quinta-feira, 22 de julho de 2010

JOÃO MARQUES, DE FIO A PAVIO... SEMPRE EM FRENTE

João Marques, teve um ano movimentado como treinador pois participou em três projectos e acabou Campeão Nacional.
É um apaixonado por futsal e um acérrimo adepto do Boavista. Um jovem com dezanove anos de idade e onze de camisola axadrezada ao peito.
Interrompeu as férias e veio por umas horas ao Porto para nos conceder uma entrevista. Sem entrar em polémicas, mas nunca fugindo ás perguntas, Que parecia trazer na ponta da lingua.

O ATLETA
Vamos começar pelo atleta. Porquê o futsal?
Como jogador actuei durante doze anos, onze dos quais no Boavista. Optei pelo futsal, porque o meu pai foi director do Boavista nas actividades Amadoras e eu passava horas e horas no pavilhão Acácio Lelo e sempre me cativou ver jogos e treinos de Andebol, de Voleibol e de futsal.
Sempre gostei de jogar à bola com os meus amigos, na escola na rua e assim sempre me cativou mais o futsal. Outra razão de escolher o futsal em vez do futebol de onze, foi a preocupação que os pais sempre têm e os meus também tinham, que na altura do inverno pudesse adoecer com o frio e a chuva.
Começaste no Boavista?
Sim vim desde as escolinhas até júnior do primeiro ano sempre no Boavista, depois saí para os juniores do FC Foz.
Conquistaste algum título durante esse trajecto?
Não. No Boavista a única coisa que consegui vencer foi uma prova extra que para um clube como o nosso, é muito pouco. Em infantis consegui ser campeão de série mas depois na final, perdemos com o Freixieiro por um golo.
Sais do Boavista para o FC Foz, ainda júnior. Porquê?
O Foz criou nesse ano uma equipa de juniores, porque tinha subido à terceira divisão nacional. Tinha lá muitos amigos e considerei que lá ira mais tempo de utilização, por isso apostei na mudança para evoluir como jogador.
O TREINADOR
Mas no ano seguinte (2009) deixas de jogar e nasce o treinador, o que aconteceu?
Eu no ano que estive no Foz estive quase parado em termos de escola porque completei o décimo segundo ano mas não consegui colocação na universidade. Para me manter activo fiz o curso de nível um de futsal.
Mas podíamos ter continuado a jogar…
O director máximo do futsal do Foz, Doutor Luís Figueiredo, propôs que eu fosse rodar por um ano noutro clube. Eu analisei e tomei a opção de acabar a nível de jogador e iniciar-me como treinador.
O que te levou a tirar o curso de treinador?
Eu estou a estudar na Faculdade de Desporto e esse é o meu principal objectivo.
Qual é o curso?
Ciências de Desporto.
Logo no primeiro ano de treinador regressas ao Boavista. Como aconteceu esse regresso?
Inicialmente ingressei no Ases de Leça com uma equipa de feminino que se formou nesse ano, cujo director desportivo, era o Gabriel pereira, atleta da Fundação Jorge Antunes e era o treinador principal da equipa. Comecei a pré-época mas surgiram alguns conflitos e optei por sair, mesmo antes do início do campeonato. Posteriormente falei com o nosso Director de Futsal, o Senhor António Morais e mostrei disponibilidade para o caso ele ter algum escalão a precisar dos meus serviços. Dentro desta disponibilidade surgiu a oportunidade do meu regresso para fazer dupla como adjunto com o Vasco Fragata.
Mas era o inicio de uma época movimentada. A meio passas de adjunto a responsável principal. Como?
A quatro ou cinco jogos do final do campeonato, o Vasco por motivos pessoais teve que interromper a sua prestação na equipa e por isso eu assumi a direcção técnica dos iniciados.
Em que classificação terminaram?
Em terceiro lugar.

