segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PEDRO FERREIRA, O (NOVO) TREINADOR DE JUVENIS DE FUTSAL

Pedro Ferreira, professor de Educação física ( pós-Graduado em Ciências do Desporto na Área do Treino de Alto Rendimento Desportivo) terminou a sua carreira como atleta e iniciou de imediato a carreira de treinador na equipa de Juvenis.
Viveu estas duas situações no clube do seu coração, o Boavista FC.
Vamos conhecer melhor este Boavisteiro e a sua visão da modalidade.

O ATLETA
Todos conhecem o atleta Pedro Ferreira, mas pouco conhecerão o seu passado. Como te dedicaste ao desporto e qual o teu passado desportivo?
Curiosamente comecei pelo futebol e a jogar no Boavista na equipa de infantis. Em seguida, tive uma passagem pelo Basquetebol onde participei em juvenis e cadetes. Só posteriormente optei pelo futsal. O meu primo o Óscar Pereira, também boavisteiro e treinador de futsal levou-me para o Carvalhido.
Pode dizer-se que começaste no Carvalhido?
Exactamente. Estive no Carvalhido um ano e depois passei para a Cerâmica de Valadares, ainda era júnior mas fazia parte da equipa sénior. Após duas épocas fui convidado para ingressar no Miramar, nessa altura era o ex-líbris da modalidade. Fiz grande parte da minha carreira nesse clube.
Nunca foste profissional de futsal?
Sempre optei pelos estudos como principal objectivo e o futsal foi sempre um prazer extra, embora tenha passado uma fase na qual treinei duas vezes por dia. Com esta perspectiva ingressei no Instituto D. João V, onde dava aulas e jogava futsal. Daí passei para a Fundação Jorge Antunes na tal fase mais próxima do profissionalismo e depois para o Módicus.
E terminas no Boavista…
Sim após vários convites apresentados durante anos, vim jogar para o meu clube de coração, onde decidi terminar a minha carreira como atleta.
Mas ainda com idade para continuar, porquê essa decisão?
Decidi ser a altura indicada, porque quis sair a bem e deixando uma boa imagem como atleta. Achei que era a altura correcta mesmo para o meu futuro pessoal.
Esta foi uma panorâmica de clubes. Pessoalmente o que temos a registar de mais significativo?
Fui internacional “A” e estive num Campeonato Mundial Universitário, representando a Selecção Portuguesa. Joguei também na Selecção Distrital do Porto, onde era o capitão. Fui o primeiro jogador a ganhar os três principais títulos nacionais, o Campeonato, a Taça de Portugal e a Super Taça. Claro que tive a sorte de estar em clubes que tinham oportunidade de lutar por esses títulos, mas não deixa de ser curioso ter sido o primeiro atleta a quem aconteceu esta situação. No cômputo geral, fui campeão várias vezes, ganhei Taças de Portugal, estive presente em várias final-four. Posso sentir orgulho na minha carreira.
A ÉPOCA PASSADA
Neste momento, sei que o Boavista te convidou para continuares como atleta e sei também, que tiveste um convite para continuares num clube de primeira divisão. Não seria mais bonito teres terminado na primeira divisão, em vez no Boavista que está na segunda?
Nunca distingui isso. Para mim era igual se o Boavista estivesse nesta ou noutra divisão mais abaixo. Eu nunca joguei futsal por vaidade. Ao ingressar no Boavista ainda mais senti isso. Foi uma forma de sentir e ver a apoiar as pessoas que me conhecem desde pequenino e que sempre me admiraram. Aproveito para dizer a todos os Boavisteiros que foi apenas um ano a jogar mas todos sabem que tem sido uma vida a apoiar.
Foi um enorme prazer e orgulho envergar esta camisola onde dei tudo o que podia e darei no futuro esteja onde estiver.
Mas foi uma época mais difícil que esperavas?
Não vou dizer que gostei de tudo. Tivemos ali alguns maus períodos, achei que o tratamento nem sempre foi o mais correcto mas tudo isso é passado e advém de algumas formas distintas de se encararem certos pontos. Não queria ser repetitivo, mas a lesão do Fabinho – que era um jogador preponderante na manobra da equipa – desanimou muito toda a gente. Durante o campeonato confirmou-se a falta da sua presença em campo. Chegamos a um período que todos nos mentalizamos que tínhamos que resolver as coisas sem ele. Depois tínhamos um plantel com um conjunto de juventude e veterania e foi necessário efectuar um trabalho para melhor adaptação. Foi uma época difícil e trabalhosa, sem dúvida.

