Paulo Moura, é o Director do Futebol Feminino, mostrou-se um homem de coragem ao dar uma entrevista (que em tempos tentaram proibir) falou directamente e com paixão sobre todas as questões que colocamos. Muitas vezes, as perguntas não tinham terminado e já a resposta saía… sinal que fala sempre com o coração. Como disse por várias vezes, quem não deve não teme. É uma entrevista longa… mas melhor que isso, é uma entrevista profunda que vale bem o tempo de a ler.
Feita com paixão para ser lida, por quem tem esse sentimento.
O CIDADÃO
Vamos começar pelo cidadão. Quem é Paulo Moura?
Nasci em Angola e vim para Portugal com dez anos, depois da guerra de setenta e cinco e radiquei-me no Barreiro. Posteriormente com o ingresso no União de Tomar, radiquei-me e casei em Tomar, onde actualmente continua a ter a minha residência.
Residindo em Tomar, como consegue tempo disponível para estar no Porto?
Consigo, porque tenho uma pequena empresa, que é minha e por isso posso gerir o meu tempo sem interferência de ninguém. Tenho semanas que venho à quarta, tenho semanas que venho à quinta e tenho semanas… que fico cá toda a semana!
Sei que foi profissional de futebol. Faça um resumo da sua carreira.
Joguei no Estoril, no Atlético e no União de Tomar. No União de Tomar joguei durante dez anos, onde fui capitão de equipa em todo esse tempo. Neste clube, terminei a minha carreira. Voltei ao União como Director desportivo de Futebol, da equipa sénior. Exerci esse cargo durante seis épocas. Saí desse cargo, nos finais de Maio para abraçar um projecto que me colocaram para o Boavista. Considerei esse projecto interessante, por ter conhecimento do futebol feminino e da minha (já) pequena paixão pelo Boavista.
Na sua carreira futebolística alguma vez defrontou o Boavista?
Não! Nessa altura, havia a segunda divisão Nacional e não a Liga Orangina e o Boavista era um dos grandes da primeira divisão.
Apanhei alguns clubes de primeira divisão com jogadores que passaram pelo Boavista, em jogos de Taça de Portugal, por exemplo; o Madureira pelo Salgueiros, o Carlos Brito. Nessa altura a segunda Nacional era fortíssima. Na zona sul ainda joguei pelo Odivelas ao lado do Oceano, depois vim com o Victor Esmoriz para o União de Tomar.
O INGRESSO NA PANTERA, PELO SONHO DA FILHA
Já nos falou do convite que recebeu para liderar o Futebol Feminino. Mas quando chega ao Boavista é só na qualidade de pai?
É verdade. Chego ao Boavista apenas como pai (Bruninha atleta sénior é sua filha) muita gente não sabe mas eu sou primo do Edgar, que aqui jogou, filho de um irmão da minha mãe, o Edgar Pacheco, que veio do Málaga para cá.
A minha filha tinha um sonho e aos onze anos já me dizia. Pai, eu um dia vou jogar no Boavista, ao que eu respondia. Filha, tu és maluca! Não conhecemos ninguém no Porto, como pode ser possível?
Mas foi. Como se concretizou esse sonho?
Eu fui ao Mundialito de futebol dos pequeninos que se realizou no Algarve, onde conheço o filho do Álvaro Braga, que apresentou o convite para a Bruna vir cá treinar.
Aceitamos o convite e trouxe a minha filha aos treinos. No primeiro dia ficou logo! (disse orgulhoso) pediu para voltar ao outro dia e digo-lhe, nessa semana vim de Tomar ao Porto três dias. Para meu espanto a minha filha exigiu-me que queria jogar no Boavista e viver no Porto.
Estava a mudar a vida do pai, para concretizar o sonho pessoal. Como se processou?
Olhei para a minha mulher e perguntei como vai isto ser possível, se não temos onde ela ficar? Passado uma semana a minha mulher veio ao Porto e comprou um apartamento na Areosa, comprou um Smart para a Bruna vir para os treinos e a minha filha cumprui o sonho dela, que era jogar no Boavista.
E empurra o pai, mesmo sem saber…
Fiquei feliz por ver concretizado o sonho da minha filha ao vestir a camisola do Boavista. Como passei a acompanhar os jogos da minha filha, aproveito e começo a ver os jogos do futebol aos Sábados à tarde e ganho uma nova paixão. Com o desenrolar do tempo e com o conhecimento que vou tendo com os associados e alguns Directores, as coisas acontecem. Penso que foi isso que os levou a apresentarem-me esse convite.
