quarta-feira, 24 de junho de 2015

RUI BALTAR, O CAPITÃO DOS JUNIORES DE FUTSAL, NA SUA PRIMEIRA ENTREVISTA

Rui Baltar, é o capitão da equipa júnior de futsal. Esta época, dividiu a sua actividade entre as equipas juniores e os seniores. Jogador do Boavista desde as Escolinhas, assumiu em entrevista, os altos e baixos da sua equipa, sem rodeios e consciente do seu cargo e responsabilidade.



Rui, qual a tua idade e há quantos anos és atleta do Boavista?

Tenho dezanove anos e jogo no Boavista há mais de dez anos, vai fazer agora onze anos. Comecei nos Escolinhas do Clube e nunca saí.

Como se deu a tua entrada no Boavista?

Vim a convite do treinador das escolinhas, que conhecia o meu irmão que jogava cá. Nessa altura, a própria modalidade ainda não era muito conhecida e o Boavista começou a contactar miúdos. Vim cá treinar e fiquei até hoje.

Neste percurso de formação, conquistaste alguns títulos?

Por acaso, é uma das coisas que marca negativamente e do qual sinto falta. Em tantos anos, nunca conquistei algo significativo. O ano passado, conquistamos a Taça AF Porto, mas títulos nacionais, ainda não conquistei nenhum. Já fui a finais pelo escalão, acima do meu, mas na minha equipa, nunca.

Vamos ser directos. Não consideras que este ano tinham “obrigação” de terem sido campeões, tais foram as oportunidades? Sem te comprometeres, queres comentar?

Sem problema algum, obviamente que respondo. É claro que podíamos ter sido campeões, o que era um dos nossos objectivos. O primeiro objectivo, que sempre declaramos, era passar para o Campeonato Nacional na próxima época, mas dentro do balneário, sempre assumimos, que queríamos ser campeões distritais. Infelizmente, não o conseguimos e penso, que foi por demérito nosso. Nos jogos que disputamos com o Pinheirense (que conquistou o título) nunca fomos inferiores, antes pelo contrário, fomos sempre superiores.

Como explicas isso?

Ou não aguentamos a pressão da situação, ou não tivemos estofo para ser campeões.

Aconteceu a três jornadas do final um caso incrível. O Pinheirense (já) tinha perdido e ao Boavista, bastava vencer uma equipa que viria a descer e vocês perderam…

Agora, até me rio disso, mas foi muito desagradável e fiquei muito descontente. Não estive presente nesse jogo, joguei pelos seniores, o que (ainda) mais me custou. Porque não pude ajudar, nesse jogo, mas o resultado é incrível e muito difícil de entender. Parece que nesses jogos considerados fáceis… bloqueamos. Tivemos, agora, na fase nacional, contra o Beira-Mar um jogo idêntico. Nem sei como explicar esses bloqueamentos.

Pelo que tenho observado nos vossos jogos, sois uma equipa de oito ou oitenta. Complicais o fácil e resolveis o difícil. Como explicas?

Sem querer culpar ninguém, mas assumindo o meu cargo de capitão, acho que nos falta assumir que… somos homens! Chegamos a esses jogos e falta-nos a maturidade para encarar um jogo importante e dizer este jogo é mesmo para ganhar e começa mal o árbitro apite. Não nos falta qualidade, que temos muita e formamos uma excelente equipa, mas acusamos nesses momentos uma enorme falta de maturidade.

Mas em Moimenta e em Braga, vocês foram enormes…

É curioso, porque nos momentos de grande pressão e quando tudo parece perdido, nós assumimos o nosso valor e resolvemos os problemas, mostrando o nosso valor. É um problema que se tem que resolver e não é só nosso escalão. Têm acontecido casos idênticos durante vários anos, que nos fazem perder títulos. Todos juntos (Boavista) teremos que saber como resolver este problema.

No teu caso e na presente época, alternaste entre as duas equipas (juniores e seniores). Esse facto, não acaba por ser prejudicial na evolução de um jogador, ao contrário que possa parecer, pela falta de tempo de competição?

Ora aí está uma questão muito importante e mais problemática que parece. Claro que todos ficamos contentes por representar os seniores, mas no início, quando me dei conta da realidade, fiquei algo desgostoso, porque, quando não dava para estar nos dois jogos no fim-de-semana, eu não jogava nos juniores e pouco ou nada jogava nos seniores. Isso foi muito complicado e fiquei claramente prejudicado por falta de competição. Para o final da época, as coisas alteraram-se e comecei a jogar nos seniores com mais frequência e consegui equilíbrio emocional. Lembro-me que houve um jogo, com o Freixieiro, muito importante para os juniores, em que eu fiquei nos seniores e não joguei, entendi esse facto, porque o jogo era complicado, mas fiquei com a sensação que deveria ter ido com os juniores. São decisões dos treinadores e como jogador tenho que as acatar. Tem os seus prós e contras. Houve semanas que não joguei, houve outras em que joguei nos dois dias, umas vezes evoluímos e outras ficamos sem competir. O clube está acima de todos nós e dos nossos interesses.


Treinavas com quem?

Treinava com os seniores, mas quando havia um jogo mais importante pelos juniores, vinha ao treino e treinava com eles.

Resumindo e fechando este capítulo. Valeu a pena esta situação?

Sem dúvida alguma. Aprendi muito na equipa sénior. Neste ano aprendi mais nos seniores que talvez em dois ou três nos escalões de formação. É uma realidade diferente.