O TREINADOR
Como surge esta surpresa, de passaras a treinador?
Eu já treinei os Juniores do Modicus, quando lá joguei como sénior e coordenei as camadas jovens do clube. Gostei muito e as coisas correram muito bem. Quanto agora, sou honesto, houve uma conjuntura que me agradou e uma vez mais porque me tocaram no coração e decidi aceitar, porque se trata do Boavista. Tinha determinado parar por uma época para separar o passado do futuro e por essa razão, não aceitei o convite para pertencer a uma equipa técnica de um clube da primeira divisão. No entanto, a forma como fui contactado pelo António Morais, pelo Alberto Melo e Carlos Faria, quase não deram alternativas de resposta. Sem separação de passado e futuro mas com toda a confiança abracei este desafio.
Porque razão irias parar, para além das descritas?
Foi muito tempo dedicado ao futsal, considerava que seria a altura de me dedicar mais à família e ficar mais em casa. Mas a maneira quase desesperada como o Alberto me pediu para tomar conta de uma equipa pela a qual tem muito carinho foi determinante para a minha alteração de projecto pessoal. Sei que ele apostou muito em mim, porque tinha muitos treinadores a oferecerem-se para essa equipa, mas sempre teimou em ser eu o escolhido.
Não resististe?
É muito difícil dizer que não ao Boavista. Aqui estava a dizer não ao Boavista, ao futsal e às pessoas que admiro. Eram muitas vezes não!

OS JUVENIS
Esta equipa tem no seu passado ganho muito. É uma grande responsabilidade?
É verdade! Eu gostava de pegar numa que nunca tivesse ganho e pô-la a ganhar, mas felizmente esta equipa é uma vencedora. A minha missão é melhorar a sua competitiva e formação, porque
há sempre algum a melhorar em todos os conjuntos.
Conheces os miúdos?
Mais o Miguel Ângelo, porque fez parte da equipa de seniores. Os outros, conheço de os ter visto jogar como espectador Boavisteiro que sou. Vi jogos dos juvenis, como vi jogos de outros escalões.
Sentes-te com vocação para treinar juventude?
Sinceramente acho-me mais preparado para treinar juniores ou seniores e especialmente seniores. Isto devido às minhas exigências, mas claro que me adapto muito bem às realidades que encontro.
Uma nova experiência?
Eu nunca aceitaria treinar neste momento uma camada tão jovem, mas devido aos atletas em causa, às pessoas que mo pediram mas acima de tudo, pela dificuldade que é depois de estar lá dentro do Boavista não conseguir ajudar (no que posso e julgo saber), porque senti e sei, que em todos os colaboradores (massagistas, treinadores directores responsáveis pelos escalões, etc)
existe uma paixão enorme por fazer do Boavista a nossa vida.
Encaro este compromisso com muita humildade, seriedade e prazer.
Quais os objectivos?
Os objectivos para com estes jovens, passam por seguir o trabalho realizado até aqui pelos técnicos anteriores, tentando aproveitar tudo o que de bom foi feito (que eu acho que foi muito), e seguir os trilhos do sucesso desportivo. Felizmente neste clube o discurso que passa por toda a gente incluindo atletas é o da vitória. O que eu pretendo no entanto, é que os jogadores não queimem etapas na sua formação, principalmente a nível humano (pois as vitórias nestes escalões por vezes originam a isso) no seu aspecto psicológico.
O caminho está delineado e os objectivos destes rapazes também, ou seja
isto é como uma viagem de longo curso em que a rota está traçada e os motoristas vão se revezando tendo sempre os mesmos princípios que é o de levar a bom porto todo este projecto.
A equipa técnica está formada?
Neste momento conto com o João Marques. Depois veremos se precisamos de mais algum elemento, mas para já, somos os dois.