Como surge o convite para o dirigismo axadrezado?
Fui convidado pelo Vice-Presidente, José Chalupa. Realizou-se uma reunião com a presença do Presidente Álvaro Baga e seus vice-presidente, onde me apresentaram um projecto que me agradou.
Nesse projecto entrava a Alfredina, o que me agradou e no qual acredito, porque considero que o Boavista tem tradições no Futebol Feminino e pode voltar a curto prazo ao nível que atingiu em tempos. Não vai ser fácil eu sei. Tenho consciência disso, mas a equipa já mudou em alguma coisa. O Boavista é um clube difícil a atravessar uma fase muito difícil, mas felizmente tenho contado com o apoio de muita gente, entre sócios e amigos, mas há uma pessoa que eu quero salientar acima de todos.
Quem é essa pessoa?
O Cipriano! Ele tem sido para mim e para o futebol Feminino uma mais valia.
Quando entrou no Boavista, encontrou um mar calmo ou uma corrida de barreiras?
Por acaso não foi uma corrida de barreiras, toda a gente me apoiou, encontrei sim, uma desorganização no Departamento e aprendi algumas coisas sobre o futebol feminino que me escapavam no exterior. Com a ajuda e conhecimento da Alfredina, fomos limando algumas arestas e organizando as coisas à nossa imagem e com as nossas ideias. Sei que num clube como este, há sempre muitas limitações e dificuldades mas dentro daquilo que me propuseram, não me falharam com nada.
Já garantiu o seu “espaço”?
Uma das minhas intenções e porque não dizer, um dos meus sonhos era jogar e treinar no Bessa. Cumpri esse sonho!
Sempre considerei que o futebol feminino, não podia treinar nem no Viso, nem na Pasteleira, era fundamental trazer o futebol feminino para o Bessa. Tive o apoio do Vice-presidente, José Chalupa, que foi importante. Lutamos por isso e conseguimos. Há outras dificuldades que vou tentando limar de um dia para outro, com paciência e trabalho.
Mesmo tendo em conta o passado glorioso do futebol feminino no Boavista, o senhor sabe que esteve perto da extinção e que foi salvo de um complot pelas atletas Sandra (Figo) e Nanda em conjunto com o Vice-presidente da altura. Consigo inicia-se uma restruturação de todo o projecto e sente-se uma nova realidade. Tem consciência disso?
Em princípio é de louvar a actuação e cuidado da Figo e da Nanda e de quem liderava as modalidades que evitaram esse fim.
Quando cheguei ao Boavista - como pai- verifiquei que haviam muitas lacunas. Quando tomei posse, olhei para estas paredes que estavam vazias e sujas. Tudo o que havia do passado estava em caixas dentro de armários! As jogadoras novas não tinham a consciência de quem era o Boavista, não havia uma facha à vista! A primeira coisa que fiz foi tirar essas recordações das caixas e coloca-las à vista (apontou para as paredes) para que quem chega de novo, saiba em que casa entrou!
Agora elas entram e vêem a camisola de Campeãs da Alfredina, da Figo e sentm que o Boavista é um clube vivo e campeão!
Mudou a imagem?
Claramente! Este Boavista não é o Boavista de há dois anos que raramente vencia um jogo. Alteramos a imagem do Boavista no futebol feminino. Uma das excelentes coisas que a Alfredina fez e que eu louvo, foi levar as miúdas ao Museu do Boavista, antes de as levamos para estágio, para sentirem o passado e a honra de vestirem a camisola do Boavista. Confesso que até para mim foi uma surpresa ver os troféus expostos naquelas vitrinas. Penso que conseguimos passar a mensagem a todas as jovens.
Temos mais de noventa atletas na totalidade, o que há cerca de dois anos era impensável. Com o trabalho que se está a fazer na formação o Boavista vai dentro de breve tempo voltar ao seu passado glorioso. Acredito nisso, piamente.
O que acha mais importante. Organizar o Departamento ou conquistar um titulo a curto prazo?
Se o Boavista continuar a trabalhar como o tem feito ultimamente, conseguindo uma ou duas mais-valias para esta equipa, que tem muito valor, mas temos a consciência que precisamos de mais uma ou duas mais-valias. Com mais essas mais-valias o Boavista será uma equipa par lutar pelo título.