A esta pergunta só respondes se desejares. A equipa sénior ficou aquém do que se esperava?

Não tenho problema algum em responder. Foi uma época em que tudo correu mal. Tudo que havia de mau, aconteceu. Foi a nível de resultados, foi a nível de equipa e depois tornou-se numa bola de neve, que nunca parou. Mas graças a Deus, conseguimos a manutenção.

Passemos ao ponto actual. Para lá de terem falhado o título distrital, o Boavista está apurado para a final four da Taça Nacional a disputar no próximo fim-de-semana. O que esperas desta competição?

Primeiro, repito, que entre nós o objectivo era passarmos para o Campeonato Nacional de sub 20, na próxima época. Isso, foi alcançado e podíamos agora ter cruzado os braços e descontrair. Mas tal não vai acontecer, porque todos decidimos encarar a final como uma prova com quatro candidatos. O Boavista, vai a Ponte de Sôr para ganhar! Sabemos que é difícil, mas não vamos para lá para desfrutar. Mesmo que seja uma situação que poucos tiveram ou viveram, ao jogar uma final four, o certo é que sabendo que estão presentes as quatro melhores equipas, n´so sabemos bem o valor que temos.

Não sei se tens conhecimento, que as equipas em Lisboa jogam toda a época ao cronómetro, enquanto a tua equipa (tu não) só jogou seis jogos, esse facto vai dar uma grande vantagem às equipas de Lisboa. Estais preparados para tal realidade?

Olhe, como dissemos atrás. São jogos muito difíceis, em que poucos acreditam na vitória… logo, são os jogos que a nossa equipa gosta e onde sempre estamos no plano mais forte. Na final four, estaremos para ganhar. Tinha mais medo se fosse com equipas que teoricamente eram mais fáceis.

Sendo um homem da casa há dez anos, conheces bem a realidade do Boavista. O que achas que terá que mudar no futsal, com a participação no Nacional de sub 20?

Antes de tudo, considero que é cem por cento positivo para o clube. Só lá irão estar as melhores equipas do país. Estamos entre as dezasseis melhores equipas do país e com todo o mérito. Agora não vai ser fácil a nível organizativo, mas algo vai ter mesmo que mudar e, sinceramente, isso ultrapassa-me. Mas reforço, que é muito positivo e que todos devemos pensar assim, quer jogadores e dirigentes. É muito positivo para o Boavista Futebol Clube.


Pessoalmente qual vai ser tua situação. Equipa sub 20 ou seniores?

Penso que irei ficar a ajudar nos seniores o que puder, treinando com eles e depois (penso eu) jogarei nos juniores quando for possível e acharem necessário. Mais ou menos como este ano.

A nível de selecções. Já foste convocado algumas vezes?

A nível de selecção distrital de uns tempos a esta parte, sempre fui convocado. A nível de selecção nacional de sub 19, fui convocado por quatro vezes, para os jogos com a Polónia em Fevereiro e depois nos jogos com a Espanha nos Açores.

Continuas á espera de lá continuar…

Eu não estou à espera de nada, nem tenho que estar. As coisas acontecem quando têm que acontecer e da forma como tiverem que ser. Eu tenho que trabalhar no meu clube, tenho que evoluir e se as oportunidades aparecerem, tenho que as aproveitar. Foi assim que aconteceu e é assim que continuará.

O que é para ti o Futsal?

Uma modalidade diferente. Eu considero que qualquer pessoa pode jogar futebol, pode jogar outra modalidade, pode praticar desporto individual, mas acho que jogar futsal, não é para qualquer um, pela especificidade técnica exigida. Como foram passando os anos, verifiquei esta realidade, só um pequeno grupo de pessoas pode jogar futsal.

No futuro irás apostar no profissionalismo do futsal, como outros jogadores da formação do Boavista fizeram?

Depende muito da situação da altura em que isso possa aparecer. Quem joga por gosto, tem sempre o desejo de representar um grande clube da modalidade, mas tudo a seu tempo. Se essa situação aparecer, será a analisada, mas não será tão cedo e depois se verá. Tudo a seu tempo.

Vamos terminar. O que queres dizer aos teus colegas da equipa que faz impossíveis, que confunde tudo que é fácil… Como é ser capitão desta gente?

É difícil. Mesmo tendo dezoito/dezanove anos, não passamos de uns miúdos. Cada um com as suas características e seus feitios, que torna difícil tomar conta de uma equipa na sua globalidade, mas as coisas vão-se fazendo. Tenho muito orgulho de ser capitão do Boavista e desta equipa. Já sou capitão do Boavista há quatro anos e tenho muito orgulho

Eu vejo lá muita gente irreverente. Mas eles respeitam-te se tiveres que lhes dar um berro?

Aceitam, e já tive que fazer algumas vezes, se calhar até com exagero da minha parte, mas eles têm que perceber que estamos nos jogos para lutar e vencer. Eu estou lá para ser a voz do treinador, para fazer a minha obrigação como capitão. Agora se eles me respeitam como homem eu não sei! Mas como capitão… que remédio.

Tudo pronto para Ponte de Sôr?

Tudo e vamos lá para ganhar, aliás quando o Boavista joga é sempre para ganhar e na final four, nem de outro modo será.

Entrevista de 
Manuel Pina 



CARLOS SIMÃO, NA SUA PRIMEIRA ENTREVISTA COMO COORDENADOR DA FORMAÇÃO DE VOLEIBOL

O Departamento de Voleibol, contratou o Professor Carlos Simão, para coordenar toda a formação axadrezada, numa clara aposta no futuro.
Para conhecermos melhor todo o projecto, realizamos uma entrevista, na qual o novo técnico axadrezado se apresentou pessoalmente e deu a conhecer, ideias e objectivos.


