segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PEDRO FERREIRA, O (NOVO) TREINADOR DE JUVENIS DE FUTSAL

Pedro Ferreira, professor de Educação física ( pós-Graduado em Ciências do Desporto na Área do Treino de Alto Rendimento Desportivo) terminou a sua carreira como atleta e iniciou de imediato a carreira de treinador na equipa de Juvenis.
Viveu estas duas situações no clube do seu coração, o Boavista FC.
Vamos conhecer melhor este Boavisteiro e a sua visão da modalidade.

O ATLETA
Todos conhecem o atleta Pedro Ferreira, mas pouco conhecerão o seu passado. Como te dedicaste ao desporto e qual o teu passado desportivo?
Curiosamente comecei pelo futebol e a jogar no Boavista na equipa de infantis. Em seguida, tive uma passagem pelo Basquetebol onde participei em juvenis e cadetes. Só posteriormente optei pelo futsal. O meu primo o Óscar Pereira, também boavisteiro e treinador de futsal levou-me para o Carvalhido.
Pode dizer-se que começaste no Carvalhido?
Exactamente. Estive no Carvalhido um ano e depois passei para a Cerâmica de Valadares, ainda era júnior mas fazia parte da equipa sénior. Após duas épocas fui convidado para ingressar no Miramar, nessa altura era o ex-líbris da modalidade. Fiz grande parte da minha carreira nesse clube.
Nunca foste profissional de futsal?
Sempre optei pelos estudos como principal objectivo e o futsal foi sempre um prazer extra, embora tenha passado uma fase na qual treinei duas vezes por dia. Com esta perspectiva ingressei no Instituto D. João V, onde dava aulas e jogava futsal. Daí passei para a Fundação Jorge Antunes na tal fase mais próxima do profissionalismo e depois para o Módicus.
E terminas no Boavista…
Sim após vários convites apresentados durante anos, vim jogar para o meu clube de coração, onde decidi terminar a minha carreira como atleta.
Mas ainda com idade para continuar, porquê essa decisão?
Decidi ser a altura indicada, porque quis sair a bem e deixando uma boa imagem como atleta. Achei que era a altura correcta mesmo para o meu futuro pessoal.
Esta foi uma panorâmica de clubes. Pessoalmente o que temos a registar de mais significativo?
Fui internacional “A” e estive num Campeonato Mundial Universitário, representando a Selecção Portuguesa. Joguei também na Selecção Distrital do Porto, onde era o capitão. Fui o primeiro jogador a ganhar os três principais títulos nacionais, o Campeonato, a Taça de Portugal e a Super Taça. Claro que tive a sorte de estar em clubes que tinham oportunidade de lutar por esses títulos, mas não deixa de ser curioso ter sido o primeiro atleta a quem aconteceu esta situação. No cômputo geral, fui campeão várias vezes, ganhei Taças de Portugal, estive presente em várias final-four. Posso sentir orgulho na minha carreira.
A ÉPOCA PASSADA
Neste momento, sei que o Boavista te convidou para continuares como atleta e sei também, que tiveste um convite para continuares num clube de primeira divisão. Não seria mais bonito teres terminado na primeira divisão, em vez no Boavista que está na segunda?
Nunca distingui isso. Para mim era igual se o Boavista estivesse nesta ou noutra divisão mais abaixo. Eu nunca joguei futsal por vaidade. Ao ingressar no Boavista ainda mais senti isso. Foi uma forma de sentir e ver a apoiar as pessoas que me conhecem desde pequenino e que sempre me admiraram. Aproveito para dizer a todos os Boavisteiros que foi apenas um ano a jogar mas todos sabem que tem sido uma vida a apoiar.
Foi um enorme prazer e orgulho envergar esta camisola onde dei tudo o que podia e darei no futuro esteja onde estiver.
Mas foi uma época mais difícil que esperavas?
Não vou dizer que gostei de tudo. Tivemos ali alguns maus períodos, achei que o tratamento nem sempre foi o mais correcto mas tudo isso é passado e advém de algumas formas distintas de se encararem certos pontos. Não queria ser repetitivo, mas a lesão do Fabinho – que era um jogador preponderante na manobra da equipa – desanimou muito toda a gente. Durante o campeonato confirmou-se a falta da sua presença em campo. Chegamos a um período que todos nos mentalizamos que tínhamos que resolver as coisas sem ele. Depois tínhamos um plantel com um conjunto de juventude e veterania e foi necessário efectuar um trabalho para melhor adaptação. Foi uma época difícil e trabalhosa, sem dúvida.