FORMAÇÃO
Como treinador de formação o que é mais importante, ganhar títulos ou formar atletas?
Num clube como o Boavista, habituado a vencer e a formar, as vitórias são importantes e para os jogadores ganhar também faz parte da sua formação como atletas ambiciosos. Mas a formação Tem que dar frutos nos seniores, não nos iniciados ou juvenis. Não me adianta nada ter campeões nos juvenis e não aproveitar ninguém para os seniores. Eu costumo dizer que mesmo os milionários que têm os Ferraris e Porches, os têm que substituir ao fim de cinco anos, porque as máquinas têm desgaste. Tenho conhecimento de “carradas” de campeões de juniores que quando chegam aos seniores se perdem, ou porque lhes falta a disciplina, métodos de trabalho, poder de sacrifício, humildade, etc… tudo isso, porque chegam aos seniores, já convencidos que sabem tudo e que já nada têm para aprender. Estes atletas, logicamente perdem-se!
Neste escalão de juvenis é preciso que tenham a consciência que estão em formação e que há equipas a treinar como eles, para lhes ganharem. O que é preciso é subir patamares, porque ainda há muito patamares para subir até ao topo.
Como analisas a formação do Boavista?
Não há um fio de jogo constante até aos seniores que se identifique com o sistema de jogo adoptado no escalão máximo. A formação está dividida em muito escalões quase independentes, em que cada um tenta fazer o melhor para o seu escalão, tenta ser campeão! Temos que formar uma pirâmide inter-ligada e definida. Mas eu vejo tanta gente boa, lutando todos pelos mesmos objectivos, que considero que deveríamos estar mais ligados para alcançarmos os nossos objectivos que é melhorar a formação do Boavista futsal.
Qual a diferença que vês em treinar seniores e formação?
Nos seniores ao treinar posso adoptar qualquer um modelo de jogo. Vou poder utilizá-lo muitas vezes, pelo contrário nos juvenis tal não é viável porque poucas vezes vamos encontrar equipas que joguem um futsal como eu acho que deve ser jogado. Neste caso, temos que nos adaptar para vencer o jogo sem impor muitas vezes o método que desejávamos, as equipas vão jogar fechadas sem nos deixar jogar o nosso jogo. Nos seniores há mais facilidade de impor um modelo de jogo determinado por nós.
Nos jovens o presente é mais importante que o futuro, a vitória é mais importante que evoluir. O que é um contra censo.
O FUTSAL
Um homem de futsal como és há muitos anos, como vê a modalidade na globalidade?
No respeitante à qualidade, registo o aparecimento de alguns jovens muito evoluídos, porque chagaram aos seniores e só jogaram futsal. Isso é uma vantagem enorme. Também me apercebo que existe muita a gente a gostar e jogar futsal. Verifico isso nas escolas, onde não há modalidade mais jogada nas escolas que futsal. Como negativo, vejo a estagnação do futsal provocada pela Federação. Não concordo que se faça uma liga independente da Federação, como muitos defendiam, mas também acho que a Federação não pode fazer estagnar a evolução da modalidade, como actualmente acontece.

O FUTURO
O que mais te surpreendeu nesta tua primeira apresentação aos jovens?
O seu método de trabalho, o seu amor ao treino, porque demonstram que estão habituados a trabalhar e estão ali para sugar todos os conhecimentos que lhe apresentam nos treinos. Isso é muito positivo e importante.
Para terminar… uma frase pessoal..
Força Boavista! Aproveito para desejar muita sorte a todas as modalidades AMADORAS onde eu sei que o sentimento é o mesmo pelo BOAVISTA.
Entrevista de Manuel Pina

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