Ficou, em algumas pessoas, a ideia que podiam conseguir mais. O que pensas sobre isso?
Sinceramente acho que nós fizemos um bom trabalho e que obtivemos uma boa classificação final. Se repararmos o primeiro classificado foi o Caxinas só com vitórias, com uma super equipa que tinha muitos jogadores com andamento de juvenis, jogando ate alguns jogos de juvenis.
O segundo classificado foi o Freixieiro com os mesmo pontos que nós, que tem outras condições que nós não temos. Têm pavilhão próprio que lhes permite realizar três treinos semanais de pelo menos duas horas e neste escalão de formação isso é muito importante.
Pelo nosso lado tínhamos miúdos sem escola de futsal que tivemos que os formar de início, tínhamos meia dúzia com escola mas que não eram (ainda) fundamentais na equipa. Por tudo isto, acho que o terceiro lugar foi uma boa classificação.
De repente ingressas nos juvenis. Ora explica lá, mais essa mudança na época.
Um dia fui ver um jogo de infantis com o Sérgio Carvalho, a meio da conversa ele disse-me que o Nuno Andrade, na altura o seu adjunto, iria residir para Inglaterra e perguntou-me se estaria interessado em colaborar como adjunto, na fase final nacional do campeonato. Assim eu iniciei-me como adjunto dos iniciados, depois como principal dos mesmos e acabei como adjunto nos juvenis.
Onde foste campeão nacional. Para o ano vais continuar nos juvenis ou regressas aos iniciados?
Vou continuar nos juvenis, como adjunto. Havia a oportunidade de assumir como treinador principal os iniciados, mas achei por bem, nesta fase inicial de treinador, ganhar mais experiencia e maturidade com alguém que percebe, como é o caso do Sérgio, que já conquistou vários títulos e que já demonstrou que sabe como lidar com um grupo. Acho que continuar como adjunto do Sérgio é a melhor opção para mim.
És um treinador da formação ou em formação?
Neste momento sou um treinador em formação na formação. Mas de futuro serie um treinador de qualquer escalão.
FALANDO DE FORMAÇÃO
Dá-me o teu comentário sobre esta minha afirmação. Nos juvenis sente-se que a equipa partiu para ser campeão. Nos outros escalões, fico com a ideia que se parte para ver se seremos campeões, por exemplo os juniores que tinha uma excelente equipa. Como analisas?
Esse discurso muda consoante os jogadores que temos. Se repararmos em relação aos juvenis, nós temos jogadores que já estão bastante identificados com o clube. Alguns já se encontram no Boavista há vários anos e este ano, por exemplo, só entraram dois jogadores vindos de outro clube. Nos ouros escalões, como nos juniores tínhamos uma excelente equipa, é certo, que até poderia ser o futuro da equipa sénior, mas não aconteceu porque são jogadores que não estavam identificados com o clube.
Estão cá há um ou dois anos e não estão ainda identificados com os objectivos que um clube como o Boavista tem forçosamente que perseguir.
Segundo entendi defendes que se deve começar com um grupo de base e depois reforçando com outros (poucos) elementos, durante a evolução. Entendi bem?
Eu acho que isso é que a formação. Pegar em jovens desde a base e leva-los até juvenis ou juniores, sempre com alguma reestruturação, com a inclusão de algumas mais-valias. Jogadores de qualidade são sempre bem-vindos, mas devemos manter sempre a base da equipa formada por jovens que se identifiquem com o clube,
muitos deles Boavisteiros, o que agora já é difícil. Acho que isso é a base do sucesso.
É difícil conseguir miúdos Boavisteiros?
Cada vez mais difícil, o que é grave e deveria fazer pensar os responsáveis.
Voltando aos juvenis. O título foi o corolário lógico do vosso trabalho?
Sim estávamos plenamente conscientes do valor da equipa e de ser possível atingir o título. Mesmo depois do empate em casa com o Sporting nós transmitimos ao grupo a plena confiança que poderíamos ir ganhar a Loures, tal como aconteceu. Esse foi o grande passo para a conquista do campeonato. O outro passo que considero importante, foi quando no final do primeiro jogo da fase nacional quando vencemos por oito a três o SC Vila Flor, termos feito ver aos jogadores que o realizamos um mau jogo como equipa colectiva. Durante a semana transmitimos a mensagem desse facto e acho que ganhamos um grupo mais coeso.
Mas foi uma goleada…
Apesar de termos ganho confortavelmente o jogo foi mau.
O FUTURO
Para o ano a equipa vai manter este nível?
Vamos perder alguns jogadores importantes, como o caso do Pedro, do Alex, do Dani, do Axel e do Leandro. Vamos buscar alguns e temos um base que vai subir do primeiro para o segundo ano e dois ou três que chegarão dos iniciados, por isso
vamos estar na luta.
Registamos, criticas indirectas nas duas entrevistas que realizamos sobre os jogadores do primeiro ano. Tomaste conhecimento delas?
Concordo com as críticas, pois penso que os jogadores de primeiro ano cometeram um erro. Não digo que fossem todos, mas houve alguns que se baldaram um bocado porque sabiam que não iriam ser uma opção tão frequente, no fim-de-semana dos jogos. Eles sabem que o ano deles é o segundo ano da chegada ao escalão. É aí que eles têm que dar o grande salto em termos evolutivos, é aí que eles têm que mostrar o seu valor.
Mas esse salto só vai acontecer se no ano anterior, que é o primeiro ano no escalão, eles treinarem e esforçarem-se ao máximo, porque se não em vez de ganharem um ano e evoluírem, vão perder um ano e começarem quase do zero no segundo ano de juvenis.