O TREINADOR
Como surge esta surpresa, de passaras a treinador?
Eu já treinei os Juniores do Modicus, quando lá joguei como sénior e coordenei as camadas jovens do clube. Gostei muito e as coisas correram muito bem. Quanto agora, sou honesto, houve uma conjuntura que me agradou e uma vez mais porque me tocaram no coração e decidi aceitar, porque se trata do Boavista. Tinha determinado parar por uma época para separar o passado do futuro e por essa razão, não aceitei o convite para pertencer a uma equipa técnica de um clube da primeira divisão. No entanto, a forma como fui contactado pelo António Morais, pelo Alberto Melo e Carlos Faria, quase não deram alternativas de resposta. Sem separação de passado e futuro mas com toda a confiança abracei este desafio.
Porque razão irias parar, para além das descritas?
Foi muito tempo dedicado ao futsal, considerava que seria a altura de me dedicar mais à família e ficar mais em casa. Mas a maneira quase desesperada como o Alberto me pediu para tomar conta de uma equipa pela a qual tem muito carinho foi determinante para a minha alteração de projecto pessoal. Sei que ele apostou muito em mim, porque tinha muitos treinadores a oferecerem-se para essa equipa, mas sempre teimou em ser eu o escolhido.
Não resististe?
É muito difícil dizer que não ao Boavista. Aqui estava a dizer não ao Boavista, ao futsal e às pessoas que admiro. Eram muitas vezes não!

OS JUVENIS
Esta equipa tem no seu passado ganho muito. É uma grande responsabilidade?
É verdade! Eu gostava de pegar numa que nunca tivesse ganho e pô-la a ganhar, mas felizmente esta equipa é uma vencedora. A minha missão é melhorar a sua competitiva e formação, porque
há sempre algum a melhorar em todos os conjuntos.
Conheces os miúdos?
Mais o Miguel Ângelo, porque fez parte da equipa de seniores. Os outros, conheço de os ter visto jogar como espectador Boavisteiro que sou. Vi jogos dos juvenis, como vi jogos de outros escalões.
Sentes-te com vocação para treinar juventude?
Sinceramente acho-me mais preparado para treinar juniores ou seniores e especialmente seniores. Isto devido às minhas exigências, mas claro que me adapto muito bem às realidades que encontro.
Uma nova experiência?
Eu nunca aceitaria treinar neste momento uma camada tão jovem, mas devido aos atletas em causa, às pessoas que mo pediram mas acima de tudo, pela dificuldade que é depois de estar lá dentro do Boavista não conseguir ajudar (no que posso e julgo saber), porque senti e sei, que em todos os colaboradores (massagistas, treinadores directores responsáveis pelos escalões, etc)
existe uma paixão enorme por fazer do Boavista a nossa vida.
Encaro este compromisso com muita humildade, seriedade e prazer.
Quais os objectivos?
Os objectivos para com estes jovens, passam por seguir o trabalho realizado até aqui pelos técnicos anteriores, tentando aproveitar tudo o que de bom foi feito (que eu acho que foi muito), e seguir os trilhos do sucesso desportivo. Felizmente neste clube o discurso que passa por toda a gente incluindo atletas é o da vitória. O que eu pretendo no entanto, é que os jogadores não queimem etapas na sua formação, principalmente a nível humano (pois as vitórias nestes escalões por vezes originam a isso) no seu aspecto psicológico.
O caminho está delineado e os objectivos destes rapazes também, ou seja
isto é como uma viagem de longo curso em que a rota está traçada e os motoristas vão se revezando tendo sempre os mesmos princípios que é o de levar a bom porto todo este projecto.
A equipa técnica está formada?
Neste momento conto com o João Marques. Depois veremos se precisamos de mais algum elemento, mas para já, somos os dois.