Como consegue gerir esta máquina. Tem patrocínios ou o patrocínio é o “Paulo Moura”?
(Riu-se) As pessoas sabem e não é segredo para ninguém que ajudei, mas penso que o Futebol Feminino tem formas de devolver tudo o que ajudei. Temos um patrocínio, que é Pedro Jóia, ainda esta semana irei falar com ele para colocar o seu patrocínio nas camisolas, pois embora tenha negociado em Agosto, ainda não foi possível colocar esse patrocínio nas camisolas, estou certo, que o vamos conseguir em breve. O Pedro é uma pessoa que vive muito o Boavista e nos quer ajudar.
Como isto vive mais?
Pela coordenação que a Alfredina implantou aqui! Isso provocou o dinamismo que neste momento se regista.
O vosso Blog está muito bonito, actualizado e actual. A quem se deve isso?
A duas jovens incansáveis, a Mariana e a Nádia.
A FORMAÇÃO
Nota-se grande movimento na formação. Confirma a evolução neste capítulo?
As panterinhas no ano passado eram dez ou doze. Esta época, são cerca de quarenta e tivemos que fechar as inscrições, senão, não parariam. Esta evolução deve-se ao projecto da Alfredina.
Construíram uma equipa de sub 17, qual o objectivo dessa equipa?
A Alfredina impos como condição para ingressar no clube a constituição de uma equipa sub 17. Eu entendo perfeitamente a ideia. O Boavista tinha uma equipa de Panterinhas de 13/14 anos e depois uma de seniores… era uma diferença muito grande, para se trabalhar com vista ao futuro.
Fez-lhe a vontade…
Não foi fácil, a nível logístico porque não havia campo livre, eu sinceramente nunca acreditei ser possível, mas ela insistiu, insistiu tanto que se conseguiu. Temos trinta e duas atletas nos sub 17 e fechamos… tivemos que fechar se não teríamos cinquenta. Agora vejo que ela tinha toda a razão pelo êxito que se verifica ao fim de um mês.
Depois essa equipa teve uma sorte muito grande, foi a Alfredina ter contratado a Helga. A Helga para mim, é uma surpresa muito positiva e muito grande. Na parte técnica e na parte pessoal foi uma grande aquisição, já mencionei a muitos Directores do Boavista o seu valor e já conquistou toda a gente que com ela lida. É uma mais-valia sem dúvida alguma.
Mas há dificuldades a ultrapassar?
Sim, o senhor Pina sabe muito bem disso, mas com o apoio de um grande grupo de trabalho que me apoia, talvez porque acredita em mim, sou um Boavisteiro ainda pequenino, sou o sócio 25080, por isso novo como sócio, mas verdadeiramente Boavisteiro ate ao fim da vida ( falava com profundidade e orgulho) sou sócio há ano e meio, mas posso-lhe garantir continue ou saia do futebol Feminino, continuarei como Boavisteiro porque foi uma paixão que me conquistou.
A muitos Boavisteiro custa entender isso!
Eu estou aqui para servir o Boavista e nada quero para mim, nada procuro, por isso estou à vontade. Sou Boavisteiro como os que assim nasceram!
Falemos então dessas pessoas que o apoiam e muitas são anonimas.
Quando falei do Cipriano, sei porque o fiz. Tudo o que me falta o Cipriano me consegue arranjar! Quando assim é não podemos ser ingratos e temos que saber reconhecer o valor e dedicação da pessoa.
Pelo que me tem falado, a Alfredina é mais que uma treinadora?
Muito mais que uma treinadora, pelo que me tem ajudado pelo tempo que dispensa ao clube, pelo amor que dedica ao seu trabalho, sem nada receber, sem nada ganhar! A Alfredina é o núcleo deste projecto!
A estrutura da equipa foi ela que a criou, a equipa técnica das Panterinhas e das sub 17 foi ela que as criou, está certo que estava cá a Fernanda, mas foi a Alfredina que colocou lá a Guita e conseguiu implantar o cargo de treinadora de guarda-redes. Todos os escalões têm treinadora de guarda-redes, o que nunca houve e que sendo importante, era quase impensável. Posso dizer-lhe que ainda ontem a Alfredina contratou uma treinadora de guarda-redes para a equipa sénior.