O TÍTULO NACIONAL
Sem entrarmos em polémicas. Como Boavisteiro, como treinador, como homem do futsal, achas que se reconheceu o vosso título como mereciam?
Sinceramente acho que não tivemos o reconhecimento pelo clube que o nosso título merecia. Se repararmos no segundo jogo da final em Nelas só tínhamos uma pessoa da Direcção que era o Vice-presidente-adjunto, o Senhor Engenheiro, Américo Santos, mas na qualidade de adepto, aliás que habitualmente nos acompanhou. Não houve uma recepção da parte da Direcção, não houve nada. Acho até, que a muitos parece que lhes caiu mal a nossa conquista do título. Eu estava à espera de mais por parte de Direcção, ao contrário dos adeptos que foram inexcedíveis no apoio que nos deram durante a época e principalmente nos jogos das meias-finais e final foram sem dúvida o sexto jogador.
Uma constatação fácil de ser feita é o facto de na equipa de juvenis todos os dirigentes e treinadores, serem boavisteiros “ Malucos pelo Clube”. Doeu-vos mais essa falta de reconhecimento?
Eu estava à espera de melhor, confesso, mas pouco me afectou. No seio do grupo sabíamos a importância deste titulo, sabíamos o que este título podia trazer ao Boavista, que numa época de crise que nós atravessamos, é um título importante, porque é um título nacional. Este título é a afirmação que o Boavista ainda tem uma equipa que é a melhor do país a jogar futsal. Não nos afectou porque nós sabíamos o valor que tínhamos e essa certeza não importava transmitir às pessoas de fora. Esse título entre nós foi vivido duma maneira inexcedível.

INCONFIDÊNCIAS DA NOSSA PARTE
Peço perdão ao João mas não resisto a publicar uma conversa tida em off ainda à cerca deste ponto, em que ele desabafava…
Chegaram a criticar o facto de a Direcção nos ter cedido o autocarro do clube e o qestionaram o valor do título por termos ganho por catorze golos no total da final. Isto é grave, porque foi feito por um homem de dentro da organização do clube, com responsabilidades no futebol de formação… quem entende um pouco disto, sabe que o nosso principal adversário era o Sporting (com todo o respeito pelo ABC Nelas)
e aos Leões nós vencemos com toda a categoria, não temos culpas da ordem que o sorteio proporcionou.
Mas mesmo com o Nelas os resultados enganam…
Respeitamos o ABC ao máximo, fizemos contra eles um jogo quase perfeito, ao nível da segunda parte com o Sporting, e aproveitamos tudo o que jogo nos proporcionou e terminamos com um resultado que nem nós prevíamos, mas esse resultado foi fruto do nosso trabalho, do nosso rigor e da nossa categoria.
Só quem não percebe, ou está de má fé, pode questionar este verdade. Mas foi grave essa afirmação, porque veio de dentro do Nosso Clube. Eu vou para o futebol, a todas modalidades, grito, apoio e sofro. Quero lá saber se não é futsal. É o Boavista, é o meu clube!
Renovo o pedido de perdão mas considero que era importante publicar este desabafo sofrido por um Grande Boavisteiro! Todos que o conhecem sabem isso muito bem.