FORMAÇÃO
Como treinador de formação o que é mais importante, ganhar títulos ou formar atletas?
Num clube como o Boavista, habituado a vencer e a formar, as vitórias são importantes e para os jogadores ganhar também faz parte da sua formação como atletas ambiciosos. Mas a formação Tem que dar frutos nos seniores, não nos iniciados ou juvenis. Não me adianta nada ter campeões nos juvenis e não aproveitar ninguém para os seniores. Eu costumo dizer que mesmo os milionários que têm os Ferraris e Porches, os têm que substituir ao fim de cinco anos, porque as máquinas têm desgaste. Tenho conhecimento de “carradas” de campeões de juniores que quando chegam aos seniores se perdem, ou porque lhes falta a disciplina, métodos de trabalho, poder de sacrifício, humildade, etc… tudo isso, porque chegam aos seniores, já convencidos que sabem tudo e que já nada têm para aprender. Estes atletas, logicamente perdem-se!
Neste escalão de juvenis é preciso que tenham a consciência que estão em formação e que há equipas a treinar como eles, para lhes ganharem. O que é preciso é subir patamares, porque ainda há muito patamares para subir até ao topo.
Como analisas a formação do Boavista?
Não há um fio de jogo constante até aos seniores que se identifique com o sistema de jogo adoptado no escalão máximo. A formação está dividida em muito escalões quase independentes, em que cada um tenta fazer o melhor para o seu escalão, tenta ser campeão! Temos que formar uma pirâmide inter-ligada e definida. Mas eu vejo tanta gente boa, lutando todos pelos mesmos objectivos, que considero que deveríamos estar mais ligados para alcançarmos os nossos objectivos que é melhorar a formação do Boavista futsal.
Qual a diferença que vês em treinar seniores e formação?
Nos seniores ao treinar posso adoptar qualquer um modelo de jogo. Vou poder utilizá-lo muitas vezes, pelo contrário nos juvenis tal não é viável porque poucas vezes vamos encontrar equipas que joguem um futsal como eu acho que deve ser jogado. Neste caso, temos que nos adaptar para vencer o jogo sem impor muitas vezes o método que desejávamos, as equipas vão jogar fechadas sem nos deixar jogar o nosso jogo. Nos seniores há mais facilidade de impor um modelo de jogo determinado por nós.
Nos jovens o presente é mais importante que o futuro, a vitória é mais importante que evoluir. O que é um contra censo.
O FUTSAL
Um homem de futsal como és há muitos anos, como vê a modalidade na globalidade?
No respeitante à qualidade, registo o aparecimento de alguns jovens muito evoluídos, porque chagaram aos seniores e só jogaram futsal. Isso é uma vantagem enorme. Também me apercebo que existe muita a gente a gostar e jogar futsal. Verifico isso nas escolas, onde não há modalidade mais jogada nas escolas que futsal. Como negativo, vejo a estagnação do futsal provocada pela Federação. Não concordo que se faça uma liga independente da Federação, como muitos defendiam, mas também acho que a Federação não pode fazer estagnar a evolução da modalidade, como actualmente acontece.

O FUTURO
O que mais te surpreendeu nesta tua primeira apresentação aos jovens?
O seu método de trabalho, o seu amor ao treino, porque demonstram que estão habituados a trabalhar e estão ali para sugar todos os conhecimentos que lhe apresentam nos treinos. Isso é muito positivo e importante.
Para terminar… uma frase pessoal..
Força Boavista! Aproveito para desejar muita sorte a todas as modalidades AMADORAS onde eu sei que o sentimento é o mesmo pelo BOAVISTA.
Entrevista de Manuel Pina

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

RICARDO... CORAÇÃO DE PANTERA


Ricardo é dos membros dos Panteras Negras, mais conhecido por todos pelo nome de Gaia. Foi na condição de adepto indefectível do Boavista que conversamos com ele.
Esperávamos um homem eléctrico, apareceu-nos um homem ponderado que muitas vezes pensava e repensava as suas resposta, acima de tudo para não provocar feridas internas.
O HOMEM
Ricardo que idade tens e há quantos anos és sócio do Boavista?
Tenho trinta anos e sou associado há vinte e três.
Como aconteceu a tua ligação aos Panteras?
Entrei em noventa e oito, numa fase em que havia algumas divergências internas, motivadas por pontos de vista diferentes. Nessa altura ainda não era uma claque organizada, não tínhamos fachas, por exemplo. As deslocações eram feitas com o apoio do Bingo, através do senhor Silva. Eu quando passei a pertencer à claque decidi fazer uma facha que dizia “PN Gaia” levava-a para todo o lado e daí ter nascido o nome com que sou conhecido, o Gaia.

