes que passei em Gueifães, onde deixei atletas e amigos. Por isso o futuro….depende dos projetos que me surgirem e os desafios que me possam aparecer….

A nível de treinadores. Eles foram escolhidos tendo por base o projeto e visão de Carlos Simão, e posterior adaptação? Já se encontram adaptados?

Sinceramente. Nós temos um corpo técnico excelente. Temos grande empatia e entendemo-nos todos muito bem. Partilhamos as atletas em qualquer escalão sem qualquer problema. Acima de tudo eu nunca precisei de “puxar os galões” como Coordenador, para indicar o que fazer, porque eles próprios quando querem inovar me procuram para debater a questão, ou a justificar, explicando porque tomaram essa decisão. Neste aspeto, o Boavista, está muito bem servido.
Todos os treinadores foram escolhidos pelo perfil que possuem. Não conhecia a Profª Rita Melo, que me foi indicada por uma pessoa amiga que foi meu atleta e em quem confio muito. Estou muito contente com o trabalho dela e pelo valor técnico e humano que evidencia.

Durante a realização dos torneios de pré-época tive oportunidade de ouvir alguns treinadores, com diferentes opiniões sobre como se formar atletas. Qual a sua opinião sobre a formação de um atleta?

Podemos ter duas visões e duas vertentes sobre a formação. A vertente lúdica e a vertente competitiva. No primeiro caso, todos temos o direito de ir para os treinos e de ir para os jogos e toda a gente tem que jogar. Na vertente competitiva, toda a gente tem que treinar, mas nem toda a gente tem que jogar. Todo o processo, de treino é um processo educativo. Todas as atletas e pais, também, têm que aceitar, porque é que o treinador não convocou, porque é que pôs a jogar ou porque é que o treinador convocou. Se atleta tem alguma dúvida deve questionar junto ao treinador. Eu, por norma, não dou qualquer explicação ou justificação nem a atleta nem aos pais, há quem o faça, mas eu não tenho essa opção.
O processo formativo de um atleta é, que daqui por sete ou oito anos, nas Infantis e dois anos nas juniores, esteja a jogar na equipa sénior.


Acredita que algumas destas atletas vão cumprir esse objetivo?

Com este trabalho, algumas vão conseguir! Se em cada fornada conseguirmos meter uma nas seniores, teremos os objetivo conquistado. Eu dou um exemplo, quando há dois anos peguei na equipa de seniores femininos do Gueifães, metade da equipa vinha da formação do clube, o que me deixou muito feliz e orgulhoso.

Você, aposta muito na equipa das Infantis. Em que se baseia?

Apesar da nossa equipa de infantis, ter um ano de atraso de todas equipas adversárias, há determinadas etapas na formação de uma equipa que não devemos omitir. Apesar de eu estar preparado para perder a maior parte dos jogos que ganhar, acredito que a meio da época isto se inverta, porque conheço o potencial desta equipa de Infantis. 
Por exemplo, este fim-de-semana, fiquei muito triste com a derrota de 3-2, com o GC Santo Tirso. Eu conheço o grande trabalho que se faz em Santo Tirso, que tem uma equipa que trabalha junta há três anos. A nossa equipa, esteve algo desgarrada e podia e deveria ter ganho….mas os nervos nestas idades ainda valem mais do que a vontade. Mas há etapas que não quero suprimir e nas Infantis, eu não quero suprimir nenhuma etapa. Elas fazem agora o que não faziam há quinze dias e assim continuarão a progredir. Este trabalho tem que ser feito pausadamente e com calma, mas reconheço que é importante ganhar… por elas mesmo. A vitória ajudará muito a sua evolução e estou confiante que as vitórias virão a partir e meio da época. E aqui a Dani, atleta da equipa de seniores femininos tem feito um trabalho notável, uma vez que ela está mais tempo com elas do que eu, pois ao lado estou a treinar com a equipa de cadetes.

Vamos aproveitar e fazer uma análise superficial de todas as equipas?

Passando, então, para as Cadetes, que perdem o primeiro jogo à 3ª jornada em casa com o SC Braga, pelos resultados de 25/23, 28/26 e 19-25, com uma equipa que o ano passado esteve presente na Fase Final do Campeonato Nacional de Iniciadas, representando a Escola de Lamaçães. Esta escola tem feito um trabalho notável em prol do voleibol, que depois do escalão de iniciadas serve a formação do SC Braga. Resumindo, a nossa equipa só não ganhou os primeiros dois sets, por erros provenientes do nervosismo que sentiram. Fiquei triste por perdermos, mas muito feliz pela forma como reagiram e jogaram. Acho que a equipa tem um potencial muito grande e que pode ir vencer em Braga.

Juvenis?
Esta equipa passou muitas dificuldades no ano passado enquanto Cadetes. Recuperamos algumas atletas que tinham desistido a meio da época passada e têm entrado várias atletas novas que nunca foram praticantes. A Profª Rita está a fazer um trabalho notável, de pura formação, embora os resultados acabem por contradizer o que se está a fazer. Nota-se uma melhoria mas temos que saber esperar, porque nada se faz de manhã para a tarde.

Juniores?
Calhou numa série mais acessível, mas nem por isso, tem tirado o pé do acelerador. Eu fui ver o jogo com o FC Infesta, que tem uma equipa mais fraca e as miúdas podiam ter facilitado, mas não o fizeram. Venceram por números grandes porque foram GRANDES e RESPONSÁVEIS.

Depreendo que a nível de mentalidade, as coisas se alteraram?

Completamente. As nossas equipas querem estar presentes no Campeonato Nacional. As miúdas treinam com vontade, determinação, garra e mais do que isso nota-se uma GRANDE união entre as equipas dos diferentes escalões, fruto de estarmos a treinar no mesmo local…em relação a isto tem sido fantástico.