APRESENTAÇÃO

Vamos apresentar o Carlos Simão. Qual o seu passado no Voleibol?

Comecei a praticar Voleibol, com oito anos de idade, em Vila Real, cidade da qual sou natural. Joguei sempre (dezassete anos) até aos vinte e cinco anos, altura em que terminei a faculdade.

Façamos um resumo da sua carreira, para todos o conhecermos melhor…

Como disse, joguei até aos vinte e cinco anos, mas com a idade de dezasseis, tive a minha primeira experiência como treinador, também em Vila Real, num escalão de formação feminino. O Voleibol feminino, já nessa altura, tinha grande tradição em Vila Real e, por exemplo, o Boavista, deslocou-se várias vezes à cidade, com a sua equipa sénior, para os campeonatos nacionais. Foi, desta forma, que me iniciei como técnico, no ano de mil novecentos e oitenta e seis.

Posteriormente, deixou de treinar equipas de formação, passando para o esclão sénior. Como se processou essa alteração?

Em noventa e dois, o Castêlo da Maia, faz-me o primeiro convite, que não pude aceitar. Estava a terminar o curso e não pude vir. Passei a representar o Castêlo, dois anos depois, para a época de 94/95. Fui treinador adjunto, com o Professor José Moreira, trabalhando com a formação masculina. Também aqui, aconteceu uma alteração, porque em todos anos anteriores trabalhei sempre com formação feminina.

O que recorda dessa primeira experiência?

Foram três anos muito bem passados. Ganhei um título Nacional de Iniciados. Na qualidade de adjunto, ganhamos uma Supertaça e daí “salto a para a Académica de Espinho.

Falemos então da experiência em Espinho. Quantos anos, esteve em Espinho?

Estive oito anos consecutivos e oito anos fantásticos! Aliás, por todos os clubes onde passei, vivi sempre experiências muito boas.
Regressemos a Espinho…
Nesses oito anos, conquistamos um título Nacional de Juniores e um vice-campeão. Nesse período, ajudo a equipa sénior a subir à primeira divisão nacional. Tenho assim, uma subida de divisão.

Ao que eu sei, depois dessa fase, ingressa no Boavista. Confirma?

Confirmo. No ano de 2005/6, ingresso no Boavista para trabalhar com o Professor José Machado, na equipa sénior. Trabalhei com o José Machado, durante um ano. A Dani e a Marta Massada, foram, inclusive, minhas atletas. A Dani, já tinha sido minha atleta no Castêlo da Maia. Estive, somente um ano, porque o Professor José Machado saiu. Eu fui convidado para assumir o cargo principal, mas não aceitei, por solidariedade com o Professor, dado, que foi ele que me tinha convidado para vir para o Boavista. Expliquei isso ao falecido José Manuel Palmeira, ele e a Graziela, entenderam muito bem a minha posição.

Está só uma época, mas sai sem problema algum?

Exactamente. Como disse, expliquei aos Directores a minha razão e saí a bem. Conversamos, como pessoas sérias e o José Palmeira aceitou a explicação e todos continuamos bem.
Segue-se…?
Tive um convite do Ribeirense, que não pude aceitar por motivos profissionais, por não ter conseguido o destacamento para os Açores. Foi assim, que ingressei no Esmoriz. Estive lá dois anos, o primeiro nos Juniores e outros nos seniores. Depois em dois mil e oito, vou para o Gueifães.

Onde estava actualmente?

Sim, após sete anos maravilhosos e agora regresso ao Boavista, após quase trinta anos de carreira no voleibol.

Qual a sua profissão?

Sou professor de Educação Física na escola de Águas Santas e resido na Maia.
BOAVISTA FC

Como se processa o regresso ao Boavista?

Foi um pouco… por acaso, mas com muita influência do Professor José Machado, que em conversas que tivemos ao longo da época, me foi apresentando o desafio. Eu treinava as seniores do Gueifães, fomos adversárias do Boavista, neste campeonato.

Ele diz, que foi você que lhe estragou o campeonato. O Boavista, andava muito bem e no jogo com o Gueifães… perdeu-se e demorou a reencontrar-se…

Tenho que reconhecer que ganhamos por 3/2 com um erro do árbitro. Temos que reconhecer, mas nada mais que isso.
Voltando ao convite…
Falamos várias vezes. O Professor, sempre me falou da formação do Boavista e me foi desafiando. Devo dizer que saí do Gueifães de uma forma muito cordial depois de sete anos maravilhosos. E em total harmonia com a direcção.

O que pesou?
Foi-me apresentado um desafio. Eu tenho quarenta e sete anos e não resisto a um desafio e continuo a gostar de enfrentar novos desafios.

O Boavista é um desafio para si?

O Boavista, foi em outros tempos, uma grande potência do Voleibol Feminino de Portugal. Isso durou até a “infeliz” destruição do Pavilhão Acácio Lelo. Nessa altura, notou-se uma quebra no departamento. Mas, eu acho, que a mística está lá dentro. Está apenas um pouco adormecida. 
Não sou nenhum mágico, mas venho imbuído num espirito lutador e agressivo, que me caracteriza e vou tentar ajudar a reerguer o Boavista, no Voleibol.

O professor vem exclusivamente para coordenar a formação?