O PANTERA NEGRA
Actualmente os PN Gaia, são um núcleo?
Pode dizer-se que sim! Somos um grupo de sete/oito sócios de Gaia que apoiamos o Boavista em todo o lado. O nosso lema nos “PN Gaia” é sempre presentes!
Vocês marcaram presença durante toda a época também nas Amadoras. Mas numa fase, pareceste sentir-te um pouco isolado. Estou certo?
Os Panteras têm vários núcleos e era bonito estarmos sempre todos representados, mas como é lógico isso nem sempre é possível isso. Quando se passou essa fase, estávamos no auge das lutas em várias amadoras, o futsal Juvenil lutava pelo título, os seniores lutavam pela permanência, o andebol juniores lutavam pela subida e Voleibol precisava de apoio para se mater no campeonato calmo. O meu desabafo foi mais ela pressão global das provas que uma critica. Serviu para puxar um pouco a malta para um último esforço do conjunto. Agora mais calmo, acho que todos os Panteras deram o que puderam pelas modalidades, enfim pelo Boavista. Não há melhores ou piores, somos todos Panteras Negras, somos todos do Boavista.
Essas presenças constantes provocam um encargo pesado?
Costumo dizer que é preciso apertar o cinto durante a semana para o puder alargar mais ao fim de semana.
Planear as presenças também não é fácil?
Pois não. Por exemplo o Futebol Feminino, cujos jogos coincidem muitas vezes com o Futebol sénior e não podemos estar nos dois lados em simultâneo. O andebol júnior, teve um apoio nesta última fase porque o futebol sénior já tinha terminado, porque os jogos do andebol também são aos Domingos… queria ver tudo, apoiar todos, mas isso é impossível.
É sinal que o Clube continua grande?
É verdade. O futsal sénior tem mais apoio porque geralmente joga ao Sábado e beneficia disso.
O FUTEBOL
É lógico que te preocupes mais com o futebol. Como vês a actual situação?
Atravessamos um período bastante complicado, talvez mesmo o período mais complicado da vida do Boavista. Vamos esperar pela assembleia de dia dezasseis para ver se somos mais esclarecido sobre a realidade e depois esperar que melhores dias apareçam.
Tens esperança na assembleia?
Tenho. Pelo menos para que quando ela acabar, todos sabermos um pouco mais do nosso clube. Neste momento todos falam, todos discutem, todos apresentam dúvidas e ninguém sabe quem tem razão. Precisamos de saber o que se passa no nosso Clube. Porque estas dúvidas dividem a família Boavisteira e nós precisamos de muita união. Só unidos venceremos.
O Boavista inscreveu uma equipa no Distrital. Qual a tua opinião?
Estou de acordo! É preciso jogar pelo seguro.
Mas muita gente defende que devem jogar as duas equipas em simultâneo. Isso confunde-te?
Não. Se as duas defenderem as cores do Boavista apoiarei as duas, porque estamos a salvaguardar o futuro do Boavista. O nome do Boavista FC é que nunca poderá acabar! Esse nome é que eu seguirei toda a minha vida. Para mim não conta a divisão em que se joga conta é o Emblema!
Se fosses Presidente do Boavista o que fazias?
Ora bem isso nunca acontecerá, porque o meu lugar no Boavista é no topo sul e é lá que eu pertenço e quero continuar.
Está bem. Mas Senta-te na cadeira presidencial em pensamento…
Não consigo responder, porque não sei o que se passa lá dentro e com estas questões em aberto não sei o que posso responder. Olhe se me saísse o euro milhões as coisas ficavam mais fáceis.
O que mais te agradou durante a época desportiva?
Gostei de acompanhar os jogos de futsal e guardo duas recordações no meu quarto, que é um pequeno museu. São duas simples t-shirts que os jogadores assinaram e me ofereceram. Se for à internet pode ver o meu museuzinho. Claro que gostei muito da conquista do campeonato pelos Juvenis de futsal e pela subida dos juniores do andebol. Foram momentos inesquecíveis.
Temes pelo futuro do Clube?
Não, o Boavista nunca acabará, o Boavista é um clube muito grande! Tem centenas de atletas, se há coisa que não mete medo é o Boavista acabar!
Quando esperas ver o Boavista a subir para o seu lugar?
Agora fala-se na tal indemnização que demorará sete anos… por isso espero que seja aí.
Não é tempo a mais?
Se calhar é a razão de inscrever essa equipa nos distritais para daqui a seis anos poder ter ultrapassado a equipa actual que pertence à sad e depois com esse dinheiro estabilizar o clube e atacarmos a subida para o nosso lugar.
Admira-me ver um homem de sangue quente responder com essa frieza…
Não há nada a fazer… o que se pode fazer ou dizer? Nós estivemos nos bons momentos, porque não havemos de estar nos maus momentos?
Os Panteras não abandonam o Boavista?
Não. Nós temos a nossa importância dentro do clube. Olhe, curiosamente agora na segunda e nos jogos fora de casa vão mais Boavisteiros que na primeira Liga. Na primeira liga se não eram os Panteras negras o Boavista não levava ninguém nos jogos fora.
Nos jogos fora tem havido muita violência. Vós sois mal recebidos… ou assim é que dá gosto?
