terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MANUEL MOREIRA, APONTA O DEDO NA FERIDA

Treinador dos Iniciados de Futsal
Manuel Moreira, treinador da equipa dos Iniciados, demonstrou estar desagradado com algumas situações e resolveu colocar o dedo nas feridas, antes que seja tarde.
Não é uma entrevista pacífica, mas sim de um Boavisteiro, preocupado com a situação que acha estar a prejudicar o seu trabalho.
Qual o seu passado, só para nos sintonizarmos?
Joguei em dois clubes de maior nomeada, o Coimbrões e o Juventude de Gaia e comecei a treinar este clube, quanto tinha dezassete anos. Consegui a subida de divisão em Iniciados no ano passado. Estou no Boavista pelo primeiro ano, mas sou adepto e sócio do Boavista há muito anos.
Como está a decorrer a época?
Infelizmente, não está a correr como eu esperava. Para já, porque a pré-época correu mal, em termos de inscrições e de jogadores e isso está a repercutir-se no campeonato.
Pareces muito preocupado…
Isso é devido ao comportamento de alguns jogadores, ou melhor dizendo da falta de comportamento de alguns jogadores. Esses jogadores não se têm comportado como jogadores do Boavista e não demonstram conhecer e adequar aos valores que a Instituição tem e ao seu passado.
Só na tua equipa ou mais que isso?
Talvez não só, mas eu falo pela minha equipa. Tenho aqui jogadores, simplesmente, porque já estavam e me disseram que eram jogadores para continuar. Mas se fosse por mim, não estavam aqui.
Mas queixas-te de quê?
De disciplina e não só! Eu acima de jogadores, formo homens. E formamos homens incutindo-lhe valores para que não sejam bons só no futsal, mas que também sejam bons lá fora na sua vida. Alguns têm uma base boa, mas outros não a têm. Alguns têm capacidade de entrega, de empenho, durante os treinos e jogos, nunca desistem por uma bola, respeitando a opinião de colegas e Directores e Treinadores. Outros, não mostram nada disto e fica muito aquém daquilo que eu esperava quando vim para cá.
Estou surpreendido. Isso é constante?
Tem fases melhores, tem fases piores.
Mas isso não é uma missão do treinador…
Infelizmente, cada vez mais…é.
Mas acha que deveria ser?
Considero isto, porque (como diz um professor meu) cada vez há mais cancros no desporto de formação. E talvez, o maior cancro sejam os pais!
!!!
Partilho da opinião do meu professor quando diz isso. Não sei se eles têm educação em casa, mas eles têm valores, têm comportamentos que não se ajustam ao que eu desejo que tenham quando trabalham comigo. Não vão de encontro à minha filosofia, nem vão de encontro aquilo que é a filosofia do Boavista e dos valores necessários na formação, para no futuro serem atletas seniores do Boavista.
Estás desiludido?
Repare, não estou desiludido por estar no Boavista. Sou Boavisteiro e tenho muita honra em servir naquilo que posso, o meu Clube. Venho para aqui sempre com a mesma vontade e concentração, mas temos que dizer as verdades e as coisas negativas não devem ser escondidas.  Seria mentira se estivesse a dizer que as coisas estão muito bem, que os miúdos são fantásticos – não digo que não sejam – o que digo é que têm comportamentos que não adaptam ao Boavista.
Como está a classificação?
Neste momento, estamos em oitavo lugar, muito mais próximos da descida que dos primeiros lugares. Viemos de uma fase negra de sete jogos, nos quais só conseguimos um empate. Nada justificava que essa situação acontecesse, pois tínhamos começado com três vitórias consecutivas. Mas a realidade é que estou mais preocupado com a luta dos lugares de baixo que com os lugares de cima.
O que espera para o futuro?
Acima de tudo que a equipa seja reforçada. Foi a condição que coloquei quando apresentei a proposta de colocar o meu lugar à disposição. Eu estou no Boavista para ver o Clube vencer, mas se vejo que o clube não vence comigo, é lógico que à que dar lugar a outra pessoa que o consiga colocar no rumo das vitórias, fazendo melhor que eu.
Qual a posição da Direcção?
A Direcção rejeitou essa minha posição, mas a condição que ficou assente era de reforçarmos a equipa, com jogadores novos este ano. Estamos a ver jogadores, mas sabemos que não vai ser fácil. Primeiro, porque é para o Boavista e ninguém querer fornecer jogadores ao Boavista, apesar de continuar a defender que nós temos uma das melhores escolas de formação. Espero ver a equipa reforçada, espero que a atitude dos que cá estão melhore e que todos juntos consigam mostrar o que é o Boavista.
Tem esperanças de uma mudança de comportamento?
Tem que acontecer,  se não as coisas vão ser muito difíceis para o futuro. Não falo de Directores nem de treinadores. Falo de jogadores! Temos que remar todos para o mesmo lado, se não vêem tempos muito difíceis. Sei que é uma equipa nova, que temos de dar tempo para as coisas acontecer, mas o tempo  que já têm  juntos,  é  mais que suficiente para haver uma maior união. O que mais incomoda é que não são os que vêm de fora que trouxeram essas atitudes, mas sim os que cá estavam há mais tempo.
Sentem as “costas quentes”?
Só se for por parte dos pais, que por minha parte não têm qualquer hipótese disso. É mau para eles agora e no futuro. Enquanto eles não perceberem que no futuro eles vão ter um patrão, alguém que mande neles – a não ser que o pai lhes abra uma empresa – eles vão ter sérias dificuldades para conseguir um emprego e depois evoluir. Eu não duvido que até podem ser muito bons na escola, mas a escola não é tudo. Eles até podem ser assim aqui e lá fora serem melhores… mas a mim o que me interessa e diz respeito é aqui.
Sente que pode alterar?
Claro. Acho que está na altura de alterar tudo, para que o Boavista comece a vencer e que comece a ser respeitado. Temos que alterar e já. Temos um projecto para o ano, do qual já falei com o Rui Costa, fazendo uma selecção mais rigorosa de quem nos interessa e de quem quer colaborar no futuro. Sempre que jogamos, há no adversário um ou dois jogadores que já estiveram no Boavista. Falo sobre ele e dizem-me que era um jogador atinado e que respeitava, mas que tecnicamente… logo, acho que aqui só interessa quem jogue bem. Mas e a personalidade? Espero e desejo que as coisas se alterem.
Em relação ao presente?
Alcançar a manutenção o mais depressa possível e depois pensar em mais alguma subida na classificação, mas o que é urgente é alcançar a manutenção o mais rápido possível. Espero um bom comportamento para acabarmos a época bem, quer no campeonato, que na Taça da Associação.

 

Entrevista de Manuel Pina

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