Em princípio o convite que me apresentou o José Machado era para ir trabalhar para as seniores, mas uma das coisas que me dá enorme prazer, é ver as miúdas crescer, implementar modelos de jogo e sistema de formação muito bem cimentadas. Por isso, recusei as seniores e venho exclusivamente para a formação. Vou ser o coordenador de toda a formação desde o minivoleibol até às juniores.

Só como coordenador?
E treinar uma equipa de formação, porque eu disse, logo, que jamais conseguiria ficar com um cargo meramente administrativo. Caracterizo-me a mim próprio como um treinador de campo.

Objectivos? A curto e médio prazo?

O plano tem duas fases. O primeiro passo foi apresentar o nosso projecto aos pais das atletas. Tive conhecimento de um número considerável de saídas de atletas na época passada. É meu princípio, defender que todas as atletas devem tomar o rumo que querem e não devemos andar atrás, nem nos rebaixarmos por decisões que atletas ou pais tomem. As que ficaram, são as que temos e com elas vamos trabalhar. Temos encetado contactos, para estabelecer protocolos com várias escolas para podermos recrutar atletas e massificar o minivoleibol. 
Tenho trabalhado, há poucos dias, mas temos feito uma divulgação por vários meios para recrutar atletas e temos tido uma resposta bastante positiva. Esta fase, será a de recrutamento e massificação. 
É evidente, que as atletas que já passaram pelo Boavista e que queiram regressar, não vejo, de todo qualquer problema. Espero que vejam nesta nova imagem, que estamos a criar uma boa prosperidade em termos desportivos.

Acompanhamos essas saídas, mas ficou sempre a ideia, que não havendo zangas, mas que muitas miúdas não quiseram apostar mais ,sabendo que os trabalhos seriam mais exigentes. A juventude convive “demasiado bem” com a derrota?

O que aconteceu no passado, nem sei nem me interessa. Eu sei,muito bem, o que fazer para que os clubes se redimensionem, porque em todos os clubes, por onde passei, conseguimos crescer. É óbvio, que o mérito não é só meu, é de toda a estrutura do clube, desde treinadores a directores, mas tem que se implementar toda uma disciplina de treino. Nos poucos treinos que já vi no Boavista, vejo ambição e querer, nas atletas mas vejo, pouca disciplina de treino.

Qual o tempo que precisa para colocar uma equipa a jogar no Nacional? Um/dois anos?

Pelo que vi e repito, foi pouco, considero que temos uma, ou até mesmo duas, equipas que trabalhando bem, têm (já) condições para lutar por essa ambição na próxima época.

Podemos saber a que equipas se refere?

A equipa de Juniores e a futura equipa de Cadetes, que é este ano a de Iniciadas. São duas equipas que já estão estruturadas, têm conhecimento e experiência da competição, estão muito bem treinadas e temos que apostar como objectivo dessas duas equipas atingir o campeonato Nacional, mesmo que depois na prova as coisas, possam não correr muito bem. O principal objectivo é entrar no Nacional.

Nos outros escalões. Que há a fazer?

Considero. Que precisamos de fazer um trabalho de raiz, especialmente nos escalões mais baixos, e esperar dois anos, para que as coisas apareçam e eu, espero e aposto que vão acontecer.

DESPORTO EM PORTUGAL

Com o conhecimento adquirido na modalidade, somado com o conhecimento profissional, como vê o desporto de formação em Portugal, principalmente o Voleibol?

Divido, em duas partes. O processo formativo já não é encarado com era antigamente. Agora, há muitas ofertas e muita diversidade de ofertas, que fazem concorrência ao desporto em que os jovens são facilmente assediados… temos mesmo, muitas coisas. Temos um contexto sócio/cultural completamente diferente do passado. Precisamos de muito mais trabalho para cativar para que os jovens e as miúdas se liguem ao voleibol.
Por outro lado, eu acho que as modalidades amadoras em Portugal são muito pouco apoiadas e divulgadas. Basta ver um jornal, para se verificar que noventa por cento das notícias somente se fala de futebol e, num cantinho… se fala de todas as modalidades amadoras. Nós somos campeões europeus de Judo, de desporto adaptado de ténis etc… o que se divulga? Futebol, futebol, futebol. O ABC, esteve numa fase final do Europeu de andebol e ninguém falou. A própria Comunicação Social, não ajuda muito, nem as Modalidades Amadoras, nem o desporto feminino, nem o desporto de formação.


Antigamente havia mais apoio?

Claramente. Eu lembro-me, de ainda jogar e ver nos jornais notícias e resultados dos Campeonatos Juvenis, juniores etc… e agora, nem de voleibol de seniores aparece. Aparece, agora, ao domingo os resultados dos seniores masculinos e na segunda-feira num cantinho os resultados do campeonato seniores femininos. Enquanto, isto, não se alterar, não pode haver uma massificação, porque é uma política própria dos nossos governos, não cultivar uma cultura desportiva.

Isso, incomoda-o como professor?

Imenso e vou dar-lhe um exemplo. Estou muito revoltado com esta decisão do actual governo, de retirar a classificação da Educação Física, no ensino secundário, para média final de acesso ao ensino superior. Isto, retira a responsabilidade aos alunos, desvaloriza a Educação Física e desvaloriza, acumulativamente o desporto.

Comparando com os vizinhos Europeus em que os alunos são libertos do período escolar, num horário que lhes permite praticar desporto e nós “prolongamos” o tempo escolar para além das dezoito horas. Como classifica isto numa frase?