Isto é fácil de explicar. O Boavista é um clube muito odiado. É muito fácil ser adepto em casa, mas fora de casa é terrível e muitos que nos criticam nunca foram ver um jogo fora de casa. Ver um jogo com o Braga ou Guimarães no Porto não tem nada a ver com um jogo em Braga ou Guimarães. Eu costumo dizer que um Boavisteiro é Boavisteiro a cem por cento e uma pessoa sente tantos insultos e ofensas, mal chegamos a esses campos.
Em Lousada foi o cúmulo?
Mal lá chegamos, vieram dois directores que nos colocaram numa bancada dizendo que estivéssemos à vontade, que podíamos colocar as fachas e depois viu-se o que aconteceu. Na hora da verdade, tudo não passou de uma armadilha.
A vossa presença tem influência nos resultados?
Sem dúvida alguma que se nós não estivéssemos presentes em alguns jogos desta segunda B, os resultados seriam bem piores. Nós representamos a força extra que todos os jogadores gostam de sentir.
Sentes esse reconhecimento dos jogadores, quando se cruzam contigo na rua?
Esse afecto nota-se mais nesta divisão em que eles são mais humildes e cumprimentam-nos e perguntam como estamos. Na realidade neste campeonato há jogadores que nunca tiveram uma claque pelo seu lado. Falo com alguns via internet, somos mais próximos.
OS PANTERAS
Pronto, recusas ser Presidente e chefe da claque dos Panteras.
Não! Também não quero! Eu não sou o chefe e é só problemas a cair em cima de mim… Ó Gaia isto, ó Gaia aquilo! (rindo-se) imagine se um dia fosse. Falando mais a sério nos Panteras Negras somos todos chefes somos todos iguais. Claro que temos dois elementos que controlam as coisas mas somos uma família com regras, mas com igualdade entre todos.
Explica-me, como se organiza uma deslocação?
Os dois responsáveis é que decidem horários e aquisição de bilhetes etc… na primeira Liga os bilhetes chegavam ao Bessa e havia um protocolo entre os clubes para esse envio e para os preços. Tínhamos preços mais baixos nos jogos fora, mas depois havia uma retribuição quando jogassem em nossa casa. Nesta divisão nada disso acontece. Agora até vamos de carro e já nem alugamos transporte. Chegamos lá e um dos chefes, ou Zé Luís ou Sousa vão comprar os bilhetes para todos.
Não queres ser Presidente, não queres ser chefe. E nas Panteras até quando queres estar?
Até morrer se for possível! Até morrer.
Então nunca vais passar para a bancada calma?
Só se for com a idade… mas o meu desejo é ficar sempre na bancada dos Panteras.
Já és pai?
Sou, tenho uma filha com três anos, que já veio ao Bessa ver jogos.
Parece-me que queres falar em alguma coisa que te incomoda. O que é?
É uma coisa que até tenho vergonha de ver no meu clube. É o facto de o Boavista não ter uma loja com material alusivo ao clube para poder-mos comprar e oferecer a amigos e fazer divulgar o clube. Muitas vezes estou na pantera e perguntam-me onde é a loja do Clube? Eu fico com um aperto no coração e invento uma desculpa.
Como explicas, essa lacuna?
Não há simplesmente explicação possível. Não pode ser naquela loja? Arranja-se outro espaço. Num estádio com trinta mil lugares não faltam é lugares para se fazer uma loja. Um clube que vai fazer 107 anos não tem uma loja oficial. Qualquer clubezito tem uma tendinha e nós com 107 anos não temos nada. A melhor loja que o Boavista teve foi no pavilhão Acácio Lelo. O Departamento de markting do clube foi sempre a pior coisa que o Boavista teve.
Tenho um amigo Russo que notou isso quando cá esteve. Disse-me uma camisola do Porto ou do Benfica compra-se em qualquer aeroporto do mundo, mas do Boavista não.
Pois é isso, mas está a ver nem no Bessa há! Não entendo, nem aceito!
OS BLOGS BOAVISTEIROS
Vamos às despedidas. Queres enviar uma mensagem para alguém?
Aproveito para saudar o Blog das Amadoras. Era o Blog que faltava. Para mim o site do Boavista é o Blog das Amadoras. O site do Boavista é a imagem do clube. Eu vejo alguns sites de clubes pequenos que nem se comparem em superioridade ao do Boavista. Ao Blog das Amadoras eu vou lá duas três vezes por dia, porque está sempre actualizado. Dou-lhe os parabéns.
Agradeço!
Nesse aspecto o Boavista está bem servido de Blogs. O que achas?
É a verdadeira paixão ao Boavista. Quando eu e um amigo abrimos o meu Blog foi na condição de o manter sempre actualizado, só assim tem razão de existir. Não é abrir um Blog postar lá uma notícia de dois em dois meses.
O teu é?
O Panteras Negras Gaia. Somos dois amigos, andamos atrás de noticias nesta altura quase não há noticias vou colocando noticias antigas para manter actividade.
Amanhã (a entrevista foi feita no Sábado) o Boavista faz 107 anos. O que sentes?
Indescritível pertencer e amar um clube com tal passado. Nestas datas quando a bandeira sobe no mastro nem sei explicar o que sinto.
Vais estar lá?
Claro! Sempre Presente.
Entrevista de Manuel Pina