Eu sinto-me feliz por ter a felicidade de encontrar uma pessoa tão dinâmica e temos que continuar com esse trabalho e dinamismo. Com este apoio de pessoas que muitos nem conhecem porque se preocupam mais em trabalhar que em ser conhecidas, faz-me acreditar que mesmo com estes problemas que todos conhecem e que o Clube atravessa, com o apoio destas pessoas o Boavista tem pernas para andar, se continuarmos todos unidos como até aqui. Tenho aqui duas mais-valias que são a Mariana e Nádia que estão a gerir as sub 17 que ninguém as conhece.
Foi o Paulo Moura que fez o grupo, ou aproveitou o que estava, reestruturando à sua imagem?
Aproveitei o José Catarino que é pai de uma atleta e grande Boavisteiro, é uma mais-valia nesta equipa, costumo dizer é o “Director faz tudo” e através dele entendemos que seria a Alfredina que teria que formar a equipa dela. Assim ela formou uma equipa de treinadoras e Directoras, que repito, estão a fazer um excelente trabalho. O número de atletas que o Boavista tem, a elas o deve.
Tenho um Director todos os dias presente, tenho duas Directoras das Panterinhas sempre presentes com quem falo todos os dias. Isso permite-me libertar alguns dias para a minha empresa. Com este grupo é muito fácil eu conseguir coordenar o trabalho.
INFORMAÇÃO EXTERIOR
Esta conversa que estamos a ter é considerada por mim importante, mas há muita gente que pensa o contrário. Qual a sua visão sobre a informação?
Olhe senhor Pina, a minha opinião é muito simples. Não estou aqui para agradar a ninguém!
É uma entrevista que estamos a fazer e é importante, porque no fundo estamos a transmitir a verdade e aquilo que aqui se passa.
Considero importante que no exterior se saiba o que se passa e as dificuldades que temos, porque é verdade, porque isso demonstra que o Boavista está vivo. Não estamos a criticar ninguém, simplesmente a dar conhecimento do trabalho que está a ser feito e eu não posso deixar passar para o exterior a ideia que o Paulo Moura é formidável e faz tudo sozinho.
Não! Não posso deixar passar essa imagem o Paulo Moura trabalha porque tem consigo uma estrutura forte, capaz e que trabalha muito. Tenho a obrigação de tornar pública esta realidade e verdade.
Não quero os louros para mim, o importante é eu passar para o exterior que nós somos uma equipa de oito ou nove pessoas que trabalham (todos) muito para o Futebol feminino.
Por isso, acho que estas entrevistas são muito importantes.
Não estamos aqui a desfazer nem a criticar ninguém, estou a responder às suas perguntas, com frontalidade e verdade. E a verdade é esta, andam aqui pessoas que nem o senhor Pina, nem outras pessoas conhecem, mas que trabalham muito e que não desejam andar a mostrar-se mas que eu reconheço o seu valor. Sem elas o Paulo Moura nada fazia, nem nada conseguia! Eu orgulho-me muito de todos. Eu sei que era mais fácil só falar do Paulo Moura. Mas a estrutura não é o Paulo Moura é um conjunto.
Um homem que correu todo o país com várias camisolas e emblemas, como se sente recebido quando veste a camisola do Boavista, fora de casa?
A única vez que fui ofendido por ter a camisola do Boavista vestida foi no Porto (ver-se-á que foi em Matosinhos) fui ver um jogo da minha filha, onde a e a minha mulher fomos maltratados só por estarmos equipados à Boavista. Foi num jogo com o Leixões.
Posso dizer-lhe que esteja em Tomar ou noutro lugar qualquer visto-me à Boavista. Não uso outra roupa. Se estiver uma semana em Tomar, todos os dias me visto à Boavista e digo-lhe é uma cidade em que todos os dias me pedem camisolas do Boavista. Se tivesse mil camisolas do Boavista, mil camisolas me pediriam e mil camisolas eu daria. Em Tomar o Boavista é muito querido!
QUESTÕES PESSOAIS
Quais os objectivos que tem. Pessoal e desportivamente?
Para o Boavista o meu objectivo é ver esta equipa ser campeã nacional. Sinto que tem capacidade para conseguir esse feito. Mas para este ano o objectivo é conseguir um muito melhor lugar que nos últimos anos. Acho inadmissível ver o Boavista ficar abaixo dos quatro primeiros lugares. Este ano o objectivo é ficar na primeira fase nos quatros primeiros e depois na fase final lutar pelo melhor lugar.