Uma hecatombe! Um terramoto! Uma tragédia! É anti natura.
Eu recordo, que no meu tempo eu tinha aulas de manhã e a tarde livre. O meu filho tem aulas das nove às dezoito. Quando o certo seria terminarmos a parte curricular, até às quatro, quatro e meia, para depois eles “irem” para o piano, para a música, para a pintura… para o desporto. A realidade é que os miúdos, e eu, como professor, terminamos a escola pelas dezoito e trinta e depois temos que ir treinar chegando a casa pelas vinte e uma , porque para se conseguir atingir o Alto-rendimento, tem que se treinar todo os dias. Tudo isto, não é compatível com os horários do pais… tudo, é muito complicado.

Comente esta frase. Porque não investir nos jovens poupando no futuro nos homens?

Uma verdade indiscutível. Com a actual política desportiva, aumentam os casos de obesidade, problemas de miúdos com problemas cardiovasculares, de diabetes etc. tudo isto de uma forma precoce. Consequência disso,  o governo acaba por gastar duas vezes mais dinheiro que apostando numa alteração de cultura desportiva. Já disse na reunião com os pais, a melhor forma de os jovens se socializarem e prepararem para a vida, é praticando desporto.

Desiludido?

Como professor, vejo cada vez mais os alunos a não gostarem da prática desportiva. Verifico, não lhes “apetecer” praticar as aulas de educação física e só o fazem porque são obrigados, contrariando o passado em que as pessoas o faziam de uma forma muito mais interessada que agora.

Foi a visão de um professor. Qual a de um treinador?

É diferente no que respeita ao treino. Enquanto na escola o aluno é obrigado a estar lá, no treino não é! Logo, só está no treino quem quer. Por isso, quem treina tem que cumprir normas e disciplina. Quem não cumpre é convidado a sair. Ou sai quem não cumpre ou sai, quem orienta os treinos. Se acabam por ser os treinadores a terem que sair, no caso de a direcção assim decidir, ficam os atletas a “brincar” aos treinos, levando o desporto de competição de uma forma lúdica. Quem quer o desporto de uma forma lúdica inscreve-se em ginásios e levam tudo na brincadeira e de forma descontraída. Na competição, não há lugar para quem pense assim.

É o tal convívio pacífico com a derrota?

No desporto tem que haver objectivos, têm que se cumprir regras. Ainda, para mais, num clube, como o Boavista, com tradições enormes no Voleibol nacional.

Esteve sete anos num clube. Vem para o Boavista por mais sete?

Saí de um clube maravilhoso de bem com todos e com saudades de todos. Ingressei num grande Clube Nacional. Tenho um projecto que é ambicioso e no qual me dedicarei completamente. Para além de um desafio é uma honra estar no Boavista. Enquanto as pessoas, acharem que sou útil, estou disponível com a minha característica de sempre. Quando, verificar que nada mais posso fazer, que os objectivos estão cumpridos, ou que estou a mais, saberei retirar-me. Mas até lá estou de corpo inteiro no Boavista.

Entrevista de

 Manuel Pina

domingo, 7 de junho de 2015

ENTREVISTA CONJUNTA. COM MARTA MASSADA E DANIELA SOL

Tínhamos programado uma entrevista formal com duas atletas. Levávamos as perguntas alinhadas… mas quando nos sentamos na mesa, tudo se transformou numa conversa informal entre duas grandes amigas. As perguntas deixaram de existir, porque estas Senhoras transformaram tudo, pareciam ter conhecimento das questões que iriamos colocar… ou simplesmente, sabiam tudo de Voleibol.
Entre risadas… falamos de coisas muito sérias.
Marta Massada e Daniel Sol, ao seu melhor nível

Amadoras – Vamos iníciar por fazer uma apresentação de cada uma. Quem são desportivamente a Marta e a Dani?
Marta – Comecei a jogar com catorze anos na Académica de São Mamede, como inciada de segundo ano e em Júnior vim para o Boavista, onde estive várias épocas como sénior. Em seguida, fui para  o AVC de Famalicão e regressei de novo, ao Boavista. Entretanto, iniciei a minha actividade profissional e o Leixões que tinha acabado de subir à primeira divisão e tinha uns objectivos mais … mais ligeiros... e ingressei no Leixões, para depois deixar de jogar uns anos. Quando voltei, porque o “bichinho” não me largava, voltei ao São Mamede e depois a Dani (sorriu para a Dani) arrastou-me para o Castêlo e agora o Professor Machado arrastou-nos ás duas para o Boavista.
Dani – Eu, comecei a jogar com onze/doze anos e fiz toda a minha formação no Castêlo da Maia e joguei como Sénior alguns anos. Depois fui para o AVC e vim três anos para o Boavista.

Amadoras - Há algum título ou curiosidade que queiram destacar?
Marta – Eu no Boavista, perdi sete finais… para esta amiguinha (riu-se)Os meus títulos, como sénior, tenho uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Aqui a  amiguinha tem  muitos mais. Eu tenho muitos “Vices” fui “Vice” em Voleibol, em Universitária, em Volei de praia universitária… muito “vices”.
Amadoras – Campeã de Vices?
Marta – Sim. Nisso sou campeã! (ambas se riram) em títulos dos outros é a dani que tem muitos… uma açambarcadora.
Amadoras – A Dani também tem muitos “vices”?
Dani – conquistei ou catorze ou quinze títulos nacionais…
Marta – Que me roubou! (gargalhada de ambas)…
Dani – Exceptuando o primeiro ano, em todos os escalões de formação fiu Campeã Nacional e como sénior, no Castêlo fui ou seis ou sete vezes Campeã Nacional.