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

BOXE - JORGE JEREMIAS EM FAMÍLIA

Jorge Jeremias é um antigo pugilista do Boavista, que optou pelo profissionalismo e por isso não continua inscrito pelo Clube, sendo treinado pelo trio de treinadores axadrezados, Carlos Caldas, Pedro Barbosa e Pinto Lopes.
No passado Domingo, conquistou o título mundial na categoria de TWBA.
Uma semana passada e fomos até sua casa para ouvir o palpitar de um Campeão. Encontramos um homem calmo, ponderado de poucas palavras mas sempre pronto para o diálogo. Enquanto, os seus dois rebentos, orgulhosos do papá, brincavam na varanda.

O INÍCIO
Quando começaste a jogar Boxe?
Com dezasseis anos, no Praça da Alegria no parque das Camélias.
O boxe nasceu contigo, ou foi uma descoberta pessoal?
Eu com nove anos comecei pelo atletismo e depois experimentei o futebol, como qualquer jovem fazia.
Situemo-nos no tempo. Com que idade jogaste e de onde és natural?
Sou natural de Massarelos e viva em Miragaia no Passeio das Virtudes. Joguei até aos quinze/dezasseis anos. Comecei no FC Foz e cheguei até ao Leixões.
Porque não continuaste?
Cedo percebi que no futebol é preciso ter sorte e tudo, pelo menos naquela altura, passava por ter uma boa cunha. Como não era o meu caso, decidi ficar por ali.

