segunda-feira, 9 de novembro de 2009

HÓQUEI EM PATINS - JACINTO CATAU - NO REGRESSO AO PASSADO


"O NASCIMENTO E FIM DO HÓQUEI NO BOAVISTA"


"VÍTIMA DA GUERRA COLONIAL"

Jacinto Catau, homem robusto e com uma lucidez que mistura as lembranças do passado com o desejo de o afirmar no presente do Boavista FC, mostrou-se convicto, com sentimentos, mas sem demonstrar a saudade do tempo que passou, aceitando o percurso normal e inexorável da lei da vida...
Mas ninguém apaga o que fizemos no passado!
E o passado é já... hoje!

Jacinto Catau, qual a idade do senhor?
Quase setenta anos.
Quando começou o Hóquei no clube?
Por volta de cinquenta e quatro, princípios de cinquenta e cinco. No primeiro ano o Boavista fez uma equipa de Infantis e uma de Juniores. Creio que adoeci nesse ano e por isso nunca joguei nessa época, comecei a jogar no ano de cinquenta e cinco (mostrou-nos o cartão).
Com as mesmas equipas?
Nessa época já havia três equipas, uma de Infantis e duas de Juniores, divididas em duas categorias de “A” e “B”, porque tínhamos muitos jogadores. Na época seguinte o Boavista tinha essas duas equipas mais a equipa de Seniores.Estava num processo de evolução…Sim estava tudo muito bem estruturado e organizado.
Em que equipa jogava?
Eu fazia parte da equipa de Juniores no fomos “A” e nesse ano fomos campeões Nacionais. Os mais velhos que jogavam nos seniores ganharam o campeonato regional da 2ª divisão. Isto no ano de cinta e seis e sete (mostrou-nos o livro, que nos ofereceu) subindo à primeira divisão.Nessa altura começou a aparecer o FC Porto. Eu como sénior, joguei contra o Porto quando eles tinham um guarda-redes (Acúrsio) que jogava futebol simultaneamente ao hóquei. O jogo foi no ringue da Constituição.Houve um percalço na modalidade…Com a guerra de sessenta e um/dois/três… (início da guerra colonial) ingressaram no clube jogadores mais velhos Boavisteiros, que estavam espalhados por outros clubes, por exemplo o Infante Sagres, (o Saramago, o Magna). O Boavista continuou mais uns anos… talvez até a sessenta e oito e aí acabou com a modalidade.
Como é que começando tão forte, houve esse abandono?
Nessa altura já não se coadunava jogar hóquei ao ar livre, como nós o fazíamos. Quando o Boavista começou com o hóquei, não tinha ringue e os primeiros jogos e treinos foram realizados no ringue do Académico do Porto.E então tudo se passa antes do ringue do Bessa (que eu - Manuel Pina – conheci…)?Esse ringue foi construído para dar incremento ao hóquei, mas os primeiros jogos foram no Académico, como a secção estava a formar-se apareceu alguém que aproveitou esse espaço, que ficava atrás da bancada (na altura central, hoje ocupada pelos panteras atrás da baliza) no antigo (primeiro) Bessa.
Mas o que determinou o fim do hóquei foi essencialmente a guerra colonial.
Recorda-se de algum dirigente?
Penso que o Presidente era o Silva Reis (penso que era) o Dr. Babo Magalhães (que chegou a ser Presidente) havia na altura muitos Boavisteiros ligados á arbitragem como o Jaime Pimenta.

O ATLETA!

EU SOU BOAVISTEIRO, NÃO PORTISTA... NÃO JOGO MAIS!!!