Amadoras – Deixem-me fazer um aparte. Para além de atletas, vocês são, pelo que verifico, amigas!
Dani – Mesmo antes de adversárias e atletas nós já eramos amigas. Não é?
Marta – Eu, direi… mesmo grandes amigas. Mesmo antes de me roubares os títulos.

Amadoras _- Como se dá o ingresso no Boavista?
Marta – Estávamos a jogar no Castêlo e o que nos trouxe para o Boavista foi que o professor Machado é um chato! O Boavista estava na segunda divisão e o projecto ser atacar a primeira divisão, pelo que o “chato” do professor nos conseguiu dar a volta.
Dani – Havia a marcação daqueles jogos importantes para antecipar a subida e por isso o professor nos convenceu para vir “ajudar”. Os jogos não se realizaram, mas nós ficamos.
Marta – Apesar de eu e a Dani, ser azuis e brancas, a verdade é que o temos ambas um “bichinho” muito grande pelo Boavista.
Dani – Ai, ai, ai, vamos ser mortas (riram-se à gargalhada.)
Marta – O Boavista é um clube da cidade do Porto e para mim esta cidade é o mundo. O Boavista é do Porto e assim, eu também sou do Boavista, para além do orgulho que sinto por ter vestido esta camisola. Eu e a Dani, somos (também) Boavisteiras, ninguém tenha dúvidas!

Amadoras- Então não foi o “bichinho” do Volei que vos fez regressar…
Marta – Não. nós estávamos a competir, foi antes o “bichinho” do Boavista
Dani – E o professor Machado!

Amadoras - Como se consegue conciliar a vida profissional, com a vida familiar e a modalidade?
Dani – Primeiro de tudo, com um bom marido!
Amadoras – Bom marido?
Marta – Exactamente, sem um bom marido não há hipótese de conciliar isto tudo.
Dani – O “bichinho” do Volei atacou depois do nascimento dos filhotes, depois de termos sido mães… o bichinho atacou e voltamos ao nosso amor.
Marta – Quando jogava no Leixões, eu sentia-me prejudicada pelas urgências (Marta Massada, é Cirurgiã de Ortopedia) mas depois com a experiência comecei a gerir melhor o tempo. Quando voltei a jogar, o meu Afonso tinha dois meses e eu dava-lhe de mamar antes do treino (riu-se) e treinava.
Amadoras – E agora está à espera de outro tendo jogado estes jogos na condição de grávida…
Exactamente. Até nos liberta ao contrário do que se pensa. Liberta-nos ocupa o nosso espaço e tira-nos e stress. Concordas Dani?
Dani – Concordo, não pensamos em mais nada. (Actualmente desempregada com curso em Gestão de empresas)

Amadoras – um bom marido e uns filhotes… fazem grandes jogadoras de Voleibol?
Ambas – Sim, connosco fizeram!

Amadoras – como consideram que foi a época do Boavista?
Marta – Considero que foi muito boa, mas depois do que vi e conhecendo as meninas… podia ter sido melhor!
Dani – Concordo e lembro-me de as adversárias dizerem que impunha-mos respeito. Depois, com alguma falta de sorte e juntando isso a uma certa imaturidade, a equipa ciu um pouco. Foi uma época boa, mas podia ter sido melhor!
Marta – Toda a gente tinha medo de jogar contra nós. Mas o jogo que marcou a época foi o jogo com o Gueifães, que fomos prejudicados pelo árbitro, esse jogo, mudou a equipa. Na minha história de jogadora, acho que foi a primeira vez, que posso afirmar que este jogo foi influenciado pelo árbitro. Foi mesmo o árbitro que influenciou e decidiu o jogo. Se temos ganho esse jogo (derrota por 2/3) a equipa iria acreditar mais em si para o futuro da prova.
Dani – Senti que tivemos alguma sorte em jogos que disputamos em nossa casa. As equipas de Lisboa não se deslocaram completas e nós vencemos por 3/0 e depois quando lá fomos… perdemos!
Marta – Sim mas quando fomos ao Belenenses, fizemos um excelente primeiro set e depois… desaparecemos do jogo (o diálogo era directo entre as duas). Faltou-nos um bocadinho de maturidade.

Amadoras - Vocês sentiram-se os pilares daquela juventude?
Marta – Sinceramente, acho que tivemos importância, mas que não era necessário nem tão fundamental. Não foi em termos de jogo, porque elas sabiam muito bem, fazer as coisas. O nosso apoio foi mais em termos de serenidade que lhes transmitíamos.
Dani – Se calhar nós ajudámos um pouco a acalmar. Porque muitas delas, não estavam habituadas à pressão. Conseguíamos que elas serenassem, mas  elas têm valor suficiente para não necessitarem de nós.

Amadoras – Vocês "ralhavam" muito com elas no balneário?
Marta – Não. Aliás um dos grandes problemas da equipa era não haver balneário! Era uma equipa muito heterogénea e isso também tem os seus custos.
Dani – Nós, temos mais anos de Voleibol que muitas delas têm de idade. (gargalhada). Acho que nos adoptamos bem a elas e não elas a nós, afinal quem tem pouca idade somos mesmo nós! Elas aguentaram bem a nossa presença.
Marta – E quem ralhava mais com elas era eu e não a Dani. De mim é que elas devem estar cheias (rindo-se). Nós temos a idade que temos! Fomos muito mais “palhaças” que elas, isso é uma verdade.