O BOXE
Desistes do futebol e… porquê a opção pelo Boxe?
Eu já era um bocado traquina… e fui experimentar o Boxe. Cheguei, vi, experimentei e fiquei! Descobri que era o meu desporto, porque é um desporto individual em que o nosso futuro é fruto da nossa capacidade, trabalho e dedicação. No Boxe, somos aquilo que realmente construímos durante a nossa carreira.

O BOAVISTA FC
Como se dá a passagem do Praça para o Boavista?
Eu no Praça da Alegria nunca combati. O treinador era o Pedro Sá, que por sua vez foi convidado pelo Senhor Pinto Lopes para ir para o Boavista e eu acompanhei-o. Fiquei toda a minha carreira de amador no Clube.
Ainda é (informaram-me) o atleta que conquistou mais títulos… lembra-se de alguns?
Eu como Amador ganhei tudo o que havia para ganhar. Fui campeão Nacional em sessenta e dois quilos e meio. Também ganhei o título Nacional em em sessenta e sete quilos e em setenta e um quilos fui campeão Nacional durante seis anos consecutivos. Fui sete vezes campeão regional. Conquistei cinco Taças de Portugal. Pela selecção Nacional, conquistei três medalhas de bronze e uma medalha de ouro.
Sempre ligado aos homens do Boavista?
Sempre ligado a eles e sempre ligado ao Clube, como me continuo a sentir, só não tenho o seu emblema porque deixei o amadorismo.

O PROFISSIONALISMO
...Algumas pessoas desconhecem, mas quando se opta pelo profissionalismo, passamos à condição de individuais, podemos continuar a treinar nos clubes mas a competir temos que o fazer individualmente. Os clubes não têm capacidade para abraçar o profissionalismo do Boxe, já sabe Deus para o futebol… mas tirando isso estive sempre ligado ao Boavista. Quem me "fez" sempre os cantos (apoio técnico, nos combates) foi o Carlos Caldas, o Pinto Lopes e o Pedro Barbosa, todos treinadores do Boavista. Eu vou ao Bessa várias vezes, treino com os atletas do Boavista, eles treinam comigo…
Como nasceu a ideia do profissionalismo?
Eu tinha ganho tudo como Amador e naturalmente a minha ambição pessoal, fez-me tentar vencer novos desafios. Quis experimentar novas sensações. Falei sobre isso com o Pinto Lopes e ele concordou com a ideia. E deixei o amadorismo.

O TÍTULO MUNDIAL
Chegar a este título, foi um objectivo ou aconteceu como corolário lógico de uma evolução?
Primeiro de tudo temos que estar rankeados (tabela oficial do Ranking Internacional) eu tenho ali a minha caderneta profissional que prova que eu já não perco um combate desde 2005. Todos os combates nos dão pontos nesse ranking e depois de termos uma pontuação que nos permita, podemos candidatarmo-nos a um título, deste género.
Foi por isso, programado?
As portas já estavam abertas ao ter vencido o Daniel Suco no Casino de Monte Gordo. Só que organizar um programa como este é uma coisa cara e é difícil encontrar alguém para o organizar. Para agravar vivemos uma crise mundial que afasta muito os possíveis patrocinadores. Tendo tudo isto em conta, tive que ser a organizar este evento.
Mas essa posição não te reduziu a concentração no combate e o tempo de treino?
Nesse aspecto tive a grande ajuda da minha mulher, que organizou tudo ao pormenor e aquém devo muito nesse aspecto organizativo. Confesso que no início pensava que iria despender energias e concentração para ajudara organizar o programa. Mas no final, acho que acabou por me ajudar, porque não tinha tempos livres, como tal não pensei demasiado no combate e não fui assaltado mentalmente por aquele nervosismo que sempre acontece. Gastei tempo na divulgação, a colar cartazes a tentar apoios e quase não pensei no combate.
Agora com o título de campeão no bolso, como se processam as coisas, quando é obrigado a colocá-lo em disputa?
Eu agora tenho seis meses para ficar com o título. Isto é, se amanhã me propuserem a disputa do título, eu tenho o direito de aceitar ou não. Se no final dos seis eu não o quiser defender… ele ficará entregue a quem se quiser candidatar. Mas é obvio que quando se aproximar esse prazo o irei defender. De qualquer modo este título, durante este período é exclusivamente meu e a minha conquista ficará registada para a história deste título. Este cinto ficará sempre comigo. É como a Liga dos Campeões. Campeão é Campeão!
O FUTURO
Por quanto mais tempo teremos o Jeremias a lutar?
Eu sinto-me bem. Tenho o apoio dos mais jovens, treino com eles e por isso não sei.
Pensar em acabar é difícil?
O Boxe é uma paixão, mas é igualmente um vício e por isso ninguém pensa em terminar. Mesmo quando acabar como atleta não abandonarei o Boxe, há sempre que fazer, há sempre forma de continuar ligado a esta arte. Para além disso continuarei a treinar, porque essa preparação ajuda na saúde e por isso nunca abandonarei o treino.
Por falar em treinos. Posteriormente vai nascer um treinador?
Actualmente eu já dou aulas, já ajudo atletas novos, por isso essa situação será normal de acontecer. Penso, no entanto, competir por mais dois anos.
Mais dois anos… que objectivos?
Penso defender este cinturão e atacar outro diferente.
Desculpa a ignorância de um aprendiz. Há diferença entre este título o que o Nuno Cruz se candidatou?
Sim há uma diferença. O título hispânico é disputado por atletas oriundos de países de língua hispânica, consideradas as línguas Portuguesa e Espanhola. O Nuno já venceu também, este título de TWBA.