…E como atleta o que aconteceu?
Eu (hesitou)… deixei o Boavista e fui para o Porto…
Jogou no Porto?
Não, não joguei no Porto. Fui para o Porto!
Troque isso por miúdos…
Na altura eu era puto, queria jogar hóquei. Tínhamos um treinador que foi o homem que arrancou com a modalidade, que era o professor Humberto Peixoto. O professor foi ao Infante buscar um Senhor que tinha sido guarda-redes já com a idade de trinta e cinco anos. Eu que tinha chegada a fazer jogos seguidos, primeiro pelas reservas e logo em seguida pela primeira equipa, vejo-me a determinada altura, a perder o meu lugar.
Como?
O senhor Peixoto foi ter comigo ao escritório e disse” olha, quem vai defender logo é o Morais.” Eu, respondi… está bem!O Morais jogou um, jogou dois. Ao terceiro jogo fui ter com o treinador e perguntei quem ía defender, ao que me respondeu “ é o Morais” e eu de imediato dei a resposta…” muito bem! O Morais que defenda que eu já nem me equipo..."
Não jogo mais.
E deixei de jogar (aqui sente-se uma certa mágoa… arrependimento? Do “puto” de outrora?)…
Tempos difíceis para o hoquista “desempregado”?
Arrumei os patins. O meu pai que era um Boavisteiro ferrenho, eu também sou, mas ele era ferrenho mesmo. Arrumei os patins (repetiu) e havia um senhor que tinha sido treinador do Académico no tal ano em que o Boavista ganhou o campeonato Nacional, que se chamava Correia de Brito que era jornalista e pertencia ao Comércio do Porto e foi também treinador do Porto durante anos. O Correia de Brito foi ter com o meu pai e informou-o que desejava levar-me para o Porto.A vontade do meu pai era de o mandar dar uma volta ao bilhar grande… mas pensou (se ele for para o Porto o Correia de Brito vai noticiar no Comércio para “adoçar o dente” ao Peixoto que vai sentir uma alfinetada).
Chegou a casa e tentou convencer-me para aceitar o convite.
Qual foi o diálogo entre dois boavisteiros para um ingressar no Porto?(Diálogo directo)
Pai- Ouve lá, queres ir para o Porto?
Filho - É maluco. Vou agora para o Porto!- É pá, vai. O Correia de Brito foi falar comigo, vais para o Porto e eu amanhã chego ao café (Café Embaixador ) e aqueles “gajos” todos revoltados por tu ires para o Porto, pois ele põe logo no jornal… e assim foi, acabei por ir para o Porto.
Mas disse que nunca lá jogou. Porquê?
Assinei os papéis para o Porto e comecei a treinar ainda no tempo do Acúrsio. Num treino levei com uma bola no pescoço. Eu era um bocado “macacote” e virava a baliza ao contrário (risos) já se usava a mascara, aliás um dos primeiros a usar mascara, devo ter sido eu. Fui eu que fiz a minha primeira mascara. Mas nessa fase as mascaras não protegiam a parte do pescoço e por magoei-me bastante. Parecia que tinha engolido a bola. A partir daí quando rematavam forte, principalmente o Acúrsio que tinha uma sticada fortíssima, “levantava a alça” eu… saía da baliza (rui-se).O treinador veio ter comigo e disse-me.Ouve lá tu no Boavista eras um “mau, mau” e aqui no Porto foges da bola? Eu disse-lhe “ó senhor Correia de Brito, eu não sou Portista, eu sou Boavisteiro! Eu ando aqui por dois ou três meses pois devo estar a ser chamado para a tropa.
E olhe, não jogo mais!
E por isto não cheguei a fazer nenhum jogo oficial pelo Porto.
E o pai, como ficou?
Muito chateado!
O hóquei era um passatempo, ou um prazer?
Foi um acidente. O meu pai era dirigente do andebol do Boavista e eu andava muitas vezes por lá.E no futebol havia um treinador de bancada, que chegou a treinar a primeira equipa, que era o “Avelino fala-barato” que treinava os juniores. Um dia o “fala-barato” virou-se para mim e disse “Ó Catau aparece nos juniores para treinar” eu era alto e ele afirmou “eu fazia de ti um Carlos Gomes” (Carlos Gomes foi um dos grandes guarda-redes portugueses. Jogou no Sporting e há quem afirmou que foi o melhor de sempre).
Aceitei o convite e fui recebido pelo Senhor Ricardo Cardoso, que era um senhor de idade e os jovens andavam muito á volta dele.
Fui treinar no velhinho (primeiro campo) Bessa e comecei a defesa (eu nunca tive muito jeito para a bola) a determinado momento passou um rapaz por mim… ou melhor não passou! Passou a bola mas ele ficou! O Ricardo Cardoso que era um educador não gostou e chamou-me a atenção, “ isso não se faz, deves jogar a bola, só a bola”! Eu expliquei-me “ mas se eu deixasse passar o cavalheiro ele ia fazer golo”!E disse-lhe a minha fase mortal…
Não jogo mais!…
Uma vez fui treinar andebol a defesa central. Saltei com um rapaz mas devo ter saltado com os joelhos levantados e atirei com o rapaz ao chão, ele ficou deitado cheio de dores e eu pensei. Não sirvo para isto, porque parto tudo.
E que concluiu?
Não jogo mais!
Foi quando apareceu o hóquei?
O meu pai chegou lá a casa com uns patins e disse-me; “amanhã começa o hóquei no Boavista e tu vais lá. Levas estes patins (ainda eram aqueles patins de atarraxar nos sapatos) vais ter com o Ricardo Peixoto e diz que és meu filho. Fui ter com ele e comecei a treinar. Dei duas voltas, caí duas vezes e fiquei com um inchaço debaixo do braço e… não joguei durante essa época por causa disso. Tive que ser lancetado etc…
Tem alguma istória da competição?
Sim, quando fomos campeões, jogamos dois jogos em Lisboa. No primeiro no pavilhão dos desportos em que empatamos e tivemos de desempatar no ringue do Benfica, onde fomos campeões. Nesse jogo passou-se uma situação grave.O meu pai tinha-me feito uns patins especiais com um eixo de ferro a unir as rodas. Com o meu peso esse eixo amassou e as rodas estavam tortas e não rolavam, assim eu não patinava, apenas andava em cima de patins. Quando acabou o jogo um jogador do adversário reparou nisso e disse aos dirigentes para protestarem o jogo. Eu ouvi, dirige-me para os balneários e mandei o “homem à aquela parte…que nós sabemos!
E trouxe os meus patins que não rolavam… mas eram campeões nacionais.…