Sei que estão a desenvolver um trabalho de colaboração com estabelecimento de ensino. Que me pode dizer sobre isso?

 O Agrupamento de Escolas Carolina Michaelis, deu uma enorme ajuda na realização dos nossos torneios e posteriormente, ao fazer uma parceria connosco, no sentido de nos possibilitar trabalhar com os alunos da escola, uma vez por semana, durante uma hora. Isto claro está, irá reverter com novos atletas para o clube. Aqui um agradecimento muito especial à Profª Isabel Ribeiro.

Já agora, quer comentar algo sobre a equipa sénior?

Está a fazer um campeonato excecional com uma média de vinte anos. Tem a Fabiana um pouco mais velha do que as outras e o resto são “miúdas”, que têm o futuro nas suas mãos. Se, se criar uma dinâmica mais pragmática em algumas coisas, eu acho que o futuro do Voleibol do Boavista, dentro de três/quatro anos pode ter uma visibilidade maior, que já se está a sentir, porque eu tenho treinadores adversários a vir espiar os meus jogos e alguns a ver os nossos treinos.

Se a parte diretiva se reforçar, acabará por ter mais tempo disponível. E esse desencanto desaparecerá e teremos de novo, o Carlos Simão de corpo e alma?

Não é desencanto, eu ajudo naquilo que posso, mas eu tenho que me preocupar com a minha parte. No caso do Fernando e do Artur, que são pessoas que estão cá sempre mas que sozinhos não conseguem resolver tudo.
Tenho que registar com agrado a aproximação e um pouco mais a colaboração de diversos pais, dos diversos escalões em várias vertentes, porque começam a apreciar o trabalho que se tem feito e aquilo que as equipas começam a mostrar nos jogos....Isto é muito importante para o futuro na criação de um espirito vencedor.
Talvez eu tenha que mudar um pouco a minha mentalidade e velocidade de trabalho, mas neste cinco meses, já se evoluiu um pouco, já se mudaram muitas mentalidades, mesmo que eu tenha ganho alguns anticorpos, mas eu não vou mudar nesse aspeto, quer o pai desta ou daquela não tenham gostado.
Quando as pessoas não estiverem contentes, mandem-me embora. Quando os pais da miúdas, acharem que as meninas estão a ser puxadas de mais que se queixem aos diretores. Mas até lá será à minha maneira. Não gosto de abandonar projetos a meio e este é um projeto para um ano e quando chegarmos ao final do ano, o balanço será feito e se verá o que fazer a seguir.

O departamento sofreu alterações a nível de dirigentes, durante o tempo que cá está?

Quando cá cheguei eram 2 os dirigentes mais o Manuel Tavares que era seccionista. Entretanto entrou o Fernando Pereira, que foi promovido de seccionista a diretor adjunto e saiu um, o Ivo Brito, que apresentou uma justificação a quem de direito e levou a filha para outro clube e saiu.


Os pais, têm que entender que desporto é entrega, esforço e dedicação. Os pais emendam-se?

Alguns pais entendem, outros não. Há pais que muitas vezes arranjam explicações que não consigo entender. Umas vezes por causa de um evento têm que faltar a um jogo, outras por causa de um teste têm que faltar a um treino… as pessoas têm que se adaptar e decidir. Sendo a escola a parte mais importante da vida das miúdas, têm que se adaptar. Se não conseguem isso… deixam o voleibol. Ou se organizam, porque umas vezes preparamos um treino para dez e aparecem quatro atletas, outras preparamos para quatro e aparecem dez. É muito difícil para os treinadores organizarem os trabalhos desta forma. Mas isto tem mudado muito por intervenção dos treinadores.

Acontecem, ainda, essas situações?

Como disse, era a mentalidade que existia e que está a ser alterada, com sucesso. Estou à vontade porque isso nas minhas equipas não acontece, elas vêm sempre todas e praticamente não faltam, e quando faltam avisam quase sempre. E no geral, isso pouco acontece nas diferentes equipas, mas esta observação refere-se à vida do treinador e à falta de cultura desportiva que há. Não se vai pôr o voleibol à frente dos estudos, claro que não, mas faz parte da formação, ensiná-las a encaixar tudo no dia-a-dia delas, e esta é uma das funções dos treinadores e dos pais.
Aliás, vão de certeza surgir momentos em que irão pedir para faltar a um treino para estudar e claro que nós teremos que aceitar, mas o princípio deve ser, ensiná-las a gerir o tempo, e neste aspeto, a vida de atleta imputa muitos sacrifícios, entre eles por vezes abdicar de estar com os amigos numa festa ou num jantar porque tem jogo ou treino, mas a disciplina é isto mesmo.

Vamos ter alguns eventos de registar em breve?

Vamos realizar em finais de novembro ou inícios de dezembro, é uma ação de sensibilização numa das escolas do 1º ciclo do agrupamento Carolina Michaeles, dinamizando o voleibol, e onde muitos dos treinadores do clube estarão presentes, bem como atletas da equipa de juniores e seniores.

Agora mais a frio, como quer terminar sobre o Departamento?

Considero que o departamento está-se a encontrar, está a ficar arrumado, mas tem sido uma tarefa difícil, e temos tido a grande ajuda do professor José Machado.

Deixe-me terminar com um sloggan que habitualmente escreve no final de algumas linhas que escrevo às atletas…

ESTAMOS CÁ…
ESTAMOS JUNTOS….
CONTEM CONNOSCO…
CARREGA BOAVISTA…..

 Entrevista de
Manuel Pina






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