O melhor é o primeiro…
E porque não? Tenho confiança nesta equipa.
Pessoalmente, sendo um Boavisteiro novo, já se sente da casa?
No aspecto do Boavisteiro as pessoas me receberam bem e já perceberam que eu passo o dia de manhã à noite dentro do Boavista. A minha mulher só me vê à meia-noite. Nesse aspecto acho que as pessoas que me conhecem já não têm dúvidas que sou Boavisteiro. Sou há pouco tempo, mas sou mesmo.
No desporto tem ganho mais amizades ou inimizades?
Senhor Pina, garanto-lhe uma coisa solenemente. No dia que criar uma inimizade aqui dentro, nesse dia saio. Estou aqui para ajudar o Boavista e não para criar inimizades com ninguém. Até este dia, penso que ainda não fiz nenhuma… penso. Também não sou uma pessoa conflituosa nem de criar atritos, por isso penso que não os vou arranjar, pois não é a minha forma de estar nem a minha forma de ser.
A sua reestruturação já foi compreendida e aceite pelas pessoas que pertencem ao passado. Pergunto isto porque muitas vezes entendem que este êxito podia ter sido conseguido anteriormente. O que sente?
Falar do passado do Boavista para mim é falar da Nanda e da Figo, porque as outras eu não conheço. A Nanda e a Figo foram das pessoas mais responsáveis para eu estar aqui dentro, elas sempre me quiseram junto a esta equipa. A elas também tenho que lhes agradecer, porque acreditaram em mim.
Enquanto eu cá estiver estas atletas serão um exemplo para todas e que terão ficar ligadas para sempre ao futebol feminino do Boavista, irei gerir a fase final da sua carreira como atletas o melhor que souber e com todo o cuidado, porque ambas fazem parte da história do Clube. Falo como sócio e não como Director, não podemos ser ingratos com tais pessoas e acho que ambas devem continuar sempre ligadas a esta estrutura do Futebol Feminino.
O senhor tem tido contactos com a Associação de Amigos, ou qual é a sua posição?
Sinceramente não conheço ninguém e ainda não houve oportunidade de nos encontramos, embora já e tenha constado a vontade da Associação em colaborar connosco. Sei que estão atentos ao nosso trabalho, tenho conhecimento que já reconheceram o nosso trabalho e já tentaram uma reunião, que ainda não aconteceu por responsabilidade minha. Mas tenho todo o interesse em reunir e conhecer as pessoas, porque todos não somos demais para fazer crescer o Boavista.
Se me permite eu vou tratar de organizar uma reunião entre as duas partes…
E eu agradecia essa sua colaboração! (NOTA: Como prometemos, falamos com o Presidente da Associação e Já está marcada para esta semana a reunião entre Paulo Moura e a Direcção da Associação)
Um empresário, um homem do desporto, como vê o futuro do desporto neste tempo de crise?
Muito difícil. Muito difícil! Eu vejo as coisas muito difíceis e porquê? Eu estive na Direcção do União de Tomar, um clube com problemas graves, talvez com a devida proporção, mais graves que o Boavista, conheço os números.
Eu vejo pelos apoios que lhe davam e hoje não lhe dão. Não duvido que o Futebol se vai ressentir e o maior dos problemas que acontecem é a falta de patrocinadores. Nós tentamos um patrocínio para a equipa de Panterinhas e sub 17 e não se consegue. E os patrocínios fazem parte de um orçamento em qualquer clube. Contar só com a contribuição dos sócios não chega, porque estão cansados e não podem ser sempre os mesmos a dar.
Por esta razão defendo que temos que organizar muito bem o Futebol Feminino para isto ter pernas para andar e para as pessoas que nos substituírem poderem continuar o trabalho. Se continuarmos a viver com o que temos… não temos hipóteses.
Futebol Feminino, um mundo de mulheres. Dizem que um homem entrar e viver nesse mundo é difícil. É verdade?
Não é fácil! Porque é um espaço delas. Quando fui para estágio para Baião falei com os meus Directores e disse-lhes – nós temos que nos moldar a elas e não elas se moldarem a nós – porque queiramos, ou não, este é um mundo feminino.
Houve algum dia que se arrependeu de ter vindo ao Porto… e lhe apeteceu ir para casa?
Já sim senhor, já me aconteceu isso.