Amadoras – Falando do professor Machado. Ele está sempre preocupado. Se quero falar antes do jogo… não pode ser! Se perdeu o jogo… nem vale a pena tentar falar! Se venceu… não se pode faltar porque o próximo vai ser muito difícil! Quem é o professor Machado?
Marta – É muito dedicado e isso é pelo feitio que tem e pala dedicação que coloca no que faz. É muito exigente e não é só no Voleibol, é também na sua vida. E digo-lhe uma coisa… está muuuuuuito mais calmo. Ele é muito preocupado, não só em termos de equipa, mas também em termos de pessoas e fica chateado quando as pessoas perdem força e desanimam e nesta luta, troca-se baralha-se todo.
Dani – Mas nesta altura, sabe pedir ajuda, sabe perguntar se é por aquele caminho que deve continuar.

Amadoras – Se voltassem a ter a idade infantil, voltariam a apostar no voleibol?
Marta – Sem dúvida que sim.Tenho muitas saudades desses tempos. Eu comia e respirava Voleibol
Dani – Claro que repetiria tudo e  temos muitas boas recordações. Nós se pudéssemos murávamos num pavilhão. Não tenha dúvidas. A minha mãe chegava a dizer para eu levar a cama e ficar lá  a dormir.

Amadoras – O convite feito pelo engenheiro para continuar ainda não tem resposta negativa definitiva?
Marta – Eu tenho que adiar por uns meses…
Dani – Tenho as minhas filhas no Castêlo, mas se não continuar ainda virei cá fazer uns treinos.

Amadoras – O que representou para vocês estarem nesta fase (de novo) no Boavista?
Marta – Para mim foi muito bom estar nesta caminhada do Boavista, mas tenho pena de ver que as coisas não são como antigamente. Tínhamos o pavilhão cheio, os adeptos conheciam-nos e chamavam por nós nos autocarros etc… agora as coisas são diferentes, andamos deslocados, não temos pavilhão. Mas é gratificante ver que as pessoas que cá estavam continuam a lutar e não desistem do futuro. Quem chega cá e conhece estas pessoas que não desistem entra na luta e também resiste. O Boavista é um marco da minha cidade, como o Porto. Tenho pena que não esteja no lugar a que tem direito, mas nós estivemos aqui para ajudar na luta pela recuperação.
Dani – O Boavista não me diz tanto como à Marta, porque estive cá menos tempo, mas fui muito bem recebida por todos. Mas nesta hora de reconhecimento, tenho que salientar o senhor Sousa, antigo director, a Dona Graziela e o José Manuel Palmeira que foi ele que segurou o Voleibol do Boavista, numa fase muito complicada com problemas financeiros. Era de inteira justiça referir o nome do José Manuel, pelo que ele significa para este clube.
Marta – Acrescento que foi na altura da construção do novo estádio em que começaram a aparecer problemas financeiros, tínhamos atletas profissionais e estrangeiros e ele aguentou todos os problemas com firmeza. O José Manuel é um marco na história do Voleibol do Boavista e fará sempre parte da sua história.

Amadoras- Como pode um clube como o Boavista sobreviver com estas condições de treino para um equipa de primeira divisão treinar em três pavilhões?
Marta – É muito grave e prejudicial para nós e para o Boavista. Nós jogávamos sempre fora de casa. Nós jogávamos no Fontes, mas só tínhamos um treino por semana no Fontes. Jogavamos sempre fora de casa.
Dani – O Boavista tem que ter um pavilhão! Não é possível um clube deste tamanho, não ter um pavilhão. O Boavista é um clube demasiado grande com um peso enorme nesta cidade para não ter um pavilhão. Por mais que se considere importante o futebol, não é possível encarar o futuro sem ter um pavilhão.

Amadoras – As condições de treino afecta o desempenho das jogadoras nos jogos, principalmente nos serviços?
Marta – Principalmente nos serviços. Os meus serviços que não são perto da linha, não os conseguia fazer no Carolina. Como os meus treinos eram essencialmente no Carolina e eu não vinha a outros… nunca treinei numa época os serviços. Como tenho muitos anos de voleibol, conseguia controlar um pouco isso, mas as miúdas com pouca experiencia, sentiam e vão continuar a sentir imensas dificuldades nos jogos e ficarão prejudicadas na sua evolução.
Dani – O sucesso do gesto desportivo vem da repetição e do treino. Treinar um serviço no Clara é simplesmente enviar a bola por cima da rede, nada mais. Num jogo é totalmente diferente. Senão treinarmos não há milagres. Agora as mais velhotas como nós conseguimos disfarçar. (gargalhada geral)

Amadoras - Comentem esta frase do engenheiro no jantar. “ vós não sendo boavisteiras, fazeis mais pelo Boavista que muito Boavisteiros”. Que dizem sobre isto?
Dani – Para mim, o que ele quis, foi salientar a fase que passamos de treinos para além dos afazeres profissionais e familiares. Os nossos fins-de-semana em família foram muito reduzidos. Tivemos que abdicar de muita coisa para jogar. Mas jogar é uma coisa que nós gostamos de fazer.
Marta – Quando eu vim para o Boavista aos meus dezasseis anos, principalmente entre as gentes mais velhas havia muita rivalidade entre Porto e Boavista. A minha avó ficou muito chateada por eu ter vindo para o Boavista, mas depois de ver como fui recebida e tratada, foi a primeira a reconhecer que o Boavista não era nada do que se dizia. A seguir veio para cá o meu irmão. Hoje, tenho cá o meu enteado. Entre mim e o Porto existe um problema de saúde, porque eu sou maluca pelo Porto. Mas… mas eu defendo o Boavista com a mesma força com que defendo o Porto. São os dois da minha cidade, são os dois os meus clubes e podem crer que entre a juventude muita gente pensa assim. Do outro lado da cidade, nós preocupamo-nos muito com a fase que o Boavista atravessa. Mas preocupamo-nos mesmo muito.  Qualquer Portuense tem que defender o Boavista. São clubes rivais… mas são irmãos!

