segunda-feira, 2 de agosto de 2010

BOXE - JORGE JEREMIAS EM FAMÍLIA

Jorge Jeremias é um antigo pugilista do Boavista, que optou pelo profissionalismo e por isso não continua inscrito pelo Clube, sendo treinado pelo trio de treinadores axadrezados, Carlos Caldas, Pedro Barbosa e Pinto Lopes.
No passado Domingo, conquistou o título mundial na categoria de TWBA.
Uma semana passada e fomos até sua casa para ouvir o palpitar de um Campeão. Encontramos um homem calmo, ponderado de poucas palavras mas sempre pronto para o diálogo. Enquanto, os seus dois rebentos, orgulhosos do papá, brincavam na varanda.

O INÍCIO
Quando começaste a jogar Boxe?
Com dezasseis anos, no Praça da Alegria no parque das Camélias.
O boxe nasceu contigo, ou foi uma descoberta pessoal?
Eu com nove anos comecei pelo atletismo e depois experimentei o futebol, como qualquer jovem fazia.
Situemo-nos no tempo. Com que idade jogaste e de onde és natural?
Sou natural de Massarelos e viva em Miragaia no Passeio das Virtudes. Joguei até aos quinze/dezasseis anos. Comecei no FC Foz e cheguei até ao Leixões.
Porque não continuaste?
Cedo percebi que no futebol é preciso ter sorte e tudo, pelo menos naquela altura, passava por ter uma boa cunha. Como não era o meu caso, decidi ficar por ali.

O BOXE
Desistes do futebol e… porquê a opção pelo Boxe?
Eu já era um bocado traquina… e fui experimentar o Boxe. Cheguei, vi, experimentei e fiquei! Descobri que era o meu desporto, porque é um desporto individual em que o nosso futuro é fruto da nossa capacidade, trabalho e dedicação. No Boxe, somos aquilo que realmente construímos durante a nossa carreira.

O BOAVISTA FC
Como se dá a passagem do Praça para o Boavista?
Eu no Praça da Alegria nunca combati. O treinador era o Pedro Sá, que por sua vez foi convidado pelo Senhor Pinto Lopes para ir para o Boavista e eu acompanhei-o. Fiquei toda a minha carreira de amador no Clube.
Ainda é (informaram-me) o atleta que conquistou mais títulos… lembra-se de alguns?
Eu como Amador ganhei tudo o que havia para ganhar. Fui campeão Nacional em sessenta e dois quilos e meio. Também ganhei o título Nacional em em sessenta e sete quilos e em setenta e um quilos fui campeão Nacional durante seis anos consecutivos. Fui sete vezes campeão regional. Conquistei cinco Taças de Portugal. Pela selecção Nacional, conquistei três medalhas de bronze e uma medalha de ouro.
Sempre ligado aos homens do Boavista?
Sempre ligado a eles e sempre ligado ao Clube, como me continuo a sentir, só não tenho o seu emblema porque deixei o amadorismo.

O PROFISSIONALISMO
...Algumas pessoas desconhecem, mas quando se opta pelo profissionalismo, passamos à condição de individuais, podemos continuar a treinar nos clubes mas a competir temos que o fazer individualmente. Os clubes não têm capacidade para abraçar o profissionalismo do Boxe, já sabe Deus para o futebol… mas tirando isso estive sempre ligado ao Boavista. Quem me "fez" sempre os cantos (apoio técnico, nos combates) foi o Carlos Caldas, o Pinto Lopes e o Pedro Barbosa, todos treinadores do Boavista. Eu vou ao Bessa várias vezes, treino com os atletas do Boavista, eles treinam comigo…
Como nasceu a ideia do profissionalismo?
Eu tinha ganho tudo como Amador e naturalmente a minha ambição pessoal, fez-me tentar vencer novos desafios. Quis experimentar novas sensações. Falei sobre isso com o Pinto Lopes e ele concordou com a ideia. E deixei o amadorismo.