O senhor é um homem frontal…
Sou sim senhor! Senhor Pina sou frontal porque não tenho nada a esconder, não vim para o Boavista para conseguir nada para mim e nem preciso de nada. Estou aqui para ajudar e se um dia sair daqui, continuarei a ajudar naquilo que puder e me pedirem. Não estou à procura de nada, o que quero é que o Boavista vença porque é para isso trabalho. Estou apaixonado pelo Boavista ainda mais porque tenho cá a minha filha.
Agora frontalidade, isso vou ter sempre porque quem não deve não teme e como lhe digo não estou agarrado a nada. O importante para mim é a seriedade e honestidade. Foi isso que me levou a agarrar-me ao Cipriano, a forma dura mas directa, honesta dele ser, fez-me ver nele um grande homem.
Cipriano é mais que um funcionário?
Senhor Pina, o futebol feminino deve tudo ao Cipriano que é um homem fabuloso! Não posso deixar passar isso em claro, ele tem sido o meu apoio em tudo o que preciso. É uma pessoa que me surpreendeu pela positiva e que conheço à pouco tempo, mas que me marcou. O Chalupa tem apoiado muito o futebol Feminino, mas o Cipriano tem sido excepcional.
Permita que fale por mim, tentei sair desta confusão e não consegui. A paz que encontrei não compensou a guerra a que estava habituado. Penso que consigo, um homem do desporto se passará o mesmo. Esta necessidade…. É uma loucura?
As pessoas podem dizer o que quiserem, mas dá gosto trabalhar no Boavista porque é um clube com nome. Posso dizer-lhe que lá em baixo na zona de Santarém, as pessoas olham para mim como se eu fosse uma pessoa muito importante no Boavista – o que não sou – mas é o valor e o peso desta camisola.
Para mim é um orgulho e é uma vaidade sentir isso e vestir esta camisola. Posso dizer-lhe que venho no Alfa e trago o meu saco a dizer Boavista, venho equipado à Boavista, ando sempre equipado à Boavista, quem me conhece sabe que isto é verdade. É um clube muito grande e respeitado mesmo com as dificuldades que atravessa. Olhe não ando mais vestido à Boavista porque não tenho mais roupa.
Digam o que disserem, batem em quem baterem é um clube muito grande. No futebol feminino as equipas quando defrontam o Boavista jogam de forma diferente que com os outros.
As modalidades atravessam momentos difíceis na fase em que o futebol feminino cresce. Sente isso?
Senhor Pina, sozinho nada conseguia, tenho uma grande equipa que vai continuar a trabalhar para essa realidade. Podia falar-lhe de tanta gente e esquecer-me de algum por isso fico por aqui. Mas garanto-lhe a nossa aposta é continuar a dar tudo.
Mas voltando atrás. Somos loucos?
Muitas vezes desanimamos, temos que dar um murro na mesa e apetecemos ir para casa, com coisas que nos desgostam e nos magoam. Mas ao outro dia vem uma pessoa dá-nos um abraço esquecemos tudo e vamos de novo para a luta. Também há dias felizes aqui dentro.
Mas somos ou não loucos ao deixar a paz da casa, a dar o nosso tempo gratuitamente?
Completamente, mas verdadeiramente loucos (gargalhada) só pessoas loucas podem passar dias completos aqui dentro. Num clube com tantas dificuldades, como o Boavista tem para continuar de pé precisa de loucos que lhe dêem tudo o que têm.
Como o senhor Pina diz, nós andamos aqui com pureza sem interesses em nada e vamos resolvendo os problemas dia a dia, é assim que fazemos aqui. Os problemas vão aparecendo e nós resolvendo-os todos os dias .
Mas nessa situação as injustiças doem mais…
Ah! doem muito. Já as tive aqui dentro. Não vou fugir a isso. Já me senti em duas ou três vezes injustiçado e fui para casa muito triste com vontade de bater com a porta.
O Senhor é um homem frontal e diz sempre tudo de primeira. Não teme que o coração o traia e diga o que não deve?
Senhor Pina, eu sou directo, se tiver que lhe dizer alguma coisa desagradável… digo-lhe! A si ou a quem for necessário.
Não me vergo a ninguém, seja quem for!
Mas sou homem para lhe pedir desculpa se tiver errado.
Ora quem diz o que sente e tem a coragem de o assumir. Quem tem a humildade de pedir desculpa, nada tem a temer e pode sempre falar com o coração.
Se nada devo, nada temo!
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