Amadoras- Como vêem o desporto feminino em Portugal?
Marta – Qual desporto feminino?
Dani – Isso existe em Portugal?
Marta – Mas apesar de tudo o apoio ao voleibol feminino está maior e melhor que no nosso tempo. Nós na selecção jogávamos com as camisolas que os rapazes usavam. Eles acabavam o jogo e davam-nos as camisolas deles que nos chegavam aos joelhos. Uma vez numa fase de apuramento para o europeu aqui no Rosa Mota, foi o professor Machado que nos foi comprar meias, porque nós não tínhamos meias para jogar. Agora tê uma professora cubana, têm centro de estágio etc…

Amadoras - Para o voleibol de pavilhão é importante o voleibol de praia?
Dani – O volei de praia é importante por ele próprio, para o vólei de pavilhão não considero muito significativo.
Marta – Defendo que até deveriam estar desligados. Em condições ideias deveriam estar separados, mas no nosso país por causa das condições atmosféricas e ao facto de terminando um  campeonato se poder começar o de  praia, dá para fazer os dois mas o ideal seria separar os dois.
Dani – Se quisermos evoluir será isso que temos que fazer. Mas no nosso tempo nós pegávamos numa bola e íamos para a praia, agora tudo se alterou.
Marta  - Para muito melhor... A Daniela (jovem jogadora do Boavista, que joga as duas variantes) tem as condições que não existiam no nosso tempo. Agora quem tem potencialidades, como a Daniela tem que trabalhar e andar em frente.
Dani – Mas, devo dizer que se contam pelos dedos as miúdas que são raçudas no jogo. O nosso querer é muito superior ao querer de muitas das actuais. Há muitas barreiras para vencer e são muito poucas as que estão prontas para superar os seus limites. Serão essa as que vão continuar e vencer.

Amadoras -Vamos terminar, enviando uma mensagem para as vossas filhas adoptivas da equipa. Quem “ralha” primeiro?
Marta – O que sempre lhes disse. a postura no jogo é a nossa postura na vida. Num espaço de hora e meia de jogo nós podemos viver todas as situações que a vida nos impõe. Se formos espertas vamos aprender dentro do campo situações que nos vão ser úteis na vida.
Dani – É muito importante… saber ouvir! Sem mas nem meios mas… simplesmente ouvir. Perceber porque é que aquilo é importante para mim, quando me disseram isso! Saber ouvir e interpretar.
Marta – Temos que melhorar, sempre todos os dias. Superar-nos a nós e ser competitivas com as outras . não é crime ser competitivas com as colegas.
Amadoras – Nem estraga amizades…
Dani – Não, não estraga. Veja o nosso exemplo. Somos grandes amigas e passamos a vida a competir entre nós.

Amadoras – Não vamos individualizar, mas como prevêem o futuro das miúdas do Boavista?
Marta – Há ali grande potencial. Bastará lutarem contra os seus limites que o futuro aparecerá e não precisam de nós para nada.
Amadoras – Vamos abrir uma excepção para a capitã. A Catarina pareceu-me sempre tão diferente do que era. Porque terá sido?
Dani – Talvez por nossa causa, se tenha sentido um pouco inibida e tenha perdido a autoconfiança, mas ela tem condições para superar e tem grande potencial. Talvez com a saída das velhotas ela volte a sentir-se mais livre


Amadoras – Como vêem a formação das jovens?
Dani – Mal, está muito mal. Nós tiramos o nosso curso e treinávamos muito mais que eles treinam agora e dá para fazer tudo ao mesmo tempo, porque eu fiz.
Marta – Há dois estados de espirito nos pais portugueses. O do “coitadinho” em que os filhos coitadinhos ou estudam ou se esforçam… coitadinhos é muita coisa junta! Ou o de esperar que os filhos sejam o Cristiano Ronaldo da Modalidade. Ambos estão errados. Eu sou esposa. Sou mãe, sou ortopedista e jogo… dá para fazer tudo.

Amadoras – Mas há quem defenda que formar não é lutar por vitórias…
Dani – Que formação é essa? O atleta tem que ser formado na base da vitória, muitas vezes vi que as nossas jovens convivem demasiado bem com a derrota.
Marta – Dou um exemplo do que a Dani está a dizer. No jogo com o Belenenses em Lisboa, desistimos do jogo no segundo set, depois de um excelente primeiro set. a Dani estava no chuveiro a chorar, ao tomar duche e a miúdas estavam na risota…não sentiram a derrota! Demasiado habituadas a aceitar a derrota. A derrota nunca se aceita! Uma pessoa que aceite facilmente a derrota, vai ser um “manso” toda a vida. Nunca será respeitado. Isto também é formar.

Ficaríamos todo o dia a conversar, mas temos que parar… o que sentem estas Senhoras pelo voleibol?
Marta – Saudade

Dani – Que grande saudade

Entrevista de