O TÍTULO MUNDIAL
Chegar a este título, foi um objectivo ou aconteceu como corolário lógico de uma evolução?
Primeiro de tudo temos que estar rankeados (tabela oficial do Ranking Internacional) eu tenho ali a minha caderneta profissional que prova que eu já não perco um combate desde 2005. Todos os combates nos dão pontos nesse ranking e depois de termos uma pontuação que nos permita, podemos candidatarmo-nos a um título, deste género.
Foi por isso, programado?
As portas já estavam abertas ao ter vencido o Daniel Suco no Casino de Monte Gordo. Só que organizar um programa como este é uma coisa cara e é difícil encontrar alguém para o organizar. Para agravar vivemos uma crise mundial que afasta muito os possíveis patrocinadores. Tendo tudo isto em conta, tive que ser a organizar este evento.
Mas essa posição não te reduziu a concentração no combate e o tempo de treino?
Nesse aspecto tive a grande ajuda da minha mulher, que organizou tudo ao pormenor e aquém devo muito nesse aspecto organizativo. Confesso que no início pensava que iria despender energias e concentração para ajudara organizar o programa. Mas no final, acho que acabou por me ajudar, porque não tinha tempos livres, como tal não pensei demasiado no combate e não fui assaltado mentalmente por aquele nervosismo que sempre acontece. Gastei tempo na divulgação, a colar cartazes a tentar apoios e quase não pensei no combate.
Agora com o título de campeão no bolso, como se processam as coisas, quando é obrigado a colocá-lo em disputa?
Eu agora tenho seis meses para ficar com o título. Isto é, se amanhã me propuserem a disputa do título, eu tenho o direito de aceitar ou não. Se no final dos seis eu não o quiser defender… ele ficará entregue a quem se quiser candidatar. Mas é obvio que quando se aproximar esse prazo o irei defender. De qualquer modo este título, durante este período é exclusivamente meu e a minha conquista ficará registada para a história deste título. Este cinto ficará sempre comigo. É como a Liga dos Campeões. Campeão é Campeão!
O FUTURO
Por quanto mais tempo teremos o Jeremias a lutar?
Eu sinto-me bem. Tenho o apoio dos mais jovens, treino com eles e por isso não sei.
Pensar em acabar é difícil?
O Boxe é uma paixão, mas é igualmente um vício e por isso ninguém pensa em terminar. Mesmo quando acabar como atleta não abandonarei o Boxe, há sempre que fazer, há sempre forma de continuar ligado a esta arte. Para além disso continuarei a treinar, porque essa preparação ajuda na saúde e por isso nunca abandonarei o treino.
Por falar em treinos. Posteriormente vai nascer um treinador?
Actualmente eu já dou aulas, já ajudo atletas novos, por isso essa situação será normal de acontecer. Penso, no entanto, competir por mais dois anos.
Mais dois anos… que objectivos?
Penso defender este cinturão e atacar outro diferente.
Desculpa a ignorância de um aprendiz. Há diferença entre este título o que o Nuno Cruz se candidatou?
Sim há uma diferença. O título hispânico é disputado por atletas oriundos de países de língua hispânica, consideradas as línguas Portuguesa e Espanhola. O Nuno já venceu também, este título de TWBA.

A FAMÍLIA PESSOAL
Como é que o pai e marido, luta e olha para a bancada e vê os filhos e a mulher. Isso não o atrapalha?
Não pelo contrário! Como já disse eu treino muito e sinto-me preparado para o jogo. A presença deles só me entusiasma e quando olho para eles isso dá-me uma força enorme. Eles apoiam, eles dizem que o pai é o melhor do mundo (rindo-se).

A FAMÍLIA DO BOXE
Quando assisti à gala realizada no Fontes pareceu-me que as pessoas do Boxe, são um conjunto que segue todos os espectáculos. Existe a “família do Boxe”?
É verdade as pessoas andam de um lado para o outro. Eu tenho um grupo de apoio muito grande. Como já pratico há vinte e três anos a minha claque vai de jovens a Senhoras e homens de várias idades, mas que me dão um apoio incondicional.

A ACTUALIDADE
O aparecimento da Arena de Matosinhos ajudou o Boxe?
Sim, porque se têm realizado vários eventos. O César é um homem que gosta da modalidade e faz com que isto cresça e isso é positivo para a modalidade.
Comparando estes vinte e três anos. Qual a tua opinião?
Evoluiu nuns aspectos, diminuiu em outros. Neste momento há mais eventos, mas há menos apoios.
Por exemplo, eu há uns anos atrás era muito mais apoiado, existiam os subsídios da Federação, agora tem que ser mais por amor á camisola.
Esta pergunta é para mim, sacramental. Nós os de fora, víamos os Pugilistas como gente (quase) marginal, mas vocês transmitido uma ideia diferente…como vês este assunto?
Por isso lhe chamam a Nobre Arte. Nós lutamos dentro do ringue mas utilizando apenas as regras do jogo de Boxe, como desporto que é. Na luta tentamos dar o mais possível e receber o menos.

DESPEDIDAS
Alguma mensagem?
Queria agradecer a todas as pessoas que têm estado comigo. Ao Senhor Caldas, ao Pedro, ao Pinto Lopes, aos atletas que me ajudam nos treinos e a toda a família Boavisteira.
Dizer a todos que é com muita mágoa que vejo as injustiça que estão a fazer ao Boavista. Pode ser que um dia mais tarde se reponha a justiça.
Se voltasses vinte e quatro anos atrás, o Jeremias era futebolista ou boxista?
Se calhar era futebolista, olhando à possibilidade de ganhar dinheiro, por paixão por prazer, por orgulho… seria o Boxe. Se calhar a dúvida não está nas modalidades, mas no país que somos e temos.
Aqui, neste país, só conta o número um! Há o campeão e mais ninguém.
Entrevista de Manuel Pina

Um comentário:

  1. Acabei de ler a entrevista de jeremias,muito profissional nas análises sobre a modalidade,mas de dizer que as perguntas do aficcionado jornalista das amadoras sabe ir ao encontro do que pretende para a sua publicação.Começo a ser bastante seguidor do box embora já tenha visto ao vivo o gomes e o nuno.Simpatizo com o seu director e treinador Caldas.Pouca ajuda do clube mas não tem existido queixumes e isso agrada-me,eu sei por experiência própria o que é trabalhar para o nosso boavista sem pedir nada em troca.Quando se ama de coração aberto movemos montanhas.Viva o box e o boavista.Comentarei em breve outras modalidades com todo o amor.A.Pina

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