Fomos ao
ginásio da Fontes,entrevistar Mirco, que também dá aulas de Judo - estagiando
com os seus treinadores.
Foi durante
uma aula de Judo, que entrevistamos este jovem Judoca.
Quem é Mirco
Cabral?
Sou natural
de Cabo Verde, tenho vinte anos e completo vinte e um no próximo mês de Abril.
Vim para Portugal com quinze anos, decorria o ano de dois mil e nove.
Directamente
para o Porto, ou para outra cidade?
Vim
directamente para o Porto.
O ALUNO
Vamos falar
um pouco do aluno. Frequentou outra escola em Portugal?
Não. Quando
cheguei, decorria já o segundo período e por isso, não tinha escolas para
entrar. Apresentei, aqui na Fontes, um pedido de acesso, que foi imediatamente
aceite. A Directora da Escola, a Engenheira, Ana Alonso, no mesmo dia desse
pedido, encaminhou para uma turma, na qual frequentei as aulas, embora não
pudesse ser avaliado, por já ter passado a época de inscrições.
E manteve-se
na turma, mesmo sabendo que não lhe valeria (oficialmente) de nada?
Sim,
frequentei todo o ano como um aluno normal, ambientando-me e ganhando ritmo
para o ano seguinte. Fiquei muito agradecido à Direcção por me terem dado essa
oportunidade e reconheço que foi muito positivo.
Já terminou
o curso, aqui no Fontes?
Sim, já
terminei o curso, mas como desejo entrar para uma faculdade e em Setembro terei
que realizar um exame nacional, que é obrigatório, continuo a frequentar as
aulas, para conseguir melhores notas. Assim, continuo a ter aulas de português
para melhorar os meus conhecimentos e continuo ligado ao desporto escolar, na
escola.
Nesse
capítulo, tenho conhecimento que já dá aulas de judo a alunos. Aluno e instrutor
simultaneamente?
Estou a
colaborar com os treinadores, que continua a ser os meus enquanto atleta. A
minha colaboração serve de ajuda. Serve, também, para incentivar os meus
colegas mais jovens que estão a começar a praticar o Judo.
Estando na
Fontes há cinco anos, já se apercebeu que esta escola tem muitos alunos a
praticar desporto federado. Esse facto, fica a dever-se ao espirito desportivo
dos alunos ou existe um incentivo extra, por parte dos Vossos professores de
Educação Física?
Vou falar da
minha experiencia escolar no âmbito do Judo, no entanto, é perfeitamente
visível o trabalho extraordinário de apoio do Dr. José Mário Cachada, que se
empenha a cem por cento para o desporto escolar e não só com o Judo, mas em
todas as modalidades. Conheço todos os professores de educação física e sei,
que dão tudo para o desporto escolar. Levam-nos a todos os sítios e dão-nos
todo o seu apoio, no Judo, no Futsal, no Atletismo.
Actualmente,
os professores de educação física estão a impor a sua presença na sociedade.
Anteriormente, não era assim. Você considera que um professor de educação
física e um professor de corpo inteiro, como outro de qualquer disciplina?
Eu, até
diria ao contrário. Hoje em dia, um professor de educação física tem um papel
mais importante que qualquer professor. Hoje em dia, vemos os miúdos parados
numa sala em frente ao computador, sem terem qualquer contacto com o desporto.
Antigamente todos jogavam futebol, todos se movimentavam fisicamente, agora é
só jogar play station. O professor de física, ligado a qualquer actividade
lúdica/desportiva tem um papel fundamental no combate a um dos males dos jovens
como sendo a obesidade infantil. Eu acho que se tem que dar o espaço merecido
ao professor de física.
O JUDO
Vamos então
falar um pouco de Judo. Como nasceu o gosto pela modalidade?
Tudo
aconteceu no meu primeiro ano escolar, quando estava a fazer o décimo ano.
Então quando
chegou a Portugal, não praticava judo?
Tudo começou
aqui na Fontes. A professora, informou-nos que se tivéssemos actividade no
desporto escolar teríamos benefício na disciplina de educação física. Eu estava
a fazer o curso de desporto e soube, que a inscrição no desporto escolar, tinha
o benefício de um valor na nota da disciplina. Eu até brinquei com a situação,
perguntando se caso, eu tivesse vinte valores, com o ponto de benefício teria…
vinte e um pontos (riu-se). Tinha um
colega praticava Judo, que me convidou para vir experimentar e assim
fiz, gostei do que vi e estou aqui até hoje.