O FUTSAL DO BOAVISTA
Como vês o futsal globalmente no Boavista?
É obvio que com esta crise as modalidades do Boavista estão a passar algumas dificuldades. Em termos de futsal formação, continuamos a ter boas equipas, que são um orgulho e demonstram que o Boavista ainda é uma Instituição que cativa muitos miúdos. Em termos de seniores fizemos uma época que poderia ter sido melhor, embora com muitas adversidades. Penso que nesta época podemos voltar aos lugares de cima.
E o futsal a nível nacional?
Acho que esta a ser um bocado rejeitado pela federação, dou um exemplo, que foi mau de mais. Quando o Módicus foi campeado nacional da segunda divisão e não teve nenhum representante da Federação para lhes entregar o troféu de campeão. Na minha opinião a Federação continua a olhar muito mais para o futebol que para o futsal.
Não achas que o troféu que conquistaram, é demasiado simples?
Sim para o que representa, considero que deveria ter uma grandiosidade maior.
O ACTUAL MOMENTO DO BOAVISTA
Membro de uma família reconhecidamente boavisteira, como vês esta fase da vida do Boavista?
Vejo com alguma apreensão, porque considero que o Boavista não esta a ir pelo caminho correcto. Estamos com bastantes dificuldades em inscrever equipas em todas as modalidades por questões financeiras, para alimentar uma Instituição paralela ao Boavista, que é a Sad em prejuízo das actividades Amadoras e sem ver a viabilidade da continuidade dessa Sad.
Para o João Marques é mais fácil ter o pai fora, ou dentro da Direcção do Boavista?
Esse facto nunca me fez sentir nem superior nem inferior a ninguém. Nunca teve influencia quando eu era jogador porque passou sempre ao lado dos treinadores e dirigentes, eu era apenas e só, mais um jogador. Como treinador, o meu pai já não pertencia aos quadros do Boavista. Eu nunca fui o filho do vice-presidente. Eu estou lá porque sou boavisteiro, porque gosto da modalidade.
O CHEFE
Falando do Sérgio. Ele sempre demonstrou grandes capacidades para o dirigismo. O teu pai sempre se opôs à passagem para o lado do treinador, com medo que o Sérgio não atingisse como técnico o que atingiria com dirigente. Qual a tua opinião?
Acho que é um treinador espectacular. Ele consegue conciliar, uma coisa que é fundamental na formação – que é conciliar a amizade com o trabalho. Ele consegue descobrir problemas pessoais dos jogadores, quando mais ninguém os vê. É um treinador como nunca tive enquanto jogador que organiza palestras, analisando os jogos ao pormenor para nunca faltar nada aos jogadores. Sem tirar mérito aos outros treinadores da formação, para mim é o melhor. Todos os anos ganha títulos!
Para terminar, fala-me daquilo que eu considero a grande aventura de jogar em Lisboa ao meio-dia saindo do mesmo dia do Porto.
Foi tudo programado. Fizemos um género de estágio no estádio do Bessa, aí devemos agradecer ao clube que tudo fez para que nada nos faltasse. No jogo de Loures havia duas possibilidades, ou jogar ao meio-dia ou jogar ás dezanove horas depois de um Sporting/ Benfica em seniores que é sempre problemático. Decidimos libertar os nossos jogadores dessa pressão e confusão. Foi excepcional e os nossos miúdos portaram-se como homens.
Mas nunca tentes fazer isso com os seniores…em qualquer clube.
Num jogo daqueles, em que todos querem jogar eu acho que seria da mesma maneira…

Um comentário:

  1. Desejo-te as maiores felicidades para o teu percurso e vamos ver como corre tambem os iniciados

    Ass. JD

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