A FAMÍLIA PESSOAL
Como é que o pai e marido, luta e olha para a bancada e vê os filhos e a mulher. Isso não o atrapalha?
Não pelo contrário! Como já disse eu treino muito e sinto-me preparado para o jogo. A presença deles só me entusiasma e quando olho para eles isso dá-me uma força enorme. Eles apoiam, eles dizem que o pai é o melhor do mundo (rindo-se).

A FAMÍLIA DO BOXE
Quando assisti à gala realizada no Fontes pareceu-me que as pessoas do Boxe, são um conjunto que segue todos os espectáculos. Existe a “família do Boxe”?
É verdade as pessoas andam de um lado para o outro. Eu tenho um grupo de apoio muito grande. Como já pratico há vinte e três anos a minha claque vai de jovens a Senhoras e homens de várias idades, mas que me dão um apoio incondicional.

A ACTUALIDADE
O aparecimento da Arena de Matosinhos ajudou o Boxe?
Sim, porque se têm realizado vários eventos. O César é um homem que gosta da modalidade e faz com que isto cresça e isso é positivo para a modalidade.
Comparando estes vinte e três anos. Qual a tua opinião?
Evoluiu nuns aspectos, diminuiu em outros. Neste momento há mais eventos, mas há menos apoios.
Por exemplo, eu há uns anos atrás era muito mais apoiado, existiam os subsídios da Federação, agora tem que ser mais por amor á camisola.
Esta pergunta é para mim, sacramental. Nós os de fora, víamos os Pugilistas como gente (quase) marginal, mas vocês transmitido uma ideia diferente…como vês este assunto?
Por isso lhe chamam a Nobre Arte. Nós lutamos dentro do ringue mas utilizando apenas as regras do jogo de Boxe, como desporto que é. Na luta tentamos dar o mais possível e receber o menos.

DESPEDIDAS
Alguma mensagem?
Queria agradecer a todas as pessoas que têm estado comigo. Ao Senhor Caldas, ao Pedro, ao Pinto Lopes, aos atletas que me ajudam nos treinos e a toda a família Boavisteira.
Dizer a todos que é com muita mágoa que vejo as injustiça que estão a fazer ao Boavista. Pode ser que um dia mais tarde se reponha a justiça.
Se voltasses vinte e quatro anos atrás, o Jeremias era futebolista ou boxista?
Se calhar era futebolista, olhando à possibilidade de ganhar dinheiro, por paixão por prazer, por orgulho… seria o Boxe. Se calhar a dúvida não está nas modalidades, mas no país que somos e temos.
Aqui, neste país, só conta o número um! Há o campeão e mais ninguém.
Entrevista de Manuel Pina