Do desporto
escolar, para o desporto de competição. A partir daqui quais são os seus
objectivos?
Estou focado
neste ano, porque é o meu primeiro ano de sénior, vai ser um ano difícil para
me adaptar ao ritmo de seniores, que têm pessoas com muito mais experiência que
eu, alguns com mais anos de prática de Judo que eu tenho de vida e isso, no
Judo, pesa muito. Mas resumindo, neste dois anos que se seguem quero marcar a
minha presença no Judo sénior de Portugal.
O BOAVISTA
Você, acabou
de assinar pelo Boavista como atleta federado no desporto de competição, dentro
do espírito de colaboração que existe entre a Fontes e o Clube. O que tem a
dizer sobre essa passagem para o Boavista?
Antes de
responder, quero frisar que o Judo da Fontes no desporto escolar é também um
clube. Quanto ao Boavista, para além do grande orgulho que esse facto
representa para mim, devo dizer que durante o ano anterior eu já tinha o prazer
de treinar no Bessa conjuntamente com atletas do Boavista, graças à amizade do
meu mestre com o mestre Pedro Pinheiro do Boavista. O objectivo principal, era
elevar o meu nível, treinando e convivendo com atletas de competição.
Actualmente, graças ao protocolo que considero muito bom, ingressei de corpo inteiro
no Boavista, repito, o que me dá imenso orgulho.
Os seus
treinadores, José cachada e Pedro Seco, vêem um futuro muito promissor para si.
Essa pressão que exerce não o incomoda?
O Judo já me
ensinou muita coisa e entre essas ensinou a viver e lidar com a pressão. Em
todos os combates que faço, sinto essa pressão, como a sinto na própria vida. O
judo, não nos ensina só o combate desportivo, mas ensina, igualmente, a lidar
com pressões da nossa vida.
Tudo que
aprendemos no judo pode ser aplicado na nossa vida, por exemplo, eu sinto-me
mais preparado e sei viver muito melhor, com a pressão que sinto, comparando
com o que acontecia há anos atrás. A pressão que os treinadores exercem sobre
mim, considero-a positiva, porque por vezes, ajuda-me a motivar-me mais que o
que estou.
Não
considera o Judo uma modalidade ingrata? Num combate se escorregar… tudo acaba
sem hipótese de recuperação. Não acha isso, uma injustiça?
Não,
sinceramente, não considero, porque num combate tanto eu como o meu adversário
estamos em iguais circunstâncias e expostos às mesma condição, à mesma sorte,
ao mesmo azar. Se eu posso escorregar, ele também pode escorregar…
Um pergunta
de quem nada percebe de Judo. Como define a modalidade, o que é o Judo?
Eu diria que
o Judo não é só um desporto, é acima de tudo, um estilo de vida. É fácil chegar
aqui e praticar Judo, difícil é viver como um Judoca. Temos que tentar levar
para o dia-a-dia o que aprendemos no tapete, ou seja, aprendemos a lidar com as
situações que nos deparam dia-a-dia. Um aspecto, do qual gosto, é saber que
aprendemos a cair. Vamos cair, mas sabemos que também aprendemos a
levantarmo-nos. Vamos cair outra vez, vamo-nos levantar outra vez, isto é o
ciclo da vida, é o ciclo do Judo, aprender sempre!
A nível de
selecções ou a nível internacional já teve algum contacto?
Ainda não
tive oportunidade de ser chamado a alguma selecção, mas através do apoio que a
escola me deu tive a oportunidade de representar Portugal, duas vezes, na Taça
da Europa. Estive presente em duas representações de Portugal no âmbito do
desporto Escola, e confesso, que foram os momentos mais altos que tive e que me
deram mais satisfação.
O que
representa para si, estar aqui a ajudar os seus colegas conjuntamente com os
seus treinadores?
Para mim é
tudo! Eu no Judo o que mais gosto é de ensinar. Considero que se trabalhar
muito irei ser um bom atleta, mas de certeza que no futuro serei muito melhor
treinador que atleta eu gosto de ensinar.
Depois da
receptividade que lhe proporcionaram na Fontes e mesmo sem conhecermos o que o
futuro nos trará, o Mirco ficará sempre ligado à Fontes?
Sem dúvida.
Sem saber o que vai acontecer, eu serei sempre um filho da Escola Fontes
Pereira de Melo.
Entrevista
de Manuel Pina Ferreira
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