CATAU O ADEPTO
Vamos falar do adepto boavisteiro. Como vê o seu clube actualmente?
Não vejo. Sinceramente nem quero pensar nisso. Isso incomoda-me…
Como é?
Não consigo ver por dois motivos, primeiro porque sofro demais e não aguento já ver qualquer jogo ao vivo, nem na televisão sequer. Limito-me a ligar o rádio a cinco minutos do final e saber o resultado. Ainda ontem (falávamos no dia seguinte ao jogo em Viana) soube na net que estávamos a perder e saí logo de casa para não tentar ir mais ao computador, só depois de terminar soube que perdemos e aí já não se pode fazer nada.
E a segunda razão?
A segunda é que eu não acredito que esta situação seja real. Onde está o meu Boavista?
Vejo que o senhor era sócio no tempo da recuperação do estádio do Lima. Lembra-se dessa época?
Eu durante muitos anos fui sócio do Boavista tem aí alguns cartões e um deles é o mil e tal (temos fotos) eu seria agora para aí o duzentos e tal. Nessa altura eu fui para a tropa e quando isso acontecia nós podíamos pedir a suspensão dos pagamentos de quota, entretanto casei e deixei de ser sócio. Nessa fase eu fumava dois maços de cigarros durante um jogo de futebol e saía daqui completamente de rastos. Tive que parar.
Mas nunca se esqueceu do Boavista?
Quando o Boavista desceu à primeira divisão eu voltei a entrar para sócio. Assisti aquela fase do Boavista jogar com o Oliveira do Douro, Vilanovense, Candal, de ira a Penafiel etc… ainda me lembro de irmos buscar o Alfredo ao Oliveira do douro do Moinhos ao Vila. O Boavista subiu de divisão e foi para o Lima enquanto se faziam as obras no Bessa.
O clube investiu lá…
Sim o campo estava abandonado, pertencia à Santa Casa de Misericórdia. Recuperou parte do relvado, fez-se uma limpeza de tudo porque o campo estava completo tinha pista de ciclismo e tudo. (também me lembro estive na inauguração num dia de chuva miudinha que me deixou todo molhado, acrescentamos nós) nem sei quem era o Presidente, talvez o Silva Reis. E para fazer a obra começou a vender-se uns cativos, que eram muito baratos, qualquer coisa como quinhentos escudos por cinco anos que passaram do Lima para aqui, que é como quem diz para o antigo Estádio do Bessa, com a bancada daquele lado. Ainda conseguiram vender mil e tal cativos.
Quanto tempo, utilizaram o Lima?
Jogamos lá um época, enquanto aqui decorria as obras no tempo daquele senhor que foi presidente da Assembleia Geral, Olímpio Magalhães. No mandato dele modificou-se a posição do campo que era o contrário deste e rebentou com os terrenos do lavrador que existia aqui.
Há quanto tempo não vem ao Bessa?
Para aí há vinte anos que não venho cá para ver a bola, nem na televisão, aliás na televisão só vejo o Porto nos dois últimos minutos e se estiver a perder.
Vamos convidá-lo para voltar ao Bessa ver um jogo…
Eu ver o Boavista? Nem pensar! Só nos últimos dois minutos para saber o resultado para não me enervar.

Aqui deixamos uma viagem ao passado do “puto” que quando as coisas não corriam bem… não jogava mais!

Um comentário:

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